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JOÃO “JOTA” NUNES: PARTIU UM DOS ÚLTMOS MOICANOS

(*) Luiz Alves Lopes

Na manhã de terça-feira (8, nas dependências do hospital da UNIMED-GV, em que se encontrava internado, veio a falecer João Nunes Ferreira – mais conhecido por JOTA em sua trajetória futebolística – eis que goleiro dos bons. Muito bom. Contava 84 anos bem vividos. Sepultado sob olhares de alguns poucos familiares e amigos no Cemitério da Paz, no bairro Altinópolis. A pandemia não permitiu a presença de seus simpatizantes e um último adeus. Nascido em Tarumirim, ou “Céu Pequeno” como gostam seus moradores, veio ao mundo em 29 de junho de 1935, e ali defendeu, como atleta de futebol, o América local, e com passagem subsequente pelo Faixa Azul de Inhapim.

No Leste mineiro, JOTA fez parte do extraordinário time do Clube Atlético Pastoril, que encantou Valadares e região nas décadas de 50 e 60. Figurou ao lado de Djalma, Caboclinho, Pão Velho, Caçapa, Coelho, Cocó, Joel, Maranhão, Ronan Moreira, Carioca, Lício, Paulo Bitaca, Pedrinho Pitanga e tantos outros, comandados por Jaime dos Santos, o Professor de Bola. Bons tempos da Cobraice S.A.

Com o desaparecimento do Leão da Baixada, transferiu-se para o Esporte Clube Democrata, no qual brilhou intensamente por décadas. Quem não se lembra de Jota, Juca, Nagel, Vicente e Lúcio, Carlos Antônio e Luiz Augusto, Décio Amaral, Tuca, Chico e Alecyr, dentre outros? Treinados por JORDAN, ex-CR Flamengo? Sem falar nos períodos em que a Pantera foi comandada por Randolpho Brandão.

No início de 1976, desaposentou como atleta e se mandou, ao lado de inúmeros outros, para o Coopevale Futebol Clube, fazendo parte da incrível trajetória do clube leiteiro nas conquistas regionais e locais por anos e anos.

Poucos sabem ser Gerilo Nunes Filho – o BIRILA, um de seus sobrinhos. Tá explicado.

Elegante, carismático e de fino trato, JOTA edificou sólida amizade em Governador Valadares, integrante que foi de gerações diferentes. Não gostava de dizer sua idade e, dentre outros, o apelido de “fofinho” era o que mais o agradava. Vaidoso como poucos, à sua maneira.

Por ocasião da homenagem recebida pelo Coopevale Futebol Clube, em dezembro passado, na Câmara Municipal, por ocasião dos 50 anos do clube, JOTA, em nome de todas as gerações de atletas que passaram pelo “verdão”, foi merecidamente homenageado. Na ocasião, patente era o estado de debilitação de sua saúde.

Bom contador de ‘causos’, alegre, descontraído, segundo os mais antigos (confirma aí, Marcelo Melo!), inúmeras foram as oportunidades não aproveitadas pelo Cavaleiro Negro em relação a diversos convites formulados por clubes futebolísticos de vários estados. Apaixonado por Valadares e sua gente, além de sua maneira simples e solitária de viver, não teve interesse em buscar novos horizontes.

Interessante é que em sua longa trajetória esportiva como atleta, como goleiro estupendo, JOTA sempre teve concorrentes que lhe trouxeram dores de cabeça. A começar pelo Clube Atlético PASTORIL, no qual, em inúmeras oportunidades, teve que bater palmas para DJALMA, outro monstro sagrado do Leão da Baixada.

No Democrata Pantera não foi diferente. Quem não se lembra de RAMIRO (doutor Ramiro), um caratinguense que por aqui residiu, inclusive lecionando no MIT? Goleiro dos bons. E o que falar do Subtenente DEMA? E do FRANLY? Não foi fácil a trajetória do “fofo” na Pantera.

Finalmente, no crepúsculo de sua carreira, no Coopevale Futebol Clube, ainda que em final de carreira por problemas não publicáveis, Juvenal (O CARA) se colocou como obstáculo às pretensões do “tio Jota”.

Em que pese uma trajetória fantástica em todos os clubes que defendeu, referência maior pelo tempo, época e circunstância, afora o saudosismo, sem dúvida alguma que o período vivido na defesa do Clube Atlético Pastoril se mostra como o mais palpitante, lembrado e reconhecido, eis que os feitos do Leão da Baixada ainda permanecem vivos na memória dos mais antigos e nos registros da história do futebol de Governador Valadares e região. Inconteste.

Daquela época poucos estão entre nós. É bem verdade que o “velho CAÇAPA” está por aí, lá para as bandas da Cláudio Manoel.

João “Jota” Nunes, o lendário Cavaleiro Negro do futebol valadarense, um dos últimos dos Moicanos do Clube Atlético Pastoril não mais está entre nós. Partiu. Foi ao encontro do PAI.

Ao partir, deixa um legado e um exemplo de atleta que dignificou a profissão, quer no profissionalismo ou no amadorismo.

Partiu o CAVALEIRO NEGRO. O dono da kombi “A”. O futebol valadarense está de luto. Ele merece e recebe a gratidão, reconhecimento e agradecimento de todos os clubes por onde passou, em especial, o do mundo esportivo da cidade como um todo.

 (*) ex-atleta

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