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A Primeira Pauta Ninguém Esquece

FOTO: Arquivo pessoal

Muito antes de Valadares sediar um curso de Comunicação Social, o SENAC (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial) oferecia, lá pelos anos 80/90, um curso de Técnicas de Redação Jornalística. Apaixonado que sempre fui pela escrita, influenciado pela minha mãe e por ótimos professores que tive no ensino médio — e “piolho” de cursos do SENAC, dirigido à época pelo amigo Marcos Helênio —, me matriculei nesta turma, na expectativa de aprender como se cria um texto jornalístico, entender melhor o papel do repórter e a função social do jornalismo e, de quebra, perder um pouco da timidez, essa leal companheira que me acompanhou até o final da adolescência.

O ano era 1988. O instrutor do curso se tornou um grande amigo e incentivador. Elvécio Andrade — jornalista, advogado e atualmente procurador de Justiça no Espírito Santo — trilhou um caminho formidável na comunicação em Valadares. Passou por vários órgãos de imprensa, incluindo o Diário do Rio Doce, prestou assessoria de imprensa para diversas instituições e, de alguma forma, inspirou dezenas de colegas que se aventuraram um dia na arte de transmitir o fato, a notícia. Lembro-me de uma das definições que ele dava sobre o bom repórter:

— Além de saber escrever e interpretar o fato, o repórter tem que ter um bom preparo físico — afirmou.

É claro que a turma inteira caiu na gargalhada. Algum tempo depois, entendi, de alguma forma, o sentido daquilo: o repórter precisa mesmo ter pique para acompanhar acontecimentos de perto ou se safar de situações de risco iminente à integridade física.

No ano seguinte, mais ou menos nesta época — finalzinho de junho, começo de julho —, soube que o Diário do Rio Doce estava “recrutando” jovens talentos para atuarem como repórteres na cobertura histórica da primeira eleição direta para presidente desde 1960. Fui até a redação, no número 231 da Bárbara Heliodora. Subi aquelas escadas suando frio, imaginando como seria aquela oportunidade. Me levaram até a sala do editor. Fui muito bem recebido por um certo Irineu Rodrigues, que estranhou a minha idade. Eu ainda nem tinha completado 17 anos. Mas estava ali, animado com a possibilidade, e encarei tudo com certa naturalidade.

Recebi, à época, a primeira de três pautas. Numa delas, o tema era a possibilidade do uso de metanol na indústria automobilística nacional (sim, isso foi cogitado no final dos anos 80!). Fui até o Colégio Promove, onde tive a honra de ter como primeiro entrevistado o professor Marcelo Melo — até os dias de hoje, um dos melhores professores de Química em Valadares.

Conversamos por quase meia hora e o resultado foi uma matéria simples, com apenas uma lauda e uma foto do mestre. A matéria foi publicada com algumas correções, e até hoje tenho esse material guardado com muito carinho. Outras pautas vieram e, logo depois, a proposta de trabalho no glorioso DRD. Mas… ainda não era a hora.

Embora o teste fosse para um trabalho intenso durante o período pré-eleitoral, optei por me preparar para o vestibular que aconteceria no final daquele ano. Além disso, ainda estava terminando o Terceirão. E tudo acontecia de forma muito acelerada.

Em março de 1990, já na faculdade, o telefone de casa tocou. Meus pais atenderam e me chamaram em seguida. Meu pai não conseguiu esconder o sorriso:

— É do Diário! — exclamou, entusiasmado.

E não é que era o próprio Irineu me convidando novamente para o cargo de repórter? Era o começo de um grande sonho. Logo no dia seguinte, comecei — empolgado — uma trajetória que hoje já dura mais de três décadas, fazendo o que mais gosto.

Infelizmente, por uma série de situações e projetos de vida, fiquei apenas cinco anos naquela redação incrível, ao lado de nomes históricos do jornalismo valadarense (é claro que não vou citá-los aqui, não neste momento, pra não correr o risco de cometer alguma injustiça).

E foi assim que o DRD entrou na minha vida.

Já ouvi gente falando por aí que me tornei jornalista por acaso, fruto das aulas de Português e da minha timidez (essa é uma outra história…). Mas, diante de tanta coisa importante e bonita que já vivi em todos esses anos de jornalismo, fico com a frase do saudoso Henfil:

“Enquanto acreditarmos em nossos sonhos, nada será por acaso.”


(*) EDSON CALIXTO JUNIOR é escritor, teólogo e jornalista. Trabalhou no Diário do Rio Doce, Rádio Globo/CBN, Rede Novo Tempo de Comunicação, foi assessor de imprensa na Assembleia Legislativa do Paraná (2003 – 2010). Atualmente é servidor público federal.

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