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Coisas de outro planeta

FOTO: Divulgação

O cinema é uma arte que congrega muitas outras. É atuação. É drama! É dança. É poesia pura. Desde que o intelectual italiano Ricciotto Canudo apresentou o seu clássico Manifesto das Sete Artes, lá no início do século XX, o cinema passou a ser exibido como a sétima arte em nossos paradigmas mais comezinhos. Ao longo de quase 130 anos de produção e linguagem cinematográfica a registrar e construir realidades, muito rolo de filme já passou pelo projetor que plasma parte da história em nosso imaginário. E o cinema, por excelência um definidor e redefinidor de sonhos e fatos, passou a contar com um personagem fundamental e onipresente chamado marketing.

Protagonista em algumas produções, coadjuvante em outras, uma estratégia de promoção de um audiovisual faz parte de qualquer projeto. Para os blockbusters como os da Marvel, toda sorte de influencers, outdoors, sites especializados, impulsionamentos em redes sociais e demais bugigangas disponíveis no arsenal das agências de propaganda e dos departamentos de marketing dos estúdios. Para obras que figuram no Festival Sundance e em correlatos, o lobby cool, as insinuações, os bastidores a mil para amealhar as melhores críticas e alcançar um sucesso de público que seja, preferencialmente, orgânico.

Quem for aos cinemas nos shoppings hoje — praticamente não há mais cinemas nas ruas — terá à disposição no cardápio de fantasias o filme “Alien: Romulus”. Trata-se de mais um exemplar da franquia de ficção científica que nasceu no final da década de 1970. O filme que está em cartaz custou 80 milhões de dólares à Disney. Estamos falando de uma quantia considerável. Então, convenhamos, é preciso investir em divulgação e gerar um desejo para que o produto renda uma boa bilheteria, certo? Sim! Ah, e estamos falando também de um alienígena, correto? Claro! Portanto, é natural que o lançamento da obra no Brasil ocorresse em… Varginha.

Isso! O município mineiro é a terra do ET desde a década de 1990. Com visão empreendedora, a cidade e seu povo souberam converter relatos sobre vidas de outro planeta — e piadas decorrentes disso — em soft power, simpatia, turismo e muito mais. Afinal, rir de si mesmo também ajuda a construir marcas fortes. Parece que Varginha sempre soube disso — pode ter recebido conselhos de outros lugares… Enfim, a sede brasileira da estreia mundial de “Alien: Romulus” teve ônibus envelopado, presença de influencers de peso de todo o país, outdoors espalhados pela cidade e uma repercussão bastante positiva. Uma das frases mais marcantes da ação — que eu achei simplesmente fantástica — dizia assim: “Aqui em Varginha, chamamos de documentário”. Meu Deus, como eu amo a criatividade!

A saga estadunidense do alienígena começou precisamente em 1979, quando estreou “Alien, o 8º Passageiro”, dirigido pelo monstruoso Ridley Scott — que dirigiu “Gladiador”, “Blade Runner” e outras joias, além de ser também um dos produtores de “Alien: Romulus”. Um ano depois, Elis Regina cantava “Alô, Alô Marciano”, música composta por Rita Lee e Roberto de Carvalho. Elis e Rita Lee não eram deste planeta. Era muito talento e muita energia. Na década de 1980 Varginha ainda não era a capital do ET, mas as iniquidades e os vilipêndios que o terráqueo relata ao longo da letra de Rita e Roberto já eram bastante comuns. E seguem sendo. “Pra variar estamos em guerra”, diz um trecho da canção. Apesar de tantos Ridleys, Aliens, outdoors criativos, Elis e Ritas Lees, seguimos em guerra.

Nossa publicidade segue sendo muito boa.

Mas…

ET. Telefone. Fique na sua casa.


(*) Jornalista e publicitário. Professor na Univale e poeta sempre que possível. Instagram: @bob.villela | Medium: bob-villela.medium.com

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