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A dor invisível da ausência paterna

FOTO: Freepik

Muitas pessoas que cresceram com o pai por perto, dividindo o mesmo teto e convivendo na rotina diária, acreditam que podem afirmar que tiveram um pai presente. No entanto, a experiência clínica e a escuta de tantas histórias mostram que a presença física não é garantia de presença afetiva. Estar em casa não significa estar disponível para o filho e é por isso que precisamos refletir sobre duas formas distintas, mas igualmente impactantes, de ausência paterna: a física e a emocional.

A ausência física é mais visível. Ela acontece quando o pai não está no cotidiano da criança, seja por separação, falecimento, abandono ou pela própria dinâmica profissional que o mantém distante. Essa falta é concreta e pode gerar uma sensação de vazio imediato, facilmente reconhecida.

Já a ausência emocional é silenciosa e, por isso, mais difícil de perceber. O pai até está presente fisicamente, mas não se envolve na vida do filho. Não participa das conversas, não demonstra afeto, não acompanha conquistas nem dá suporte diante das dificuldades. Esse tipo de ausência pode ser ainda mais doloroso, porque tem o poder de gerar na criança sentimentos de abandono, tristeza e raiva.

Consequências profundas podem ser deixadas na vida da pessoa, por ambas as formas de ausência, impactando diretamente a autoestima, a forma de se relacionar e até mesmo as escolhas profissionais. Muitos adultos carregam marcas da ausência paterna sem sequer perceber de onde vêm suas inseguranças, medos ou dificuldades de estabelecer vínculos saudáveis.

Mas é importante ressaltar que a ausência paterna não é um destino, mas sim,  um desafio que pode ser superado. Nesse caminho, a psicoterapia tem um papel essencial, oferecendo espaço seguro para revisitar feridas e construir novas formas de estar no mundo, pois, reconhecer as próprias dores é o primeiro passo para transformar a relação consigo mesmo e com os outros.

E mesmo quem não pode, neste momento, buscar acompanhamento profissional pode iniciar um processo de autoconhecimento. Vale refletir: como você se enxerga? Gosta da sua forma de ser e de agir? Tem coragem para enfrentar seus próprios desafios? E como estão suas relações? Você consegue construir vínculos saudáveis ou repete padrões que trazem frustração? Essas perguntas não trazem respostas prontas, mas ajudam a abrir caminhos.

Entender a ausência paterna é, acima de tudo, compreender que o passado nos marca, mas não nos aprisiona, que sempre é possível ressignificar experiências e escrever uma nova história. Afinal, cada um de nós é o autor da própria vida, e assumir esse papel é o que nos permite transformar dor em aprendizado e ausência em força.

Isso significa que, por mais difícil que tenha sido a experiência com a ausência paterna, ela não precisa definir quem você é ou limitar os caminhos que pode trilhar. A vida adulta nos dá a oportunidade de reconstruir relações, fortalecer laços saudáveis e criar novas referências para nós mesmos e para as próximas gerações. Ser pai, mãe ou cuidador presente é também uma escolha consciente de interromper ciclos de dor e oferecer aos filhos a oportunidade de um desenvolvimento emocional mais saudável.


(*) Eliene Lima – psicóloga, mestre em Psicologia Social

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