Eu trabalho na mesma empresa há mais de uma década e é bem provável que fique por lá mais algumas, até me aposentar. Neste tempo, tenho a felicidade de acumular bons amigos, com quem compartilho rotinas, celebro conquistas, tomo conselhos, convivo após às 18h. Parte importante deles eu conheci logo nos meus primeiros dias com o novo crachá.
Quando tomamos posse, é de praxe participarmos de um treinamento inicial de uma semana na sede da firma, em Fortaleza. Em 2013, nos vimos lá: eu, mais um mineiro que conheci a caminho do Ceará para esse encontro, uma capixaba, três baianos, dois pernambucanos e um potiguar.
Olhando agora para trás, é até difícil entender como a gente se aproximou tanto com apenas cinco diazinhos de convivência. Entre uma palestra e outra no horário de expediente, entre uma cerveja e uma outra logo depois, percebemos uma feliz e natural identificação.
No retorno às nossas unidades e com o início do trabalho real, a gente passou a se falar diariamente. Alguém enviou um e-mail para contar as novidades e, sabe-se lá por que cargas d’água, cunhou o vocativo “Galera Malvada”. Pronto, assim, meio do nada, ficou batizado aquele grupo interestadual de amigos. Que de maus não tinham nada – muito, mas muito mesmo, pelo contrário.
À exceção de mim, os outros oito faziam atividades parecidas e nos convertemos em uma equipe de suporte bem legal. Narrávamos as primeiras experiências, tirávamos infinitas dúvidas. Também conversávamos amenidades, a turma é realmente gente boa. No final dos primeiros anos, fizemos até amigo oculto com sorteio virtual e enviamos presentes típicos das nossas regiões.
Quando um de nós recebeu a oportunidade de substituir o chefe e trocou seu cargo na assinatura do e-mail por um superior, ainda com a inscrição “em exercício”, fez questão de que a primeira mensagem fosse enviada aos Malvados. Comemoramos juntos. Virou tradição, fazemos isso até hoje.
Aos poucos, todos foram promovidos – e os primeiros e-mails com as novas funções sempre foram trocados entre nós. Inclusive o meu, quando desci um degrau e retornei a um cargo anterior, mas por vontade própria, para voltar à minha terra depois de anos fora. Os amigos celebraram comigo minha decisão.
Aquela formação completa nunca mais se reviu e dificilmente vai se reencontrar. De vez em quando, alguns de nós se esbarram em viagens a trabalho e é sempre uma festa. No ano passado, juntamos uma parte da turma no litoral da Bahia para comemorarmos dez anos de amizade. As famílias presentes, crianças, foi lindo.
Não temos nenhuma foto de todos juntos naquela semaninha em Fortaleza, uma pena. O mais próximo disso é uma imagem com exatamente nove pessoas brindando – oito de nós e um outro aleatório de quem ninguém mais teve notícias. Resolvemos isso com uma montagem meio tosca inserindo o rosto do amigo ausente no lugar do rapaz com quem perdemos o contato. Nada pessoal, que fique claro – só talvez um pouquinho, digamos, malvado. É a nossa foto oficial.
A empresa é grande, as trajetórias pessoais dentro dela vão sendo construídas nos seus próprios ritmos, para cima, para baixo, para o lado. Na direção que for, a história de cada um de nós sempre vai ter um pouquinho dos outros. Ótimos colegas, grandes amigos. Meus Malvados favoritos.
(*) Mineiro, jornalista e mochileiro.
Já rodou meio mundo e, quando não está vivendo histórias por aí, está contando alguma. Ou imaginando, pelo menos. É um fã da arte de contar histórias: as dele, as dos amigos e as que nem aconteceram, mas poderiam existir.
Acredita no poder que as palavras têm de fazer rir, emocionar e refletir; de arrancar sorrisos, gargalhadas e lágrimas; e de dar vida, outra vez, às melhores memórias. É autor do livro de crônicas “Isso que eu falei” e publica textos no Instagram no @isso.que.eu.falei.
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