Tem coisa na vida que parece brincar de esconde-esconde com a gente. O sono é um clássico: você deita, fecha os olhos e pensa “agora vai”. Minutos depois, está rolando de um lado pro outro, revendo conversas de 2009 e se perguntando por que disse aquilo no churrasco.
A felicidade é mais ou menos assim. Quanto mais a gente corre atrás, mais ela dá um passinho pra trás e fica olhando de longe, rindo da nossa pressa. Parece até que nasceu com perna de atleta.
O problema é que tratamos a felicidade como se fosse um produto em promoção: “últimas unidades, só hoje, aproveite agora!”. Aí passamos o dia medindo cada momento: “estou feliz o suficiente?”. E pronto, estragamos o momento, e às vezes até o bolo.
Já notei que a felicidade gosta mesmo é de aparecer de surpresa. Ela não combina hora nem manda mensagem avisando que está a caminho. Vem quando você está distraído, mexendo no rádio do carro, olhando a chuva bater na janela ou rindo de uma piada ruim que nem sabe por que achou engraçada.
Talvez o truque seja esse: parar de tratá-la como prêmio e começar a tratá-la como visita inesperada. Não adianta abrir a porta e gritar “entra logo!”. Ela vai ficar no portão, desconfiada. Mas se você continuar ali, vivendo sua vida, de repente ela entra, senta no sofá e ainda pede café.
No fim, acho que felicidade não é coisa que se conquista na marra. Ela é mais como aquele gato da vizinha: aparece quando quer, se esfrega na sua perna e, se você for esperto, oferece um pedaço de bolo antes que ela vá embora.
(*) Psicóloga, pós-graduanda em Neuropsicologia pela Unifesp | CRP 04/62350
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