Antes de conhecer outros países, eu pensava que as grandes filas para tudo só existiam no Brasil. As filas, em nossa grande pátria, já viraram parte da cultura nacional. Não as aquelas pequenas e que andam rápido, mas as longas e intermináveis.
As filas servem para organizar a entrada e/ou atendimento em locais públicos ou privados, isto segundo nosso português tupiniquim. A grande maioria não sabe, mas a palavra fila vem do francês “fil“, corda, fio e que no latim “filum”, tem o mesmo significado. Em Portugal tem o mesmo significado. É uma série de coisas e animais dispostos em linha recta. Nossos irmãos lusitanos chamam fila de bicha. A palavra bicha, no novo dicionário da língua portuguesa de Cândido de Figueiredo, editado em 1939, pela editora Bertrand, é associada a “qualquer objecto que, pelo seu feitio ou movimento sinuoso, dá ideia de um réptil”. Em outro sentido, atribui-lhe ainda, o de “fileiras de pessoas ou de coisas umas atrás das outras”.
Ah! Ouvimos muito a expressão “fila indiana”. Podem pensar que a expressão tenha suas raízes na Índia. Nada disto! Fila indiana quer dizer, de índios, mesmo! A hipótese mais aceita é que a expressão descreve o modo dos indígenas andarem enfileirados pelas trilhas das matas. A história registra que quando os guerreiros indígenas se deslocavam pelas florestas, cada um pisava na pegada da pessoa da frente, para que o último apagasse seus passos e não deixasse rastros para o inimigo.
A palavra fila também serve para designar uma raça de cães, o que não é tema deste nosso colóquio.
Outros significados de fila
Em nosso amado país, existem filas para tudo, de Norte a Sul e de Leste a Oeste, nos mais longínquos rincões e nas mais pequenas comunidades. Fila da padaria, do açougue, dos caixas dos supermercados, da bilheteria e entrada dos estádios de futebol, da farmácia. Atualmente, as maiores são as temidas filas dos bancos.
Chega a ser muito complicado para um brasileiro entender – e nem se fale de um estrangeiro que aqui aporte – sobre as intermináveis filas nos estabelecimentos bancários. Tem fila para entrar para pegar uma senha e outra para ser atendido. É uma luta após outra. Ir em um banco tornou-se uma saga heroica e se gasta muitas vezes um dia inteiro entre o tempo nas filas e a resolução efetiva do problema.
Durante nossa trajetória de vida na urbe, entrando em muitas filas mundo afora, vimos que a maioria delas é “quase” igual em quaisquer locais, com uma sutil diferença: há mais respeito com quem está na fila e ela anda mais rápido, principalmente nos órgãos públicos e pontos turísticos.
Mas nem tudo é ruim nas filas, que já viraram instituições nacionais!
Como o cidadão passa um bom tempo nelas, consegue fazer amizades nas conversas e fica sabendo das notícias de sua cidade e do mundo. Fica também conhecedor muitas vezes de receitas de culinária e experiências de outras pessoas, que certamente não teria oportunidade se não estivesse em uma fila.
‘Trabalhadores de filas’
O fato engraçado nas filas em terras tupiniquins, é que existem aqueles que “guardam lugares”. Mais uma profissão criativa dos nativos. São “trabalhadores” que dormem nos locais onde se formarão as filas e cobram certa quantia para “cederem” sua posição.
Aliás antigamente, quando era criança em minha terra natal, acontecia muito nas agências do antigo INPS/INAMPS.
E existem muitas filas em que, quando você pergunta se é o último, a pessoa lhe responde que há umas dez pessoas atrás dela. Mas como? Aí é que vem o jeitinho brasileiro. Uma está no banheiro e as outras voltam logo, pois foram só ali! Isso é muito comum em nosso país.
O fato é que as filas viraram patrimônio nacional, pois ninguém quer acabar com elas. As indianas são as mais utilizadas, mas ao contrário dos indígenas, os “cara pálidas” não apagam seus rastros.
Certamente esse “instituto” tão cedo terá um fim, mas só para consolo, por que não olhar o fenômeno pelo seu lado positivo, ou seja, a socialização?
ENFRENTEMOS, ENTÃO, A NOSSA FILA DE CADA DIA!!!
(*) Advogado militante – Coronel da Reserva da Polícia Militar.
Curso de gestão estratégia de segurança pública pela Academia de Polícia Militar e Fundação João Pinheiro
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