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Hierarquia e o controle do caos brasileiro

por Ricardo Muniz (*)

Como uma terra úmida está para uma planta, a insegurança individual está para a coletivização da sociedade. O reflexo disso é a hierarquia como único meio capaz de gerar controle social. Nesse ambiente coletivista, liberdade não pode ser corretamente descrita, tampouco entendida, jamais vivida.

O processo civilizatório brasileiro, arquitetado por José Bonifácio de Andrada, evoluiu brilhantemente bem até o golpe de 1889, que destituiu a monarquia constitucional brasileira. Até ali, povos diferentes dispersos no território foram sendo gradativamente reunidos em uma consciência nacional. Ocorreu o oposto da América espanhola. Com o golpe republicano, o processo civilizatório foi abruptamente interrompido, a construção de uma identidade nacional foi deixada de lado, inaugurando o período em que os interesses tribais, corporativos e familiares dominaram a política nacional. Isso perdura até este exato momento.

Ao remeter uma noção de sacrifício individual pelo ideal de uma pátria livre, o lema adotado no processo de independência foi: “independência ou morte”. Já na República o que de fato imperou em 131 anos foi o ditado: “quando o fubá é pouco, meu angu vem primeiro”. Cada corporação, cada tribo, classe social, estado federado, município, cada segmento agindo para garantir o seu privilégio, não poderia dar certo. Resultado: o caos político, em que cada grupo visa ocupar mais espaço na política, fazendo qualquer coisa para manter os próprios mimos, mamatas, salários. Somente um estado hierarquizado e gigante é capaz de ordenar uma loucura dessas. Agindo com sua vara reguladora, mantendo cada grupo no seu quadradinho rigidamente delimitado.

O contrário disso seria um ambiente descentralizado, coeso moralmente, onde cada indivíduo não esperaria nada do Estado, a não ser o mínimo de interferência possível. Na verdade, certamente o indivíduo teria consciência moral do seu dever em contribuir com a nação. Realidade impossível de ser praticada no Brasil atual, os indivíduos estão tão fragilizados com a dependência estatal que não conseguem sequer imaginar sua vida sem a “proteção” do poderoso Leviatã. Afinal, o Estado tem que construir a ponte, dar a cesta básica, pagar a faculdade, dar incentivo para empreendimentos e atender cada grupinho, cada facção. No caso, o indivíduo não precisa se esforçar, o estado faz a justiça social, ou, deveria se dizer, justiça grupal?

Sociedades livres prósperas possuem algumas características comuns: o senso de autorresponsabilidade dos indivíduos com sua nação; coesão moral mínima; descentralização do poder; império da lei; direitos individuais contra o poder coletivista do Estado; igualdade do indivíduo perante a lei, veja bem, perante a lei, já que cada um é diferente em habilidade. Nenhuma sociedade hierarquizada, coletivista e corporativista atingiu um nível de qualidade de vida realmente desenvolvida.

A proteção confortante e escravizante propiciada pela hierarquia será o derradeiro destino no Brasil? “Não pergunte o que seu país pode fazer por você, mas o que você pode fazer pelo seu país”.

(*) Especialista em Gestão Estratégica, Engenheiro de Produção, estuda Direito e Ciências Políticas.
Contato: munizricardodias@gmail.com.
Redes sociais: https://linklist.bio/ric

As opiniões emitidas nos artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores por não representarem necessariamente a opinião do jornal

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