por Crisolino Filho
É muito comum ouvir dizer que o mundo atual está perdido, que nunca se viu tanta confusão, ainda mais depois da pandemia do coronavirus. Para compreender essa confusão é importante levar em consideração algumas variáveis: o tamanho do Estado ideal, atitudes político/ideológicas, aumento da população no planeta, hoje em torno de 07 (sete) bilhões de pessoas – dobrou em 30 anos. Fatos como a fome e degradação ambiental também aceleram as notícias desagradáveis publicadas ou postadas na mídia todos os dias. No entanto, o mais importante de tudo é a fé em Deus. Essa bagunça do mundo não é de agora. Não, não é. Como exemplo, o primeiro fraticida da humanidade ocorreu no início de nossa era, quando Caim, por inveja matou o irmão Abel.
Posteriormente o homem achou que era onipotente demais e tentou construir uma torre para chegar ao céu, e deu no que deu. A Torre de Babel não chegou a um bilionésimo da altura desejada, ruiu logo. Sua edificação foi uma confusão danada. E põe confusão de línguas nisso. Em outro tempo Deus condenou a mulher de Ló por desobediência, transformando-a em uma estátua de sal, por teimar e por insistir em virar o rosto para trás e ver o que restara de Sodoma e Gomorra. A palavra sodomia vem daí. As duas cidades ficaram estigmatizadas a um erotismo sem limites.
Lembremos da Guerra dos 100 anos, da Inquisição, das ditaduras, da pirataria em alto mar, dos bárbaros, da exterminação de índios nas Américas, das duas grandes guerras mundiais, do holocausto de Hitler, da peste negra, da gripe espanhola, da escravidão e outras tantas tragédias.
O grande filósofo francês Jean Jacques ROUSSEAU (1712-1778), que entendia muito do espírito humano, escreveu em 1753 em sua principal obra “Contrato Social” que, “o Estado ideal é aquele em que é ressuscitado por um acordo comum entre seus membros”. Somente um estado ideal será capaz de destituir o homem de cometer atrocidades. Não devemos venerar a utopia, mas se esse Estado ideal não conseguir extinguir os absurdos, deve-se no mínimo reduzi-los significativamente. Finlândia, Noruega, Canadá, Suécia, Nova Zelândia e Islândia são exemplos de estados ideais.
Escreve ROUSSEAU: “…Os frutos da terra pertencem a todos nós e a terra propriamente dita, pertence a ninguém. Mas cada um ficou com seu pedaço da terra e o resultado desta usurpação foi a hodierna civilização, separação de classes, servidão e escravidão, guerras, roubos e leis, muitas leis, para proteger quem mais possuía e a corrupção política! Hoje o veneno da civilização está no nosso sangue e não podemos mais voltar atrás”. Se este grande filósofo francês escrevesse hoje sua obra, estaria de acordo com o que viveu em sua época e o com o que se vive na atualidade.
Outros pensamentos de uma das mentes mais brilhantes da humanidade são os de Thomas Jefferson (1743-1826), terceiro presidente e autor da Declaração da Independência dos Estados Unidos, em 04 de julho de 1776. Ele lançou as bases de uma experiência política com repercussões ainda em curso tanto na Europa quanto no Brasil.
Questionado sobre qual maneira deveria ser empregado o dinheiro público, Jefferson disse: “Sou por um governo rigorosamente frugal e simples, que aplique todas as possíveis poupanças das receitas públicas no abatimento da dívida nacional, e não na multiplicação de funcionários e vencimentos com o mero objetivo de conquistar partidários. O público jamais será convencido a acreditar que a nomeação de um parente foi feita com base apenas no mérito, sem influência das opiniões familiares. Tampouco pode aceitar cargos cuja distribuição confiou a seu presidente para fins públicos sejam divididos como propriedade familiar.”
No Brasil, país de origem ibérica/portuguesa, ainda persiste a cultura do patrimonialismo, onde não há distinção entre o que é público e o que é privado. A diferença que os mandatários fazem é a de que, ou é meu ou é do Estado, e se for do Estado, usa como se de sua família fosse. A idéia de que público é aquilo que pertence à toda população civil organizada não é parte da cultura política brasileira.
Assim concluímos que o mundo não está perdido, ou que está pior do que nos anos passados. Os povos, soberanos que são vivem de acordo com a experiência política de cada nação. Se existe um contrato social que funciona, menos problema, menos sofrimento, menos violência, menos guerra e menos pobreza.