Nas transmissões esportivas de grandes jogos de futebol, quer diretamente nos estádios ou mesmo assistindo pela telinha, vislumbra-se no comando das equipes uma parafernália de gente rotulada de equipe técnica, reservado a área específica para o treinador. É gente para ninguém botar defeito. Sobra gente para ofender árbitros e auxiliares. Fazem revezamento.
Os rumos e modernidade tomados pelo futebol justificam plenamente o grande número de profissionais envolvidos nos preparativos, nos momentos que antecedem aos jogos, durante os mesmos e posteriormente. Todos com funções e atribuições bem definidas.
Saudosistas que somos, mergulhamos no passado e retrocedemos aos idos de 1969 quando a frente do Democrata Pantera, cheio de ‘cobras criadas’, militaram com eficiência e propriedade as figuras de Henrique Frade e João Natal Filho – o Tenente Natal, cabendo-lhes o comando técnico e físico do alvinegro da Osvaldo Cruz.
Tempos de Tonho, Mário Brito, Elcy, Juci, Itamar, Pinduca, Alemão, Toninho, Valter Cardoso, Marco Antônio, Crispim, Cacau, Alfredo Vignati, Coutinho, Marrequinho e Vulmar. Ao lado de Mauro Vargas, Marcelo Melo, Dé e Welington, figuramos como coadjuvantes.
De se lembrar que inicialmente o comandante era Randolpho Brandão, demitido em um sábado de carnaval, após derrota de 3×0 para o Cruzeiro e com João JOTA Nunes atuando com o tornozelo fraturado e FONTABA dando petelecos em alguns de nossos atacantes. Os corneteiros entraram em ação e Ubirajara Pinheiro e Matosinhos de Castro, mandatários do clube, aproveitaram o carnaval para procederem a uma reformulação geral.
Henrique Frade, que havia feito sucesso à frente do FORMIGA em anos anteriores foi contratado e o Sexto Batalhão da Polícia Militar liberou o Tenente Natal para estar à frente da preparação física. Assim, o grupo teve que se sujeitar ao Manual do Graduado da Policia Militar.
Questionamentos à parte, seguramente o plantel de 1969 figura e figurou dentre os mais qualificados da história do clube, bastando lembrar que Tonho foi goleiro campeoníssimo pelo Cruzeiro de BH; Alemão fez história no futebol brasileiro; Itamar defendeu a seleção brasileira no Sul Americano da Bolívia; Toninho defendeu Palmeiras e Cruzeiro; Marco Antônio foi campeão brasileiro de seleções em 1964; Elcy Rodrigues um grande líder que se impunha.
Para os menos avisados ou de pouca idade, Henrique Frade foi aquele figurante do ataque do Flamengo com Joel, Moacir, Henrique, Dida e Zagalo, com tantos títulos conquistados. Sabia, como poucos, ‘mandar’ a Maricota para o fundo das redes. Como técnico de futebol, montou o FORMIGÃO que tanto sucesso fez no campeonato das Minas Gerais.
João Natal Filho – o Tenente Natal, hoje coronel da reserva com todos os méritos, simplesmente é integrante de uma família que sempre dignificou e dignifica a Polícia Militar das Minas Gerais. Coronel Xavier, Coronel José Eustáquio, Tasso…, enfim, orgulho e referência para os militares de hoje.
Certo é que o Democrata passou a ter fôlego, a correr como poucos, a suportar os 90 minutos, ainda que para tanto durante a semana ocorresse um sobe e desce danado das arquibancadas de cimento; uma tal de corridas até a açucareira e uma quase revoltante subida e descida ao monte do Carnicinha, lá para os lados do Belvedere. Coisas inimagináveis para os dias atuais.
Em tudo e para tudo, há de se fazer justiça às presenças e atividades do roupeiro Zé Fubá e do massagista Almiro Silva. Massagens de sabão, massagens à óleo, injeção de b12 no sábado e tiaminose no domingo pela manhã. Concentração debaixo das arquibancadas de cimento do Mamudão, com lanches e vitamina de abacate à cargo do casal Zezé e Nair. Ritual sagrado.
A postura, competência e integridade moral da dupla mantinham à distância os mais célebres corneteiros e apaixonados pelo clube: Senhor Eliezer das peles, José Lima Filho – o Madalena, Reinaldo Soneguetti, Aristides Gonçalves, Beto Teixeira e outros menos votados. Não dá para mencionar os nomes dos vizinhos da Osvaldo Cruz, certo?
Henrique Frade e Tenente Natal fizeram um bem danado ao Democrata Pantera. A todo o plantel de jogadores, embora as dificuldades naturais e compreensíveis com o Mário Brito. Elevaram o nome da cidade aos inúmeros rincões das Minas Gerais. Saudades, muitas saudades.
(*) Ex atleta
N.B.1 – Loucura a rodada final do brasileiro para se conhecer quem desce e quem permanece na elite de nosso futebol. Quem diria ver Santos, Inter, Fortaleza e tantos outros grandes em situação desesperadora.
N.B.2 -Antipatia à parte – precisa rever alguns conceitos, não se pode execrar o técnico Abel Ferreira do Palmeiras pelos resultados da temporada. Há de se respeitar a capacidade e trabalho de outros profissionais.





