Dr. Adão Leal (*)
Na nossa vida diária existe, e sempre existirá, situações que nos aborrece, causando irritação, ansiedade e medo. Muitos reagem a estes sentimentos procurando usar drogas, álcool, comendo excessivamente ou até usando remédios por conta própria, que piora a situação e nos agride ainda mais.
Saber filtrar e conter tais emoções negativas são passos importantes para cuidar da sua saúde mental. Devemos buscar recursos para elaborar os sentimentos negativos e não deixar ser dominados por estas emoções.
Prevenir é o que existe de mais importante em saúde mental. Irritabilidade fácil, tristeza, dormir mal, não conseguir regular seu peso (comer demais ou de menos) podem estar relacionados a transtornos mentais, pois pioram nosso dia a dia e não permite ter a vida que gostaríamos de ter. Quanto antes ter consciência disso e tomarmos uma atitude será melhor, porque a possibilidade de tratamento se ampliará trazendo mais benefícios.
O impacto que a pandemia de covid-19 trouxe ao emocional das pessoas fez com que se falasse mais de saúde mental, mas já estava se falando muito a respeito. Após pandemia até alguns termos foram criados pela OMS, como: “fadiga pandêmica”, para caracterizar o cansaço e o esgotamento físico e mental que acometeu muitas pessoas nesse momento; “definhamento” para caracterizar sentimento de estagnação, vazio e desmotivação.
Os que tinham tendência ao isolamento se isolaram completamente na pandemia, chegaram a ter depressão e ansiedade intensa. Os que usavam álcool socialmente passaram a usar com frequência e abusivamente. Aumentou também o uso de drogas e remédios psicoativos.
Quem teve parentes infectados ou mortos pelo vírus desenvolveu transtorno de estresse pós-traumático grave. Muitos ainda vivem em um luto duradouro pela perda de parentes. Há ainda a covid longa ou síndrome pós-covid mostrando danos psicológicos, neurológicos e cognitivos. O estresse provocado deixou sequelas, que até hoje há queixas de: esquecimento, falta de concentração e atenção, dificuldades no raciocínio, dormir mal, dor de cabeça, respiração dificultada e dores articulares.
Devemos falar mais de saúde mental em decorrência dos altos índices de transtornos psiquiátricos observados no mundo inteiro e em nosso país. Antes da pandemia o Brasil foi colocado como o país mais ansioso do mundo – quase 10% de nossa população sofrem de algum transtorno ansioso. No tocante a depressão, somos o mais doente da América Latina e no mundo estamos em segundo lugar, só perdemos para os EUA.
Importante fazer uma análise de como está nossa saúde mental. Digo isto porque sou médico especialista em psiquiatria há 45 anos, trabalhando com saúde mental, além disso, vivemos uma realidade frustrante e agitada, recebemos muitas notícias falsas, a maioria das pessoas trabalham pressionadas, ficam cada vez mais estressadas, e nosso país a cada ano nova crise se apresenta.
A vida moderna nos oferece fatos estressantes; não podemos mudá-la, mas tais realidades nos desconectam de nós mesmos, lentamente vai corroendo a saúde mental da pessoa, nos deixando frágeis à ansiedade e depressão.
(*) Dr. Adão Leal — Médico Psiquiatra da Associação Brasileira de Psiquiatria e Psicogeriatra pelo Proter (Instituto de Psiquiatria da USP).
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