Jota (Djalma), Caboclinho (Ronan), Caçapa, Palheta, Pão Velho, Maranhão, Pedrinho Pitanga, Joel, Lício, Bitaca, Cocó e Tião Nunes. Com clareza solar, eis aí uma sólida formação do Leão da Baixada que atendia por Clube Atlético Pastoril, época em que a Ibituruna estava em fase de crescimento.
O tempo passou. Restaram imagens, passagens, histórias, nostalgia, lembranças, ilusões, recordações e saudades. Algumas mágoas? Talvez. Esta tal de terceira idade… que alguns insistem em chamar de melhor idade… sei não.
Lembrar da “Baixada” – hoje bairros Universitário e São Pedro – com moradias em formato de vila; de uma Açucareira funcionando a todo vapor; de um campo de futebol (Estádio Armando Vieira) verdinho e fofinho, extremamente bem cuidado, com arquibancadas de madeira e iluminação de mercúrio, circundado de alojamentos, sede e outras acomodações de madeira, construídas com muito bom gosto. Tudo isso marcou a trajetória (curta) do Clube Atlético Pastoril. Época de ouro, em que aqui estiveram C. R. Flamengo, Botafogo de F. R., C. R. Vasco da Gama, São Paulo Futebol Clube (com mestre Zizinho), Fluminense Futebol Clube (Com Castilho e Cia). e Seleção Paraguaia (de Victor Gonzales). Desfiles de craques para ninguém botar defeito. Há tanto para se escrever quanto para se falar (ou se lembrar) do Leão da Baixada. Falar de Lício Conceição Cabral ou Lício Bambolê? Chegará a hora. De Joel (que palpitava para cobrar faltas)? Também.
Queremos falar, escrever ou rememorar, aqui e agora, o inigualável e inqualificável HAROLDO AMARAL, o “Cocó”. De estatura mediana, o mulato vindo das bandas de Manhuaçu (a cidade não sabemos exatamente). A todos encantava e deslumbrava com seu futebol exuberante, às vezes de moleque, levando ao delírio o torcedor dos antigamente, verdadeiro malabarista no trato da pelota. Tempos de um futebol alegre, sem amarras, cheio de entusiasmo. Mas o tempo é inexorável.
O C. R. Pastoril desaparece do cenário esportivo e Cocó se manda, de mala e cuia, para as bandas da Afonso Pena/Osvaldo Cruz, passando a vestir o manto do Esporte Clube Democrata. Os mais antigos se lembram quando a entrada do clube era pela rua Afonso Pena (não havia as arquibancadas de cimento e cadeiras cativas), nas confluências do posto do Lenito e de seu restaurante.
Pois bem, na parte de dentro do estádio existiam alguns barracões, que serviam de alojamento para os atletas contratados pelo clube. Em um deles habitava nosso “Cocó”, que nas horas vagas fazia trabalhos com gesso. Aqui também um artista.
Em meados de 1968, encerrada a carreira de atleta profissional, Cocó passa a ser aproveitado pelo clube como auxiliar técnico dos profissionais e treinador das equipes de base do clube. Em 1969, encerrado Campeonato Mineiro, do qual participamos pela vez primeira, na condição de “atleta amador” (cada clube profissional podia utilizar até quatro atletas amadores), defendemos a Pantera no campeonato amador da cidade, sob o comando de Cocó. Eram passados 13 anos da última conquista. O título veio após vencer os dois turnos do certame.
Também em 1969, bondoso como poucos, defendeu ele as cores do Tupã Futebol Clube – Clube do Chisté, Badú e Zé Borges –, disputando o campeonato varzeano da cidade. O clube jamais havia conquistado um título. Tal ocorreu e o clube acabou… Quanta ironia!
Com o Democrata vivendo longo período de crise, de forma injusta, acusações foram feitas ao meio-campista aposentado, em função de residir no estádio. Cocó ficou magoado. À época, estava em evidência o “Eldorado” de “levar” valadarenses para os EUA. Ao lado de Lício (então dono de posto de gasolina), figuramos como avalistas/fiadores de Cocó no financiamento de suas passagens e coisitas mais. Cocó partiu com um desabafo:” Um dia volto com uma boa condição financeira e passo o carro em cima das pessoas que me caluniaram“. Fato marcante após sua partida: Enquanto devedor à agência de viagens, quinzenalmente Cocó nos escrevia dando conta da pontualidade na liquidação das parcelas de sua passagem. Liquidado seu compromisso, não mais escreveu. O tempo passou, muitos anos após veio a notícia de seu falecimento nos EUA. Salvo engano, por lá teria sido enterrado. Não teve a oportunidade de “passar o carro” sobre seus delatores.
Nos dias atuais, de frente para um televisor e não importando o canal e a partida transmitida, nos deparamos com espetáculo midiático onde os elogios nos causam náuseas. Quanta pobreza… inclusive de personalidades. Felizes daqueles que viram em ação, dentro das quatro linhas, um pirralho que atendia por COCÓ.
HAROLDO AMARAL – o Cocó. Craque como poucos, um artista da bola e que a todos encantava. Esteve ao lado de gente famosa, em especial no esquadrão pastorilense, que praticava um futebol de fazer inveja aos irresponsáveis milionários dos dias atuais. Assim é a vida.
Ex-Atleta
____________________________________________________________
As opiniões emitidas nos artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores por não representarem necessariamente a opinião do jornal