Caro leitor, atear fogo na pastagem cultivada pode parecer uma alternativa atraente para renovar as pastagens e pôr fim às plantas invasoras. Geralmente, a queima é realizada no período da seca, para que as forrageiras rebrotem com as primeiras chuvas. O efeito a curto prazo é bastante positivo: pasto novo e macio para o gado se alimentar e área limpa de invasoras. No entanto, a longo prazo, os resultados são desastrosos, tanto para a pastagem quanto para o bolso do pecuarista.
Segundo pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa/Gado de Corte), essa técnica não é recomendada. Se o pecuarista transformar o capim seco em feno ou silagem, ele obtém uma produção de quatro toneladas de feno por hectare, que, consumido pelos animais, poderá gerar até 200 quilos por hectare de carne, aproximadamente 13,5 arrobas. Quando as queimadas são sucessivas, ano após ano, a pastagem pode ser totalmente destruída.
O fogo mata os microrganismos do solo; esgotam-se as reservas de crescimento das gramíneas; o capim começa a desaparecer, deixando o solo descoberto e sem proteção; a ação dos ventos e das chuvas leva os nutrientes da terra, e o solo vai ficando compactado e suscetível ao estabelecimento de algumas espécies invasoras. Depois de todos esses prejuízos, se a pastagem ainda puder ser recuperada, o pecuarista vai gastar em torno de dois mil reais por hectare para recuperá-la. O retorno do investimento levará, em média, três anos.
Riscos para bezerros – Após as primeiras chuvas depois da queimada, o pasto rebrota rápido e bonito. Logo, os produtores soltam os animais para se alimentarem da nova pastagem. No entanto, o rebrote tem muita água e pouca fibra. A mudança na concentração da pastagem provoca diarreia nos animais nos primeiros dias, pois eles acabam se alimentando somente de líquido. Esse tipo de diarreia é chamada de “diarreia verde”, processo que não indica nenhum tipo de infecção, mas que pode ser prejudicial em animais que estão iniciando o pastejo. O efeito nos animais adultos não é problemático, mas, em um bezerro, a diarreia causa desidratação e o debilita, deixando-o suscetível a contrair doenças oportunistas.
Alternativas para evitar as queimadas – Existem várias maneiras de o pecuarista evitar a queima da pastagem cultivada, como, por exemplo: diversificação das espécies de forrageiras, divisão de invernadas, consorciação com leguminosas, banco de proteínas, adubação de formação e manutenção e fazer aceiros.
No que diz respeito ao rebanho, a pesquisadora Maria Ribeiro aconselha que o produtor rural equilibre a taxa de lotação e faça rotação de pastagem com intervalo de pelo menos 30 dias, para eliminar os parasitas da pastagem. Caso o produtor não possa fazer feno ou silagem, pode optar pela suplementação com ureia.
É importante dizer que realizar queimadas não autorizadas é considerado crime ambiental, conforme a Lei nº 9.605/1998. Antes de usar o fogo, procure orientação técnica e consulte o Instituto Estadual de Florestas (IEF) mais próximo de sua região.
(*) Engenheiro-agrônomo; fiscal estadual agropecuário do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA); professor universitário; presidente da Associação dos Profissionais de Engenharia e Agronomia de Governador Valadares (ASPEA-GV); especialista em solos e nutrição de plantas e em geografia, meio ambiente e sustentabilidade.
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