A ideia da civilização como uma pirâmide de quatro faces não possui um autor explícito nem nasce como teoria formal. Ela emerge do pensamento clássico, especialmente greco-romano, quando filósofos e historiadores passaram a observar a sociedade a partir de grandes esferas da vida humana. Desde a Antiguidade, percebe-se que toda civilização organizada estrutura sua permanência sobre quatro forças fundamentais, que se equilibram e se tensionam: ciência, política, religião e arte.
Elas não surgem como áreas isoladas, mas como respostas humanas à necessidade de compreender o mundo, dar sentido à existência, organizar o poder e expressar identidade. A arquitetura é o momento em que essas forças se tornam visíveis.
Quando a política deseja afirmar poder, ela constrói. A monumentalidade arquitetônica é linguagem de escala, permanência e autoridade. No contexto brasileiro, esse gesto também se revela no cotidiano urbano: em ciclos eleitorais, obras como pontes, praças e intervenções públicas passam a ocupar a paisagem, funcionando como evidência material de ação e presença, na busca de conquistar corações.
A religião também constrói quando quer impactar. Das pirâmides incas às igrejas góticas que nasceram na Idade Média e permanecem até hoje, a arquitetura religiosa ensina, emociona e eleva. Em Ouro Preto, a multiplicidade de igrejas, algumas revestidas de ouro, revela uma fé que moldou a cidade e atravessou dezenas de anos como identidade cultural.
Quando a ciência precisa debater e perpetuar o conhecimento, ela cria seus próprios espaços. Universidades como Oxford, Bolonha, Sorbonne e Harvard são tão antigas quanto muitas das ideias que ainda estudamos. Seus edifícios se tornaram símbolos porque o saber também precisa de permanência física.
A arte nasce da necessidade humana de se expressar, mas é o tempo que a consolida. Quando olhamos para certos lugares, enxergamos mais do que edifícios. Enxergamos quem fomos. Construções que atravessam décadas ou séculos deixam de ser apenas funcionais e passam a ser lidas como arte, porque carregam memória, intenção e contexto. Diante da Torre Eiffel, do Coliseu ou de centros históricos inteiros, não se contempla apenas a forma, mas o que aquela civilização escolheu preservar e comunicar ao futuro.
Essas quatro forças atravessam o tempo e continuam agindo silenciosamente no presente. Cada pessoa é tocada de forma diferente por elas. A pergunta que fica não é qual delas é mais importante, mas qual já deixou marcas na sua forma de ver o mundo.
(*) Arquiteta e Urbanista | Entusiasta e estudiosa da arquitetura comercial e seus impactos | Instagram: @marianatorresarq | Cel.: (33) 99914-9198
As opiniões emitidas nos artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores por não representarem necessariamente a opinião do jornal.







