Quando se pergunta por que uma região é mais desenvolvida e outras são problemáticas, quase sempre a tendência é culpar os políticos. A questão é bem mais complexa. Os desequilíbrios regionais no processo de desenvolvimento social e crescimento econômico estão ligados a vários fatores, mas principalmente ao modo como se constituiu cada uma das regiões. Esse assunto é importante porque a distância que separa uma região de outra, do ponto de vista do desenvolvimento socioeconômico, cultural e tecnológico, tende a aumentar com o passar do tempo. As regiões com pouco vitalidade econômica – esse é o ponto central da questão – tendem a continuar a perder força, enquanto as mais ricas tendem a aumentar suas vantagens. Nos últimos 60 anos, a tendência que prevalece para a bacia do rio Doce, particularmente para as regiões intermediárias de Ipatinga e Governador Valadares, é de decrescimento econômico e esvaziamento demográfico. O oposto ocorre com as regiões intermediárias de Uberlândia e de Uberaba.
A desigualdade socioeconômica é o que, em essência, conforma a região: a distribuição de renda, pobreza, habitação, educação, nutrição, saneamento (água, esgoto), bem como o acesso a empregos e recursos produtivos, constituem os indicadores significativos para determinar se existe vitalidade ou prevalecem as tendências estagnantes. Para os municípios de Governador Valadares e Ipatinga e suas respectivas regiões intermediárias, as tendências estagnantes foram reforçadas nessa década, o que impõe o desafio de alterar o curso dos acontecimentos em “nova” direção e de conduzir os municípios e suas populações para uma história diferente daquela que teremos daqui a uma década, se nada for feito. Teremos mais desigualdade, mais pobreza, mais estagnação. A maioria dos nossos municípios está na cota de 10 mil e 5 mil habitantes, com estagnação ou perda de população a cada recenseamento.
Nos últimos 30 anos, a Universidade Vale do Rio Doce (Univale) tem contribuído ativamente no processo de reflexão dos graves problemas regionais, ambientais e urbanos da região do Médio Rio Doce, ou seja, das duas regiões intermediárias mencionadas (Governador Valadares e Ipatinga). A Univale tem se mostrado uma universidade que, no lugar de acomodar e buscar respostas prontas, tem o compromisso de realizar pesquisa e desenvolver o pensamento crítico, de modo permanente. Esse compromisso da Univale foi estabelecido desde seu estatuto de criação, em 1967.
A Univale aprovou em 2005 um plano diretor para a construção da proposta de um Programa de Mestrado em Gestão Integrada do Território (GIT). Em 2008 a proposta foi aprovada pela CAPES e o Mestrado iniciou suas atividades em março de 2009. O Mestrado fundamentou sua proposta no contexto regional e institucional, em conformidade com a missão e os compromissos da Univale e de sua mantenedora, a Fundação Percival Farquhar. A Univale buscou reunir um quadro de pesquisadores com doutorado, em diversas áreas, para juntos organizarem a proposta do curso de Mestrado. O grupo encontrou na realidade regional os fundamentos acadêmicos, institucionais e sociais para desenvolver uma proposta inovadora e cujo mérito foi reconhecido pelos avaliadores. O objetivo não parava nos estudos dos problemas regionais, pois o compromisso sempre foi contribuir para a gestão integrada do território, criando inteligência territorial capaz de reverter as situações existentes e a tendência de estagnação.
A reversão da nossa tendência estagnante exige a formação de pessoal especializado e altamente capacitado, para o desenvolvimento de trabalhos de caráter multi e interdisciplinar. A Univale tem cumprindo um papel de fundamental importância, nesse contexto, na formação de pessoal de nível superior e de promover pesquisas e ações voltadas para o desenvolvimento territorial. O contexto regional que forneceu os fundamentos para a proposta de criação do Mestrado na área de Gestão Integrada do Território agora demanda avançar para a implantação do Doutorado. Nesse sentido, a Univale e a Fundação Percival Farquhar colocaram como meta para 2021 o encaminhamento para a CAPES da proposta do Doutorado em Gestão Integrada do Território.
Esse passo decisivo somente será possível porque foram 10 anos de muito esforço coletivo de professores e alunos do Mestrado, além do apoio permanente de todos os cursos de graduação da Univale. Para o sucesso, foi decisivo ampliar os intercâmbios e cooperações acadêmicas nacionais e internacionais, mas de modo especial se destacam as parcerias com o IFMG/GV e a UFJV/GV. É importante também realçar os vínculos com a sociedade e os poderes públicas como marcas permanentes do GIT. As pesquisas e as ações desenvolvidas ao longo dessa década foram resultados do planejamento estratégico e da governança, que possibilitaram acumular uma experiência interdisciplinar. As ações e pesquisas conjuntas envolveram diversas áreas do conhecimento e professores dos diferentes cursos de graduação da Univale. Assim se conseguiu avançar e hoje estamos em condição de propor o Doutorado.
(*) Professor do Curso de Direito da Univale
Professor do Programa de Mestrado em Gestão Integrada do Território – GIT
Doutor em História pela USP
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