Todo início de temporada futebolística em nosso país é marcado por incertezas descomunais quando o assunto é saber qual plantel de atletas estará em defesa da quase totalidade de nossos clubes, não importando em que divisão figurem, mesmo aqueles que não pertencem a nenhuma divisão. Êta futebol brasileiro! E olha que “um dia” foi o melhor do mundo.
Clubes de futebol profissional no Brasil: alguns gigantes, bem estruturados, tradicionais, com belas histórias e conquistas, e que procuram se moldar à realidade dos tempos atuais. A emoção e a paixão quase sempre falam mais alto e as loucuras se sucedem. Dívidas, calotes, demandas judiciais e o “glamour” dos antigamente vai desaparecendo. Amor à camisa? Utopia. Nem pensar.
Um dia Deus criou o mundo. Tudo bem planejado. Reservou, inclusive, um dia para o descanso. Também um dia os ingleses trouxeram o futebol para o Brasil. Só que encontraram por aqui gente de todo o tipo, daí… Antigamente os jovens atletas, assistidos pelos pais em algumas situações, assinavam “contratos” com determinados clubes. Ironicamente se falava: contrato com a cláusula “até que a morte nos separe”.
Quem não se lembra de Felício Brandi e cia.? As trocas de clubes pelos atletas se operavam mediante “vendas”. O atleta nada mais era do que uma mercadoria. O tempo passou, surgiram as “diretas já”, a “democracia corintiana”, com dr. Sócrates, Casa Grande, Wladmir e outros mais. Antes, tivemos o AFONSINHO, lembram-se?
Enfim, surgiu a Lei Pelé, alterada pela Lei Zico, Estatuto do Torcedor e hoje temos considerável defesa dos interesses dos atletas e definição de direitos e deveres dos clubes, previstos na legislação.
Duas vezes ao ano temos as chamadas “janelas”, em que transferências de jogadores se sucedem. Há transações para todos os gostos, para figurões e nem tanto. De forma simplória, para não dizer irresponsável, a maioria dos nossos clubes, na previsão anual de suas receitas, inclui recursos com negociações de integrantes de seu elenco. Nem sempre tal acontece. Aí, ficam no vermelho. Por outro lado, atletas e staffs estão de olho em transferências, pouco importando com as competições da terra de Cabral. Este é o mundo atual do futebol brasileiro.
Histórias (trajetórias) como as de Pelé, Zico, Pepe, Piazza, Castilho, Nilton Santos, Mané Garrincha, Zózimo, Kafunga, Pinheiro, Altair, Telê e inúmeros outros eternizando-se em um mesmo clube, nem pensar…
O Brasil é um celeiro de craques. É voz corrente. Que assim seja ou que seja verdade. Como incentivar, fazer prosperar e colher frutos de boa qualidade no mundo do futebol? Alguém já disse e escreveu que é preciso sonhar. Sonhar um sonho possível. A legislação vigente, ainda tímida e insuficiente, assegura ao clube formador de atletas determinada participação em suas transferências ou mudanças de clubes. A participação e proteção, repita-se, é mínima e só é assegurada a clubes de futebol profissional ou alguns poucos mais bem estruturados e que participam de competições oficiais de Federações, não abrangendo LIGAS. Eis aqui o ponto central.
Há no Brasil um universo de clubes amadores em grandes, médias e pequenas cidades, onde também existem as chamadas LIGAS DE FUTEBOL AMADOR, filiadas à federação de seu respectivo estado, promovendo e fazendo realizar competições nas mais diversas categorias.
Grande parte de clubes amadores tem suas “escolinhas” de futebol, movimentando a gurizada, e que, ainda que não fabricando craques, acabam formando homens. E estão sempre participando de competições promovidas pelas LIGAS, às quais são filiados e promovem inscrições dos seus atletas mirins (com autorização paterna).
Num país que tem TIRIRICA, ROMÁRIO e outros notáveis como nossos representantes no Legislativo Federal, bom seria realizar profundo estudo na legislação esportiva vigente, valorizando direta (incentivo) e indiretamente (cessão a clube que mantém futebol profissional) clubes formadores de atletas.
Com um mínimo de estrutura, nossos clubes amadores poderiam bem adubar o terreno, semear e colher futuros craques em profusão. Vontade e paixão não faltam.
N.B. – No Coopevale Futebol Clube, no qual militamos, se opera trabalho com jovens e adolescentes em número superior a 320 (trezentos e vinte). De vez em quando “passam a rede por lá”.
(*) Ex-atleta
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