Era uma segunda-feira normal quando Larissa, funcionária de um banco no interior de Minas Gerais, chegou para trabalhar cedinho, mas foi logo advertida por um dos vigilantes: a unidade, recém-inaugurada, sofrera a sua primeira intrusão.
Felizmente, não era tentativa de arrombamento, a cidade é pacata: é que um galo, da vizinha, entrou no quintal da agência (sem autorização, é bom frisar) e por lá ficou preso todo o fim de semana.
Os fundos do imóvel dão para um morro imenso e a investigação da equipe da unidade concluiu que o bicho, da raça garnizé, despencou barranco abaixo da área externa de alguma propriedade vizinha.
Por sorte, sobreviveu, mas o pobre passou as noites de sexta-feira a domingo sozinho, provavelmente com fome e com sede e sem entender onde se metera.
“Ao fazer a vistoria da unidade na primeira hora de expediente, o vigilante encontrou o galo preso no fundo da agência. O bichinho já estava tonto de fome e sede”, informou Larissa, com o coração apertadinho.
A dona da ave, que é de estimação, notou o sumiço do animal e já tinha identificado seu paradeiro, mas a ela só restou esperar a abertura da unidade após o fim de semana (talvez também tenha caprichado nas orações pela vida do companheirinho garnizé).
A moça chegou a acionar a instituição financeira via Centro de Relacionamento e Informação ao Cidadão, que encaminhou à agência a demanda formalizada por e-mail às 11h22 com os dizeres: “Sra. contatou-nos informando que possui um “animal” preso na agência. Menciona que o animal é seu “galo” e que ele está preso desde sexta-feira. Diante do relato, solicita providências”.
Mas não era mais necessário. Antes mesmo da chegada da correspondência oficial, o caso já estava solucionado: um rapaz, a serviço da proprietária do animal, compareceu à agência, resgatou o bichinho e o transportou de volta são, salvo e faminto ao seu lar doce lar.
Para a turma da agência, ficou uma boa história para contar, ocorrida logo nos seus primeiros dias de vida, que vai ser difícil de ser superada. Para o garnizé, foram dias de susto e dúvidas. E para completar o caso, o fim de semana foi de clássico no futebol das Minas Gerais: Atlético Mineiro – o popular Galo – contra Cruzeiro, jogo que o galinho, mesmo se quisesse, não pôde assistir.
Aos protetores dos animais preocupados, Larissa, que, aliás, é torcedora do Galo, garante que o “visitante” está bem, sua saúde está perfeitamente estável. O bicho, que se chama Xiquinho, até voltou à agência, agora famoso, com status de celebridade e devidamente acompanhado da dona, para rever os novos amigos.
Talvez aquela seja a única agência de um banco no país a ter a sua própria mascote de estimação: o garnizé da vizinha.
(*) Mineiro, jornalista e mochileiro.
Já rodou meio mundo e, quando não está vivendo histórias por aí, está contando alguma. Ou imaginando, pelo menos. É um fã da arte de contar histórias: as dele, as dos amigos e as que nem aconteceram, mas poderiam existir.
Acredita no poder que as palavras têm de fazer rir, emocionar e refletir; de arrancar sorrisos, gargalhadas e lágrimas; e de dar vida, outra vez, às melhores memórias. É autor do livro de crônicas “Isso que eu falei” e publica textos no Instagram no @isso.que.eu.falei.
As opiniões emitidas nos artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores por não representarem necessariamente a opinião do jornal.






