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As viúvas da rua Rei Overtano

FOTO: Freepik

Olá, nobre leitor. O tema da coluna de hoje me veio após perder meu segundo avô na semana passada. Vô Bichara se foi, deixando muita saudade e a Vó Irany viúva. Quantas viúvas e quantos viúvos você conhece? Eu não sei ao certo, mas na Rua Frei Overtano, em Conselheiro Pena, onde fui criado, esse levantamento foi feito em um bate-papo informal: são 22 viúvas e apenas 1 viúvo.

Hoje, no Brasil, segundo o IBGE, a expectativa de vida das mulheres é de 79 anos, enquanto a dos homens é de 72 anos, uma diferença de 7 anos. No dia a dia, às vezes temos a sensação de que essa diferença pode ser ainda maior. Você já parou para pensar por que as mulheres vivem mais que os homens?

Essa pergunta não tem uma resposta fácil ou única, pois vai além de diferenças biológicas e comportamentais. Vou começar falando da diferença biológica que pode, em parte, ser responsável pelas diferenças comportamentais. Os elevados níveis de testosterona nos homens estão associados a comportamentos de risco, o que pode explicar por que os homens são mais propensos a fumar, beber excessivamente, se envolverem em acidentes de carro e brigas. Além disso, existem pesquisas que ligam a testosterona ao aumento de problemas cardiovasculares. Já os hormônios femininos trazem benefícios: o estrogênio tem um papel antioxidante e pode ajudar a manter a função celular normal e saudável, sendo um fator de proteção cardiovascular.

Mas vai além das diferenças biológicas. É fato que a mulher se cuida mais e vai mais ao médico. No ano passado, por exemplo, no Sistema Único de Saúde (SUS), foram 862 milhões de atendimentos para o público feminino contra 725,4 milhões para o masculino. Na prática médica, a maior discrepância que noto não é tanto no número de atendimentos de homens e mulheres, mas sim o momento em que procuram atendimento. As mulheres antecipam o problema, realizam consultas de rotina, diferente dos homens, que procuram atendimento após o problema surgir. Algo surpreendente é que, normalmente, os homens vêm às consultas acompanhados pelas mulheres, que os trazem.

O check-up ou consulta de rotina deve acontecer uma vez por ano. De acordo com as diretrizes de saúde, é recomendado que adultos saudáveis realizem avaliações de saúde regulares a partir dos 20 anos. Nesta consulta, o médico irá solicitar os exames indicados para cada faixa etária. Por exemplo, o exame ginecológico deve ser feito por todas as mulheres sexualmente ativas dos 25 aos 59 anos. Já a mamografia é feita anualmente após os 40 anos, e o PSA para os homens deve ser feito anualmente a partir dos 45 anos, assim como a colonoscopia, que deve ser feita a cada 5 anos a partir dos 45 anos para ambos os sexos. Já o check-up cardiovascular deve começar aos 40 anos para todos, e deve ser antecipado naqueles com histórico familiar de doenças cardiovasculares ou com sintomas.

A verdade é que não existe uma fórmula mágica ou um comprimido que garanta uma vida longa e saudável. São muitas as variáveis, mas é fato que existem mais viúvas do que viúvos na Rua Frei Overtano e devemos aprender com isso. Buscar, todos os dias, ter uma vida menos desregrada, com mais rotina, atividade física, alimentação saudável e sono adequado. E é fundamental fazer o seu check-up anual, ter um médico para chamar de seu.


(*) Dr. Lucas Bichara . Cardiologista pela USP. CRM 180164 – RQE 56184

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