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De Figueira a Governador Valadares: um pouco da nossa história

Prof. Dr. Haruf Salmen Espindola (*)

Em 30 de janeiro de 1938 foi instalado o município de Figueira. Não era Figueira do Rio Doce nem Santo Antônio da Figueira, apesar de existir confusão a esse respeito. Isso é interessante, porque uma lei de 7 de setembro de 1923, determinou que Santo Antônio da Figueira passasse a chamar Figueira.

Esse foi um equívoco do legislador, ao incluir Figueira nessa lei que tirou da maioria dos municípios e distritos mineiros o nome de santo. Em 1934, já tramitava o processo pela emancipação, tendo recebido manifestações favoráveis de diversas partes, incluindo representações de muitas localidades que queriam ser incorporadas no novo município, tais como Itanhomi, Pedra Corrida, São Sebastião do Brejaúba, Naque, Cachoeira Escura.

Em 1935, foi formado o Partido Emancipador de Figueira, chefiado por Gil Pacheco, destinado a comandar a luta pró-emancipação. Em 31 de dezembro de 1937, finalmente, foi criado o município de Figueira, desmembrado de Peçanha, por ato do governador Benedito Valadares.

Um ano depois, pelo decreto-lei nº 148, de 17 de dezembro de 1938, por abaixo-assinado de representantes de Figueira, para bajular o governador, o nome foi mudado para Governador Valadares. Entre as pessoas de destaque da época, apenas Gil Pacheco e o engenheiro Justino da Conceição, futuro chefe da UDN, não colocaram o nome no abaixo-assinado.

Em 1940, a população de Valadares chegou a 5.734 habitantes. A energia elétrica fornecida pela Prefeitura dependia de uma caldeira de 200 CV. Em 1947, quando a UDN chegou ao governo do Estado e do município, com Milton Campos e Dilermando Rodrigues de Melo, respectivamente, um grupo liderado pelo chefe local do partido, Justino da Conceição, conseguiu do governador um motor de 600 CV, que estava largado na beira da EFVM, próximo à Estação de Naque.

Assim, foi fundada a Companhia de Força e Luz da Figueira do Rio Doce, proporcionando um acréscimo considerável de energia para uma cidade que vivia às escuras. Além da energia do novo motor, a cidade recebia reforço com o fornecimento das sobras do gerador da fábrica de compensados Companhia Agropastoril Rio Doce (CAP), subsidiária da siderúrgica Belgo-Mineira, atual ArcelorMittal Aços Longos.

Em 1950, a campanha de Juscelino Kubitschek (JK) para o governo de Minas Gerais recebeu muito apoio na região, graças ao esforço decisivo da Belgo/CAP, presidida por Júlio Soares, cunhado e muito amigo de JK. Quando esse assumiu o governo de Minas (1951-1955) foi construída a Usina de Tronqueiras e criada a Companhia de Eletricidade do Médio Rio Doce, que ficou sob a presidência de Júlio Soares. Mas tarde, essa companhia seria uma das que daria origem à Cemig (1963).

Nas décadas de 1940 e 1950, o município de Governador Valadares e região, nos terraços e baixadas aluviais tinham muitas lavouras de arroz, feijão, milho e cana-de-açúcar. Na cidade concentravam-se os armazéns que compravam a produção local e regional e a exportavam para fora da região.

A posição de polo regional de Valadares era uma vantagem, pois o dinamismo da economia regional fazia a cidade crescer de modo acelerado. A economia da região se expandiu graças à eliminação do mosquito transmissor da malária, pelo Sesp, para atender as obras de criação da Companhia Vale do Rio Doce; e pelo serviço de saúde do DNER, durante as obras de abertura da rodovia Rio-Bahia. 

Valadares, no começo da década de 1950, possuía 1.813 estabelecimentos comerciais, sendo que 104 atacadistas e 1.280 varejistas. A cidade contava com raros veículos motorizados e dependia ainda das tropas de burro; tinha registrado 733 veículos a motor, sendo 221 automóveis e jipes, nove ônibus, oito caminhonetes e 20 veículos de outra natureza; de carga havia 309 caminhões, 123 camionetas, 43 tratores; na classe dos não motorizados era grande o número de charretes que serviam de taxi, de carroças para o transporte de carga e de bicicletas para o transporte individual. Grandes transformações ocorreram durante a década de 1950. O 20º aniversário (1958) foi uma grande celebração da pujança da cidade que mais crescia em Minas.

Com o desmatamento, o capim colonião alastrou-se e reforçou a dominância da pecuária de corte.  Os adventícios que chegaram em grande número, formaram fazendas para explorar as riquezas da terra. Desta forma, ocorreu um acelerado desmatamento para a criação de gado para os frigoríficos do Rio de Janeiro. A agricultura decaiu e houve uma concentração da propriedade nas mãos de poucos. Valadares perdeu uma das principais fontes de seu dinamismo regional, devido a substituição da agricultura pela pecuária. Na década de 1970 a região perdeu população por causa do esvaziamento econômico, devido aos problemas ambientais, em particular o desmatamento.  Valadares foi a única de sua zona de influência que continuou a manter um crescimento e importância econômica. Entretanto, se a região não recuperar a importância econômica, o futuro de Valadares fica comprometido. Para Valadares, criar um movimento de unidade regional em defesa do desenvolvimento territorial sustentável é uma questão vital para seu futuro como cidade polo.

(*) Professor do Curso de Direito da Univale
Professor do Programa de Mestrado em Gestão Integrada do Território – GIT
Doutor em História pela USP

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