Uma grande e forte frente fria avança sobre o Brasil nos primeiros dias de maio de 2020. A chuva desta frente fria começa a ser sentida no país entre os dias 4 e 5, mas o frio de sua massa polar só deve chegar do dia 6 em diante. A queda de temperatura mais acentuada de ocorrer na sexta-feira (08/05) e no fim de semana do Dia das Mães.
A frente fria tem potencial para provocar até alguns temporais durante sua passagem. Tem previsão de chuva para todos os estados da Região Sul nestes primeiros dias de maio, que até pode ser forte em alguns locais, mas que não vai mudar o grave quadro de seca observado desde o verão.
São Paulo e Mato Grosso do Sul, estados que também passaram um abril com pouquíssima precipitação vão receber um pouco da chuva desta grande frente fria. Porém, a chuva que ocorrer vai aliviar a secura do solo apenas momentaneamente.
“Esta primeira onda de frio forte do outono está chegando como prevista anteriormente. É com ela que vamos sentir uma clara mudança no clima no Brasil, que vamos sentir que o frio começou de verdade. Mas ainda teremos outra onda de frio em maio, na segunda quinzena, que também será forte e abrangente”, comenta Patricia Madeira, meteorologista da Climatempo e especialista em previsão de clima.
O frio destas massas polares se sustenta por um período de 2 a 4 dias e depois a temperatura já entra em elevação.
Temperatura
A acentuada queda da temperatura começará ser sentida nas vésperas do Dia das Mães em grande parte da Região Sul do Brasil e até em áreas de Mato Grosso do Sul. Mas será justamente no fim de semana do Dia das Mães, 9 e 10 de maio, que este ar gelado vai se espalhar de vez pelo centro-sul do país derrubando a temperatura em São Paulo, no centro-sul de Minas Gerais e do Rio de Janeiro, e chegando também a Cuiabá, aos estados de Rondônia, Acre e até no sul do Amazonas.
Esta massa polar deve estabelecer as menores temperaturas deste ano no Brasil, com novos prováveis recordes de frio nas capitais do Sul, em São Paulo, Rio de Janeiro, Campo Grande, Cuiabá, Rio Branco e Belo Horizonte. Até agora, o menor valor registrado por órgãos oficiais de monitoramento meteorológico foi de -3,7°C negativos em Urupema, na parte mais elevada de Santa Catarina, pela medição do Epagri-Ciram.
Fabiana Weykamp, meteorologista previsora da Climatempo faz uma análise inicial do potencial de frio desta primeira grande massa de ar polar que vem por aí.
“Ao que tudo indica, o pico do frio dessa nova e forte massa de ar polar (provavelmente a mais forte até agora), será entre os dias 7 e 9 de maio. No Sul do Brasil, há possibilidade de geada em amplas áreas da Região, especialmente nos dias 7 e 8, com destaque para o risco de geada forte entre a serra e o planalto gaúcho, interior de Santa Catarina e toda a porção sul do estado do Paraná. Algumas cidades, especialmente aquelas mais altas da serra, certamente vão registrar temperatura abaixo de 0°C. Nas demais áreas, a temperatura fica entre 0°C e 4°C. O norte do Paraná, a princípio, é a região menos propícia a ter geada, com mínimas que devem ficar em torno de 8°C. As demais áreas do interior da Região Sul devem ter geada de fraca a moderada intensidade.
Dentre as capitais do Sul, a que deve registrar a temperatura mais baixa é Curitiba, devendo ser inferior a 5°C no dia 8 de maio, com alto potencial para geada”.
Fabiana também alerta que o frio intenso vai chegar ao Centro-Oeste e ao Sudeste do Brasil, especialmente no dia 8/05 com possibilidade de geada em áreas do sul do estado de São Paulo e também da Serra da Mantiqueira e no sul de Mato Grosso do Sul. A geada nestes locais não será danosa para a agricultura. Para a cidade de São Paulo, alguns modelos projetam temperatura abaixo de 10°C, no dia 8 de maio.
Ainda segundo Weykamp, a massa de ar polar que se aproxima terá força para levar o frio até a Região Norte. “Há uma grande chance de ocorrer friagem no sul da Região Norte, com destaque para menores temperaturas mínimas nos dias 8 e 9 de maio. Provavelmente as temperaturas mais baixas devem ficar entre 13°C e 16°C”.
Sobre a Climatempo
Com solidez de 30 anos de mercado e fornecendo assessoria meteorológica de qualidade para os principais segmentos, a Climatempo é sinônimo de inovação. Foi a primeira empresa privada a oferecer análises customizadas para diversos setores do mercado, boletins informativos para meios de comunicação, canal 24 horas nas principais operadoras de TV por assinatura e posicionamento digital consolidado com website e aplicativos, que juntos somam 20 milhões de usuários mensais.
Em 2015, passou a investir ainda mais em tecnologia e inovação com a instalação do LABS Climatempo no Parque Tecnológico de São José dos Campos (SP). O LABS atua na pesquisa e no desenvolvimento de soluções para tempo severo, energias renováveis (eólica e solar), hidrologia, comercialização e geração de energia, navegação interior, oceanografia e cidades inteligentes. Principal empresa de consultoria meteorológica do país, em 2019 a Climatempo uniu forças com a norueguesa StormGeo, líder global em inteligência meteorológica e soluções para suporte à decisão.
A fusão estratégica dá à Climatempo acesso a novos produtos e sistemas que irão fortalecer ainda mais suas competências e alcance, incluindo soluções focadas nos setores de serviços de energia renovável. O Grupo segue presidido pelo meteorologista Carlos
Magno que, com mais de 35 anos de carreira, foi um dos primeiros comunicadores da profissão no país.
