O Brasil é uma potência mundial na pecuária de corte. Atualmente, somos o segundo maior produtor de carne bovina do mundo, com projeção de 11,2 milhões de toneladas para 2025, sendo cerca de 35% destinadas à exportação.
Esses números mostram a relevância do país no cenário global, mas também levantam um ponto crucial: como deixar de ser vistos apenas como fornecedores de carne barata e nos consolidarmos como referência em valor agregado?
De acordo com o portal The Agribiz, a carne brasileira é hoje a mais barata do mundo. Isso pode parecer uma vantagem competitiva, mas, na prática, nos coloca em uma posição de vulnerabilidade, pois reforça a visão de commodity — um produto facilmente substituível e sem diferenciação além do preço.
Nesse sentido, a especialista em varejo de carnes, Cris Rabaioli, traz uma reflexão essencial:
“Se continuarmos tratando a carne como commodity, seremos sempre comparados por preço. O diferencial está em transformar eficiência e origem em valor e oferecer ao consumidor a chance de comer menos e melhor.”
Essa visão conecta diretamente os desafios de produtividade, bem-estar animal, rastreabilidade e branding. Enquanto países como os Estados Unidos possuem um desfrute médio de 36% com um rebanho de 87 milhões de cabeças, o Brasil, mesmo com 196 milhões de animais, apresenta apenas 22% de desfrute. Isso mostra que temos um imenso potencial de evolução, mas precisamos traduzir eficiência em narrativa de valor.
Um ponto central nessa transformação é a rastreabilidade, que deixou de ser tendência para se tornar exigência global — e, mais do que isso, um poderoso argumento de marketing. Garantir transparência sobre origem, qualidade, práticas de manejo e bem-estar animal não é frescura: é gestão inteligente que gera resultado. No Brasil, esse movimento já começou, e quem sair na frente conquista a confiança do cliente e agrega valor real à sua carne.
Além disso, o avanço do mundo digital tem aberto novas portas para essa valorização. No primeiro semestre de 2024, o e-commerce nacional movimentou R$ 160,3 bilhões, um crescimento de 18,7% em relação ao mesmo período do ano anterior. Nesse cenário, a categoria de alimentos teve um papel expressivo: registrou aumento de 18,4% no faturamento bruto e um salto de 82,8% no número de pedidos, segundo o site E-commerce Brasil. Esse movimento mostra que o consumidor está cada vez mais aberto a conhecer novas marcas, explorar produtos diferenciados e pagar mais por qualidade — desde que haja transparência e uma boa história por trás do que consome.
E é justamente nessa construção de identidade que regiões como o Vale do Rio Doce, o Vale do Mucuri e o Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, têm uma grande oportunidade: transformar a carne produzida localmente em uma referência reconhecida por sua origem e padrão de qualidade.
Não se trata apenas de vender cortes bovinos, mas de transmitir história, tradição e práticas responsáveis.
Os negócios locais — de pequenos produtores a distribuidores e pontos de venda especializados — já carregam um diferencial: a proximidade com o cliente, a confiança construída ao longo dos anos e o vínculo direto com a produção regional.
Ao incorporar estratégias de comunicação, certificação de origem, práticas de bem-estar animal e sistemas de rastreabilidade confiáveis, esses negócios podem se posicionar como verdadeiras vitrines da carne premium brasileira, conquistando espaço tanto no mercado interno quanto no externo.
O futuro da carne brasileira passa por isso: transformar o que já é bom em um produto valorizado, alinhando eficiência, rastreabilidade, bem-estar animal e comunicação.
(*) Maria Tereza Magalhães, publicitária e pioneira na região em estratégias de comunicação e marketing para o agronegócio, é diretora da Agência Maria Tereza Agrocomunicação e influenciadora do agro.
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