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Morada do Acampamento – parte 02

FOTO: Antônio Cota-Arquivo/DRD

Vamos anotar novamente sobre a necessidade de duas benfeitorias, úteis e necessárias, referentes ao trânsito da cidade, que é a instalação de semáforos inteligentes na rotatória que dá acesso ao bairro Altinópolis, em frente a um supermercado. Como ali é rota de entrada para quem chega em GV pela Rio Bahia, e trajeto para os bairros Lagoa Santa, Santo Agostinho, Grã-Duquesa, Esperança e o final da avenida Minas Gerais, nas horas de pico a densidade de veículos é absurda, e se transforma num caos quando os condutores, vindos de diversas direções, definem a preferência do tráfego.

Pode se considerar que a vinda dos engenheiros americanos da construtora Morris Knudsen, para mudar o trajeto da linha férrea, com a consequente construção do Acampamento, juntamente com o CICLO DA MICA nos anos 40, são os embriões que levaram o valadarense a emigrar em massa para os Estados Unidos da América. É provável que tudo começou aí, quando alguns nativos passaram a ter contatos com a cultura, a língua e as novidades tecnológicas trazidas de um país que se tornava muito rico e em franca expansão econômica, o que despertou a curiosidade de alguns e a consequente vontade de conhecer outro mundo, fato histórico que fortalece essa teoria.

A cerca de arame trançado (tela) que circundava o Acampamento (denominado antes de TELA e depois de Morada do Acampamento), se tornou uma área restrita. Não que fosse proibida ali a entrada de outra pessoa que não fosse imigrante, mas existiu certo controle. Isto não significou que o valadarense não pudesse entrar lá, entrava, principalmente a garotada da época que teve o privilégio de conviver com filhos dos gringos, foram os primeiros a emigrar no final dos anos 60

Muitos jovens na faixa dos 10/16 anos, que fizeram amizades com os filhos dos engenheiros americanos frequentaram lá. Se impressionavam com a organização dos estrangeiros, com os eletrodomésticos importados, com as casas e os parquinhos infantis. Ali bebiam Coca-Cola e comiam presunto em lata importado, da marca Swift, sem dúvida, uma novidade. No entanto a maioria dos americanos foi embora sem aprender português. Mesmo assim não deixaram de passear ou frequentar estabelecimentos comerciais de GV. Era comum vê-los no Bar Tiradentes, onde funcionou por muito tempo o Banco Bamerindus e depois o banco HSBC, ou no bar do Chaim Salomão, na parte de baixo do Minas Clube. Esses dois bares eram considerados bares de elite, bares “bacanas”. 

Na rua Bárbara Heliodora, entre a avenida MG e a Peçanha, onde está hoje uma loja de roupa de cama, mesa e banho, funcionou uma Pastelaria, onde seu dono “depenava” os americanos no jogo de Pôquer que tanto apreciavam, não ganhavam uma do pasteleiro. O segredo de tanta sorte? Simples! Os americanos trocavam ideias e combinavam as jogadas em inglês. Como o dono da casa de pastel tinha morado nos Estados Unidos, e falava inglês fluentemente, detonava os gringos sem piedade, já que não sabiam desse detalhe.

Até luta de boxe trouxeram para GV. Um belo dia os gringos resolveram promover  aqui uma luta. Armaram um ringue bem no centro da praça da Estação, provavelmente onde está hoje aquela locomotiva (Maria fumaça). O embate se deu entre um americano de nome “LEONEL” e o valadarense “JOÃO MORAIS”, um simples carregador de malas, de nome homônimo de um conhecido advogado e político da cidade. Não precisa imaginar, aquele pobre carregador/lutador apanhou como nunca, mas fez a festa e a alegria da multidão, que pela primeira vez assistiu um combate promovido por americanos.   

Praticamente todo engenheiro da Morrison tinha seu automóvel “made in USA”, claro, como a maioria que já circulava por aqui. Sempre progressista, Valadares já contava naquela época com revendedores Chrysler, Chevrolet e Ford, que comercializavam carros Mercury Monterrey e Land Rover, além dos ingleses Austin e Morris. O braço automotivo da IMAPEBRA, empresa de serraria local, comercializava aqui os famosos Studbaker.

Como se vê os EUA têm um pé na história de GV. Dos valadarenses pioneiros que emigraram, alguns voltaram, outros permaneceram por lá. Com o passar dos anos e o aumento do fluxo de emigrantes, a cidade dependeu por vários anos do envio da moeda americana, hoje nem tanto.


(*) Crisolino Filho é escritor, advogado e bibliotecário | E-mail: crisffiadv@gmail.com | Whatsapp: (33) 98807-1877 | Escreve nesse espaço quinzenalmente

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