No processo de colonização das terras do Vale do Rio Doce, ordenada há 212 anos por Carta-Regia do príncipe regente Dom João, de 13 de maio de 1808, as maiores dificuldades foram os enfrentamentos das epidemias, tanto pelos indígenas como pelos homens das Divisões Militares do Rio Doce. As epidemias eram frequentes, mas essa não foi uma particularidade da nossa história regional. As epidemias estão presentes em toda história do Brasil. Até mesmo na região das Missões, que abrangiam o sul do Brasil, parte da Argentina e do Paraguai, onde os padres jesuítas implantaram as vilas formadas pelas populações Guarani. A população desses vilarejos dependia da introdução de novos contingentes, para não se definhar. Na América Portuguesa (atual Brasil) o avanço da colonização, mesmo sendo os contatos pacíficos, provocou enorme mortandade, pois os portugueses trouxeram gripe, tifo, coqueluche, sarampo e, principalmente, varíola, a que mais matou. Não podemos esquecer outra doença que causou muitas mortes, e ainda causa, a febre amarela.
No Vale do Rio Doce todas essas doenças participaram do processo colonizador, mas devemos acrescentar o grande impacto da malária, que era denominada de febres intermitentes; da leishmaniose, conhecida como ferida brava; de doenças oculares e da hanseníase. Na segunda metade dos anos de 1820, em um de seus relatórios, o comandante das Divisões Militares do Rio Doce, Guido Marlière, relata que os indígenas somente aceitavam receber tratamento médico ou algum tipo de ajuda, quando a epidemia de “catarro e febre violenta” atingia áreas inteiras e o número de mortes começava a crescer rapidamente. As correspondências militares não mencionam o número de mortes nas epidemias, mas sempre resumiam com a expressão “muitos morreram”. Em 1824, o comandante da Primeira Divisão Militar do Rio Doce, cujo quartel-geral (comando) ficava na localidade de Naque, informou que grande quantidade de índios morreu por causa das inflamações pulmonares (catarro) e nos olhos. Isso teria ocorrido nos dias seguintes aos primeiros contatos que tiveram, depois de terem chegada no quartel-geral.
A Quinta Divisão Militar do Rio Doce, cujo quartel-geral ficava em Peçanha, respondia pelo Vale do Rio Suaçuí, avançando pelo Vale do São Mateus e parte do Mucuri. Ele funcionava onde antes estava o quartel do presídio militar de Santo Antônio do Descoberto do Peçanha, local salubre, na crista de um morro, próximo ao povoado. Com a Carta-Regia de 13 de maio de 1808, o quartel se tornou o quartel-geral da Quinta Divisão e foi transferido para as margens do rio Suaçuí, cerca de 50 km de Peçanha. No local se formou o povoado do Porto de Santa Cruz, que teve um grande desenvolvimento inicial, mas foi bruscamente interrompido por uma epidemia, em 1814. Atribuiu-se a causa aos miasmas pestilentos que se seguiram à seca, mas, pelo quadro clínico, percebe-se que se tratava de malária: febre escaldante e intermitente, tremores violentos, dor afetando a parte superior da cabeça, delírios. Segundo relato colhido por Saint-Hilaire, naturalista francês, que esteve no Peçanha, três anos depois, a maior parte da população morreu logo, outros sofreram por meses, alguns, depauperados, sobreviveram ainda dois anos.
O depoimento foi colhido do alferes Machado, que visitou o Porto de Santa Cruz na ocasião da epidemia. O alferes era fazendeiro abastado, produtor de algodão, nas terras da antiga aldeia de São Nicolau, próxima a Peçanha, adquiridas dos índios Monoxós, quando esses foram se juntar aos Malalis e à Quinta Divisão Militar para fazer a guerra aos Botocudos, em 1808. Os portugueses do povoado de Peçanha não sofreram com a epidemia. O que teria protegido a população, segundo os contemporâneos do fato, teria sido o local elevado em que estava o arraial, possibilitando, por esse motivo, a circulação livre dos ventos. Os que moravam no aldeamento não foram poupados, porém sofreram menos os efeitos do que os indígenas, cujo número reduziu-se a centena, não restando mais do que cinco Panhames e um Copoxó. Os Malalis sobreviveram em maior número porque o chefe decidiu partir ainda no início.
A tragédia foi agravada pela teimosia do comandante da Quinta Divisão Militar, Alferes Januário Vieira Braga. Desde que assumiu o comando da Quinta Divisão Militar, se notabilizou pela feroz guerra movida contra dos Botocudos. O comandante, preso à disciplina militar, não considerou a gravidade da situação e impediu os moradores e soldados de abandonar o Porto de Santa Cruz. Ele foi o último a deixar o quartel-geral. Segundo relatou o alferes Machado, na noite em que os militares partiram, os Botocudos apareceram, incendiaram todas a habitações, lavouras e demais construções, deixando uma flecha fincada no centro da povoação. O quartel-geral foi instalado no lugar onde funcionou o antigo presídio militar de Peçanha. Nesse local, Saint-Hilaire o encontrou com o nome de quartel-geral do Canto da Serra de São João, e hospedou-se na casa do comandante, que não era mais do que uma choupana sem caiação. A mobília se resumia ao “estritamente necessário”: girau, uma mesa e alguns bancos. O quartel era formado por um pequeno número de casebres também sem caiação, em mau estado, servindo de moradia para os militares. A paisagem que se descortinava a partir da elevação era formada por morros cobertos de densa floresta, a perder de vista.
(*) Professor do Curso de Direito da Univale
Professor do Programa de Mestrado em Gestão Integrada do Território – GIT
Doutor em História pela USP
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