Não é do hábito vivente tomar uma dose de danação por dia. Ninguém regula a própria respiração esperando perder o fôlego, tampouco investe os lábios recém-nascidos em busca de um aleitamento envenenado. Posto que a rotina da vida é a vida. A morte é seu paradoxo necessário. Uma droga (qualquer), materializada ou em espectro, constitui um fenômeno biopsicossocial que agita o ciclo existencial, as faces da vida e as contorções da morte. Quem se droga o faz por necessidade (real ou surreal): remédio, vício, prazer. Droga é, antes de tudo, prazer, alívio imediato. Por isso atrai. Para, em seguida, apresentar o dano indelével. As correntes sempre vêm depois, com as amarras da ruína, infeccionando tudo ao seu redor. A tecnologia é uma droga. Remédio na dose certa, calibrada por crianças no parque! Prazerosa e funcional, atraente, convincente, prescrita e paradisíaca. Até cravar suas garras no dorso da humanidade, dar ordens, ditar costumes, condutas e valores, sendo a alma de tudo, em todos. Salve a teotecnocracia. Do amanhecer ao anoitecer, somos seus súditos. A pecificação do homem (uma peça) na engrenagem neoescravagista que entorpece nossa sociedade moderna. A tecnologia assume o protagonismo, as rédeas de cada corpo e mente, em processo de marginalização. Eis a droga ilícita, overdose que corrompe a vida em seus aspectos mais elementares e estruturais. Olho por olho, tela por tela e o mundo se acabando em pixels! Nosso DNA em holograma, passeando pelas vielas de Marte, replicando o Frankenstein que baixou em mim. Frankenstein pelas próprias mãos, em busca de um antídoto fóssil para ressuscitar a vida em 3D. O que seremos, quando a fé se resumir em um curso à distância, quando o lithium pulsar no coração e formatar a cabeça? Que versão de nós será peça útil quando o sol for de diodo?
(mARCos S@NTiaGo