[the_ad id="288653"]

Jogo do tigrinho: quando a diversão vira prisão

FOTO: Freepik

por Luiza Vieira (*)

O “jogo do tigrinho” virou uma verdadeira febre. Basta abrir o celular para se deparar com vídeos curtos, envolventes, onde pessoas comemoram ganhos aparentemente fáceis com um simples clique. A promessa é sedutora: dinheiro rápido, sem esforço. Mas o que esses vídeos não mostram é o lado obscuro dessa história, o custo emocional, financeiro e psicológico que muitas vezes vem junto com a diversão.

O que começa como passatempo ou curiosidade pode, em pouco tempo, transformar-se em um vício silencioso. Jogos como o “tigrinho” são meticulosamente projetados para capturar a atenção e manter o jogador envolvido. Cores vibrantes, efeitos sonoros chamativos e recompensas imprevisíveis compõem a fórmula que ativa o sistema de recompensa do cérebro — os mesmos mecanismos utilizados por cassinos. Cada pequena vitória libera dopamina, o neurotransmissor associado ao prazer, fazendo o cérebro ansiar pela próxima jogada. A sensação é viciante. A armadilha, invisível.

À medida que o envolvimento cresce, os sinais de alerta começam a surgir. O tempo parece escapar, o dinheiro some, e a esperança de recuperar o que foi perdido se torna um combustível para continuar apostando. É um ciclo desgastante, difícil de romper. Muitos jogadores não percebem o quanto estão sendo afetados até que os impactos se tornam inevitáveis: ansiedade, insônia, irritabilidade, depressão e, em casos extremos, pensamentos suicidas. O sofrimento é profundo e muitas vezes calado.

Esse problema é agravado pela maneira como esses jogos são promovidos. Influenciadores, celebridades e até perfis anônimos nas redes sociais exibem ganhos falsos ou exagerados, criando a ilusão de uma oportunidade acessível a todos. O risco se disfarça de sucesso. E quem assiste, seduzido por promessas irreais, acaba mergulhando de cabeça sem perceber que, estatisticamente, quem mais joga é justamente quem mais perde.

Se você ou alguém próximo sente que perdeu o controle, saiba que não é fraqueza, é um sinal de que algo precisa de atenção. Reconhecer o problema não é o fim da linha, mas o começo de uma virada possível. Procurar ajuda psicológica é mais do que necessário: é um ato de coragem. Existem profissionais preparados, grupos de apoio e recursos especializados que oferecem acolhimento e estratégias reais para reconstruir o equilíbrio.

Você não precisa enfrentar isso sozinho. Existe vida além da tela, além do clique, além da promessa de um ganho ilusório. E ela pode ser muito mais valiosa, estável e plena do que qualquer roleta digital. O primeiro passo pode parecer difícil, mas ele é também o mais libertador.


(*) Psicóloga, pós graduanda em neuropsicologia pela Unifesp | CRP 04/62350

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

[the_ad_placement id="home-abaixo-da-linha-2"]

LEIA TAMBÉM

Brincar: O primeiro passo para ser no mundo

🔊 Clique e ouça a notícia GOVERNADOR VALADARES – Em meio às pressas do dia a dia, muitas vezes esquecemos de olhar para aquilo que realmente sustenta a infância: o

Esquina de Boa Noite com Bom Dia

🔊 Clique e ouça a notícia GOVERNADOR VALADARES – Domingo, dia 30 de outubro de 2022. O jornalista William Bonner está em estúdio à frente da cobertura das apurações do

As aparências enganam

🔊 Clique e ouça a notícia GOVERNADOR VALADARES – Durante todo o meu caminho nesta terra, sempre observo os comportamentos e atitudes das pessoas ao meu redor, até mesmo daquelas

Mais conectados, porém menos humanos?

🔊 Clique e ouça a notícia GOVERNADOR VALADARES – Vivemos na era em que enviar mensagens atravessa continentes em milésimos de segundo. Podemos ver o rosto de alguém pelo celular,