E agora, Jair?
Corona chegou
A festa acabou,
Comércio fechou,
O povo sumiu,
A noite esfriou,
E agora, Jair?
E agora, você?
Você com seu cargo,
Que zomba da ciência,
Você que desafia,
Diz que ama, protesta?
E agora, Jair?
Exige a razão,
Não conhece carinho,
Avacalha o discurso,
Fala e logo desfala,
Já não pode afirmar,
Cuspir já não pode,
A noite esfriou,
O dia até veio,
Ônibus, mais ou menos
O riso não veio
Não veio a utopia
Incerteza ficou
E o povo com medo
Não sabe se vai
Mal sabe se fica
E agora, Jair?
Sua firme palavra,
Seu instante de fúria,
Sua gana ou jejum,
Sua economia,
E sua lavra de ouro,
Nas o terno de vidro,
Sua incoerência,
Seu ódio – e agora?
Com a chave na mão
Quer ditar o que é bom,
Mas não sabe em que porta;
Quer morrer no poder,
Mas o poder vai secando;
pode vir para Minas,
Mas será que achará?
Jair, e agora?
Se você gritasse,
Se você gemesse,
Se você tocasse
A valsa vienense,
Se você dormisse,
Se você cansasse,
Se você se entregasse..
Mas você não se entrega,
Você é duro, Jair!
Sozinho no escuro
Qual bicho-do-mato,
Sem teogonia,
Sem parede nua
Para se encostar,
Sem cavalo preto
Que fuja a galope,
Você marcha, Jair!
Jair, para onde?
Você marcha Jair, Jair para onde?
E agora Jair?
Jair para onde?
E agora Jair?
Para onde?
Um plágio da composição: de Carlos Drummond de Andrade. Intérprete: Paulo Diniz
Diante de tantas incertezas ou informações conflitantes, vê-se, por grande semelhança, a situação de José na letra de Drummond, com a corda bamba na qual vive o presidente Jair Bolsonaro, que não consegue o apoio que deseja pra levar o povo ao “genocídio”. Ora, se as grandes potências mundiais, com todas as precauções, divulgam a cada instante uma enxurrada de fatalidades do Covid-19, que aumenta a cada dia, imaginem um relaxamento de cuidados.
Sei que certamente serei achincalhado pelos que defendem a liberação do comércio, mas não vou me estender na defesa contrária. Só digo que não haverá comércio se não houver consumidor. É exagero? É. Mas só se estancará este mau pelo exagero.
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