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A sociedade atual diante dos conceitos de “Homem-Deus” e de “Super-Homem”

FOTO: Pexels

Vivemos em uma sociedade cheia de problemas e dificuldades e, com isso, não é difícil de encontrarmos pessoas pensando em meios de melhorar o mundo e a sociedade em que vivemos. Nas diferentes mídias e redes, não é raro surgirem intelectuais e especialistas nos apresentando aquilo que, em seus pensamentos, seria a sociedade ideal, isenta de problemas e o mais próxima possível daquilo que poderia ser considerado como uma sociedade perfeita.

No campo da filosofia, diversos pensadores propuseram ideias sobre a construção da sociedade ideal, e trouxeram grandes insights e ideias para serem discutidas.

Nesse texto, quero destacar duas concepções parecidas sobre como poderia ser uma sociedade “melhor”, – segundo alguns pesso – , com base no que dizem Nietzsche, e um dos personagens de Fiódor Dostoiévski em “Irmãos Karamázov”.

Ao analisar as visões desses dois, é possível enxergar grandes paralelos que podem mostrar que a sociedade contemporânea, em muitos aspectos, assemelha-se àquelas idealizadas por ambos.

Em uma parte do livro “Irmãos Karamázov”, de Fiódor Dostoiévski, o “diabo” fala a Ivan Karamázov sobre o surgimento de um novo tipo de homem que, aos seus olhos, seria visto como um deus – ou, “Homem-Deus”.

Esse novo “tipo” de homem, que iria compor a nova sociedade, seria um ser que amaria a vida “terrena”, aproveitaria e desfrutaria dos prazeres humanos sem se importar com uma possível vida futura. Um novo tipo de homem que não se importaria com o mundo espiritual, que não se importaria com o céu ou com o inferno.

Esse novo tipo de homem seria guiado pelo prazer e pelo orgulho. Dostoiévski narra, através de seu personagem, que, para esse novo tipo de homem, o prazer e as alegrias terrenas substituiriam completamente quaisquer prazeres ou alegrias que pudessem ser esperados por uma vida em um plano celestial.

Segundo o personagem de Dostoiévski, vivendo dessa forma, tal homem-Deus aproveitaria sua passagem terrena sabendo que, depois de sua morte, não existiria mais nada para se apegar ou esperar.

Segundo o personagem de Dostoiévski, só uma coisa seria necessária para o surgimento desse “tipo” de homem: a destruição da ideia de Deus.

A tese do personagem é que o ser humano deveria abandonar todo o seu conceito de Deus e suas concepções sobre o mundo espiritual para que ele possa viver sua vida plenamente feliz, se importando apenas com seu prazer e felicidade terrenas.

Dostoiévski, através de seu personagem diabólico, apresenta essa concepção desse “Homem-Deus”, um ser desprendido das preocupações espirituais, guiado pelo prazer e orgulho, alheio ao divino, e as coisas relacionadas a Deus e ao Sagrado. Essa ideia tem grande relação com a visão nietzschiana do “super-homem”, um ser autossuficiente e egoísta, desprovido da moral tradicional. Nietzsche, ao proclamar a morte de Deus, apresenta uma sociedade de super-homens regidos pela vontade de potência, que almejam a excelência em detrimento dos padrões éticos convencionais.

Na contemporaneidade, observamos uma sociedade que, de certa forma, mesmo sem saber, abraça os preceitos apresentados por Nietzsche. O individualismo eacerbado, a busca desenfreada por poder e o descaso para com os padrões éticos refletem a influência do pensamento nietzschiano. As relações interpessoais se tornaram, em muitos casos, superficiais, reproduzindo a solidão proposta pelo “super-homem” nietzschiano.

Contudo, é nosso dever questionar os “benefícios” dessa forma de vida. A sociedade atual, marcada pela competição desenfreada e desprezo pelos princípios éticos, não se mostra como um coletivo mais feliz ou virtuoso. Os valores questionáveis e o relativismo moral característicos da era contemporânea nos fazem refletir sobre a concretização da sociedade apresentada por Nietzsche. Isso deve nos levar a repensar urgentemente nossos padrões de convivência e valores sociais.

A reflexão sobre a sociedade proposta por Dostoiévski e Nietzsche converge em um ponto crucial: a necessidade de repensar o individualismo desenfreado, e os problemas causados pelo completo rompimento com a ideia de “Deus”. Dostoiévski alerta para o perigo de um “Homem-Deus” desvinculado do espiritual, enquanto Nietzsche, ao defender o “super-homem”, nos alerta para os riscos de uma sociedade excessivamente egoísta.

Diante desse panorama, torna-se urgente resgatar os princípios de solidariedade, da ética, do amor e respeito ao próximo, e do altruísmo. Reconstruir os laços sociais, redefinir o conceito de sucesso e repensar o sentido de “poder” e “felicidade” são passos extremamente importantes para trilharmos um caminho mais equilibrado e humano.

Assim, é essencial romper com os princípios dessa sociedade que, mesmo sem saber, caminha a passos largos em direção a forma de vida apresentada por Nietzsche, buscando resgatar os valores que promovam uma convivência mais saudável e significativa. Ao deixarmos de lado a busca desenfreada pelo poder individual e nos voltarmos para o bem estar social, e nos preocuparmos com a sociedade em si, poderemos construir um futuro mais promissor, não apenas para nós, mas também para as gerações vindouras.


(*) Wanderson R. Monteiro
 Dr. Honoris Causa em Literatura e Dr. Honoris Causa em Jornalismo.
Bacharel em Teologia, graduando em Pedagogia. Acadêmico Correspondente da FEBACLA.
Acadêmico Fundador da AHBLA. Acadêmico Imortal da AINTE.
Vencedor de quatro prêmios literários. Coautor de 13 livros e quatro revistas.
(São Sebastião do Anta – MG)

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