Historiador valadarense faz um resgate histórico de doenças que assolaram a região de Valadares

De acordo com Haruf Salmen Espindola, varíola, malária, febre amarela e leishmaniose foram algumas das doenças que tiveram registros na região e que também causaram preocupação

Valadares passa por uma fase difícil com a pandemia da covid-19, e o número de mortos pela doença até o momento é de 910. Só nos boletins epidemiológicos divulgados neste mês de abril foram registradas 189 mortes, situação que assusta a população. O historiador Haruf Salmen Espindola, 62 anos, fez um resgate histórico do surto de outras doenças que também marcaram a cidade e região.

Haruf relata que, através de correspondências de guarnições das divisões militares do Rio Doce, é possível ter conhecimento de que a varíola, uma doença que aterrorizou todo o mundo no século 19, também teve reflexo na região e afetou a colonização. Havia surtos periódicos, e a doença matava principalmente crianças da primeira infância. Atingia também militares, pessoas que entravam para colonizar a região e a população indígena.

Registros documentais de Peçanha, sobre troca de telegramas, indicam surto de febre amarela em 1910 na região. Nessa época, Valadares tinha o nome de Santo Antônio da Figueira e era um distrito de Peçanha. Segundo o historiador, uma equipe médica do governo brasileiro se deslocou do Rio de Janeiro para o então distrito, passando por Vitória e chegando à região via estrada de ferro.

De acordo com Haruf, ainda no período de construção da Estrada de Ferro Vitória Minas e inauguração da estação ferroviária do então distrito de Santo Antônio da Figueira, em 1910, vinham sempre novos trabalhadores para a região. Nesse contexto acontecia um outro problema, que era a malária, que também matava muito. Er a uma doença endêmica da região.

O historiador destaca registros de surtos de outras doenças no decorrer dos anos, como catapora e sarampo. Ele lembra ainda da leishmaniose, que antigamente era conhecida como ferida brava. Muita gente foi acometida por ela na região, por ser uma outra doença endêmica daqui. Apesar de ainda existir, é bem controlada pela Vigilância Sanitária, para evitar a disseminação.

Haruf ressalta que o desenvolvimento da região na questão de saúde passou pela assinatura do acordo de Washington entre o governo brasileiro e o americano, na época da Segunda Guerra Mundial, e a criação da Vale do Rio Doce, além do surgimento do SESP.

“A gente precisa dividir duas épocas diferentes: até 1942 e depois de 1942. Antes, porque não havia recurso de saúde nenhum; sem recurso médico e sem recurso hospitalar, as pessoas morriam. A mortalidade infantil era enorme, quando tinha surto de varíola; a proporção de crianças era grande. De cada três que nasciam, uma morria. Quando tinha situações de surto e malária, não tinha tratamento. Isso era impedimento para que a região fosse colonizada. Com a Segunda Guerra Mundial e a criação da Vale do Rio Doce surgiu a necessidade de explorar para fornecer aos aliados um minério chamado mica, fundamental para o esforço de guerra, além de ser usado nas indústrias de elétrica e eletrônica. A maior produção de mica era aqui na região. Cerca de 86 por cento da exportação saía de Valadares. Em função disso, era preciso sanear a região, e depois que o Brasil assinou o acordo de Washington com a Inglaterra e os Estados Unidos, o governo americano enviou os recursos para a criação do Serviço Social de Saúde Pública (SESP)”, relata.

Graças ao SESP, a região ganhou em 1942 um programa chamado Saneamento do Vale do Rio Doce, que tinha vários projetos de saneamento, como a criação do Serviço Autônomo de Água e Esgoto e de uma rede hospitalar, que disponibilizava serviços médicos para população, tratamento odontológico e vacinação. “Isso permitiu à região ser favorecida e combater muitas doenças. A varíola ainda persistiu por um tempo. Já a malária foi erradicada, graças à atuação do SESP, fundamental para mudar o cenário. Até 1982, todos esses serviços eram ligados ao SESP; depois foram transferidos para o município. O governo Collor criou a Funasa, para substituir o SESP”, destaca o historiador.

Sobre o momento atual, de pandemia do coronavírus e do alto número de casos confirmados de covid-19, Haruf entende que em nenhum momento da história de Valadares teve uma doença como esta. “Não conheço registros que indicam quantidade de mortes assim em tão pouco tempo. Sei que, por exemplo, na década de 1950, não havia um dia que não ocorresse sepultamento por doenças como malária, febre amarela, leishmaniose. Ainda existem doenças que chegaram bem depois, como zika, dengue, chikungunya, mas nada igual ao que está acontecendo neste momento com a pandemia que ocasionou tantas mortes.”

Haruf acredita que a questão do coronavírus só se resolverá com a vacina e os cuidados, como o uso de máscara e isolamento social. “Foi o que fizeram na gripe espanhola, mas a vacina veio muito tempo depois. A gripe espanhola, que foi uma pandemia do vírus influenza, matou 50 milhões de pessoas ao redor do mundo, levando em conta que não tinha esse contato e aglomeração, pois a população era bem menor. Agora que temos a vacina, a questão desta pandemia do coronavírus só se resolverá com vacinação em massa”, finaliza.

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