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Crônicas do cotidiano: Precisamos aprender a escutar

por Coronel Celton Godinho (*)

Desde o surgimento do homem na Terra, a comunicação entre os humanos tem sido desenvolvida, em que pese os diversos idiomas e dialetos falados neste planeta.

Aos primeiros berros e grunhidos, os seres racionais, criados à imagem e semelhança de Deus, tentam se comunicar. Um emite a mensagem e o outro recebe, para que tudo, enfim, se encaixe e a vida continue.

 Os nossos antepassados pré-históricos se comunicavam? Claro que sim! A linguagem começava a surgir, as palavras “brotavam”, iniciando-se a verbalização dos sons. Então tudo começava a ter sentido e as coisas eram nomeadas.

Passados milhares de anos, estamos aqui, já desenvolvidos, nos comunicando com auxílio de altíssimo arsenal tecnológico. Que maravilha está a comunicação entre os seres humanos! Celular, internet, WhatsApp, Instagram, Facebook, Telegram, Tiktok, Kwai, e mais uma infinidade de aplicativos de interação humana. Há poucos anos seria um sonho pensar nesta parafernália comunicacional. Acreditam que a comunicação entre os humanos viventes está esta maravilha toda? Tudo funcionando muito bem? Ledo engano.

Já dizia o grande comunicador de massa, senhor Abelardo Barbosa, mais conhecido como Chacrinha: quem não se comunica se estrumbica! Ah! Mas quem se comunica mal também! Mas por que nos comunicamos tão mal, mesmo com toda a tecnologia disponível? A pergunta não é difícil de responder e não precisa ter explicação científica.

Num período não tão distante da humanidade, muitas pessoas tinham dificuldades de se expressar, de se comunicar, principalmente falar em público. Entretanto existiam os famosos cursos de oratória, que cumpriam a sua nobre missão de proporcionar àqueles que tinham a dificuldade da fala a mesma desenvoltura daqueles com mais fluência verbal. As conversas eram mais cara a cara; as mensagens eram trocadas livremente entre emissores e receptores. Havia ruídos? Óbvio que sim! Como existem até hoje, mesmo com as “máquinas de falar e ouvir”.

Mas e aí?? Atualmente, vivemos em um mundo com velocidade frenética, ninguém tem tempo para ninguém, e para nada. A correria está presente em todas as atividades humanas. A informação simplesmente voa mais do que a velocidade da luz, guardadas as devidas proporções. A comunicação atinge o seu ápice, seu frenesi embriagante, como diria uma expertise das altas cúpulas tecnocratas, aliás muitos pseudotecnocratas.

Afinal, já ultrapassamos as eras e idades dos símbolos e sinais, da fala e da linguagem e escrita; da imprensa, da comunicação de massa, dos computadores.

A comunicação entre nós se torna saudável a partir do que falamos e do que nosso ouvinte compreende. Permeando nossos relacionamentos e nosso desenvolvimento humano.

A comunicação é elemento primordial e básico para a fundação da sociedade. Agora fica muito fácil entender o que está ocorrendo hoje com as nossas comunicações, frisando a importância não só de falar, mas a compreensão do nosso ouvinte.

Mas como o ouvinte quer e tem de compreender se ele não quer ouvir, apenas falar? Já mencionamos sobre a velocidade das comunicações e informações, e isso tem grande influência na sociedade, porquanto atinge em cheio as nossas relações humanas, trazendo um turbilhão de problemas e conflitos, pois, hoje, muita gente quer falar, mas poucos (pouquíssimos) têm a paciência de ouvir e compreender o que o outro está dizendo. A maioria só escuta, e com muita pressa. Não olha nos olhos do emissor e, consequentemente, via de regra, não entende nada da mensagem que escuta. Ou seja, a maioria de nós ouve, mas não escuta, então não entende.

Os tecnólogos, a todo o momento, alardeiam aos quatro cantos que a tecnologia está elevando o nível de conectividade humana, mas do que adianta, se as pessoas, a cada dia que passa, escutam menos e compreendem menos ainda? Vivemos esse paradoxo todos os dias.

Pais falam aos filhos e eles não escutam. Líderes falam às multidões e elas não escutam. Sacerdotes falam aos seus fiéis e eles não escutam. Afinal, de que valem todas as ferramentas tecnológicas à nossa disposição se ainda não descobrimos uma maneira lógica de utilizá-las? Lógica no sentido de permitir ao ser humano escutar e entender com clareza, e não somente ouvir.

Ouvir nos remete ao sentido da audição, enquanto escutar corresponde ao ato de ouvir, de captar, compreender… enfim, interpretar.

Escutar é mais importante do que ouvir e, muitas vezes, mais importante do que falar, pois é fundamental em nossas relações em sociedade. Costumo dizer que o “não escutar ou escutar pouco” pode levar o indivíduo a um emaranhado de conflitos, internos e externos.

Hoje, mais do que nunca, precisamos aprender a escutar. E, o mais triste, é que necessitamos reaprender a escutar a Deus, pois muitos só ouvem. Escutar está relacionado com agir. Durante séculos só aprendemos a orar, a oratória, a pedir, mas não a “escutar”.

Precisamos, com extrema urgência, de cursos de “escutatória”, ao invés de oratória.

(*) Advogado militante – Coronel da Reserva da Polícia Militar.
Curso de gestão estratégia de segurança pública pela Academia de Polícia Militar e Fundação João Pinheiro

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