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Governador Valadares: 83 anos

Prof. Dr. Haruf Salmen Espindola (*)

A vila de Figueira (Governador Valadares) iniciou o crescimento com a inauguração da estação ferroviária de Figueira, no dia 15 de agosto de 1910. Outro impulso foi dado pela estrada de rodagem que ligou Figueira a Teófilo Otoni, em 1934. Cresceu o movimento pela emancipação, liderado pelo Partido Emancipador de Figueira, chefiado por Gil Pacheco. Em 31 de dezembro de 1937 foi aprovada a criação do município de Figueira, desmembrado de Peçanha. A instalação ocorreu no dia 30 de janeiro de 1938. A mudança para o nome atual ocorreria no final daquele ano, por iniciativa de lideranças locais, que acreditaram que a cidade receberia benefícios do governador Benedito Valadares.

Valadares cresceu rapidamente nos anos de 1940 e decolou na década de 1950, consolidando sua posição de centro dinâmico da região do rio Doce. Entre 1950 e 1960, a população pulou de 20.357 habitantes para a espetacular cifra de 70.494 habitantes. A Segunda Guerra Mundial foi um fator importante para Governador Valadares, como resultado da aliança Brasil-EUA. A cidade foi beneficiada porque veio o saneamento e se promoveu o desenvolvimento econômico e social. Os problemas da água e das endemias foram resolvidos pelo Serviço Especial de Saúde Pública – SESP, criado em 1942. Esse órgão foi resultado dos acordos de Washington, que o Brasil assinou com os EUA e a Inglaterra. O programa de saneamento básico do SESP foi acompanhado da criação do serviço de água e esgoto (SAAE) e de um eficiente sistema de assistência médica e vacinação. O SESP construiu um Centro de Saúde modelo, com especialidades, numa época em que tínhamos poucos médicos no interior do Brasil.

No início, o problema de energia era um entrave para o desenvolvimento da cidade. A cidade dependia de uma caldeira que gerava 200 HP, localizada onde hoje é a esquina da rua Belo Horizonte com a Sete de Setembro. No final da década de 1940 a cidade recebeu do governo de Minas um motor de 600 HP, que estava largado à beira da estrada de ferro, perto de Naque. Com esse motor se fundou a Companhia Força e Luz Figueira do Rio Doce, melhorando o fornecimento de energia para uma cidade que vivia às escuras. O governador Juscelino Kubitschek, em 1954, transferiu da Companhia Força e Luz Figueira do Rio Doce para a Companhia de Eletricidade do Médio Rio Doce a concessão para o fornecimento de energia elétrica para a cidade de Governador Valadares. Com a inauguração, em 1955, da Usina Hidrelétrica de Tronqueiras, com a presença de JK, estava resolvida a questão energética.

Nessa década de 1950, a cidade se beneficiou com a rodovia Rio-Bahia e o crescimento da economia regional, passando a exercer diversas funções: tornou-se polo de beneficiamento e distribuição dos produtos regionais; passou a ser um importante centro de pecuária, com um dos maiores rebanhos de Minas Gerais; se consolidou como centro comercial importante, distribuindo produtos nacionais e importados. O dinamismo econômico de Valadares se fazia notar pela diversificação da oferta de produtos e pelos valores médios dos salários e dos preços, que não se afastavam muito dos que eram praticados nas cidades do Rio de janeiro, São Paulo ou Belo Horizonte. Havia uma intensa movimentação de negociantes e representantes das principais firmas comerciais do País. Valadares atraiu um número crescente de forasteiros, vindos das zonas vizinhas do vale do Suaçuí, Zona da Mata, Mucuri e Espírito Santo, além de nordestinos, em busca de oportunidades de negócio ou de trabalho. O município e a região perdiam sua população rural, atraída pelas condições de vida na cidade. A maioria dessas pessoas encontrava ocupação nas serrarias, na indústria da mica, nas siderúrgicas, nos abatedouros, nos grandes armazéns atacadistas, nas indústrias diversas, no comércio varejista, na construção civil, entre outras ocupações oferecidas pela expansão urbana.

Houve iniciativas comunitárias, com o envolvimento das lideranças locais e entidades da sociedade civil, de modo suprapartidário, que contribuíram para fazer de Governador Valadares uma cidade polo. Em 1957, a Companhia Telefônica de Governador Valadares – CTGV inaugurava sua sede própria na Praça Serra Lima, dando à cidade um dos melhores sistemas de telefonia do país; em 1967 foi criada a Fundação Percival Farquhar, que deu origem à Univale e alavancou o setor educacional; na década de 1970, desenvolveu-se o setor de saúde, com o grande impulso criado pela implantação do Hospital Municipal, entre outros exemplos. De todos esses empreendimentos, sem dúvida, a Univale constitui o mais significativo e bem-sucedido investimento comunitário que a cidade conheceu. Essas lideranças também perseguiram a meta da industrialização, buscando grandes projetos de investimento, como os esforços para atrair para o município a Usiminas (1960), criar o Porto Seco (1971), trazer a Usiminas II (1973), entre outros.

A questão fundamental foi colocada por Hermírio Gomes da Silva, em 1958. Era preciso mudar a mentalidade “extrativista” e “rentista” que dominava o município. Entretanto, essa predominou e ainda se faz presente. Era comum os comerciantes, industriais e profissionais liberais, bem-sucedidos, colocarem seus lucros em patrimônio ou fazendas de pecuária extensiva. Com a queda da pecuária, nos anos de 1980, a “vaca foi pro brejo”. Desse modo, o capital não encontrou o caminho do investimento produtivo. Não faltou, no entanto, aqueles com visão empreendedora, que reuniram o esforço comunitário no sentido de fazer diferente e a diferença. Hoje, mais do que nunca, precisamos desse esforço para produzir um amanhã melhor para todos nós, valadarenses.


(*) Prof. Dr. Haruf Salmen Espindola
Doutor em História pela USP
Professor do Curso de Direito da Univale
Coordenador do Mestrado GIT/Univale

As opiniões emitidas nos artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores por não representarem necessariamente a opinião do jornal

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