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Por que a Psicanálise funciona

por Dr. Lucas Nápoli (*)

Que a Psicanálise é um método eficaz de tratamento de transtornos psicológicos, disso pouca gente hoje em dia duvida. Aqueles que suspeitam dessa constatação são mal informados (não estão a par, por exemplo, das inúmeras pesquisas feitas sobre a eficácia da terapia analítica) ou nutrem uma antipatia gratuita pelo método freudiano, frequentemente carregada de ressentimento e inveja.

Por outro lado, poucas pessoas sabem o que, de fato, se passa num tratamento analítico. Por isso, desconhecem os processos de transformação que são fomentados por uma Psicanálise, os quais garantem a eficácia terapêutica do método. Tendo em vista esse contexto, pretendo neste artigo apresentar uma breve introdução aos bastidores de uma Psicanálise, isto é, uma apresentação preliminar da dinâmica que está por trás das interações concretas, que acontecem entre analista e paciente, num consultório psicanalítico.

Primeiramente, é relevante chamar sua atenção, caro leitor, para o que leva uma pessoa a procurar a ajuda de um psicanalista. Existe uma variedade imensa de quadros psicopatológicos, que motivam uma consulta a um profissional de saúde mental. Contudo, podemos dizer que todas as formas de adoecimento psíquico compartilham um aspecto comum: a perturbação das relações do sujeito com a realidade. Por exemplo: uma pessoa acometida pelo chamado “transtorno obsessivo-compulsivo (TOC)” apresenta pensamentos obsessivos e atos compulsivos que não estão em sintonia com a realidade. O sujeito pode, por exemplo, considerar que se não lavar as mãos dez vezes, após usar o banheiro, estará contaminado com uma doença gravíssima. Tal pensamento [e a compulsão por lavar as mãos] está claramente baseado numa relação distorcida com a realidade, certo? Outro exemplo: a depressão. Uma pessoa deprimida mantém-se triste, abatida e desanimada, sem que as suas condições atuais de vida justifiquem tal estado emocional. O indivíduo pode ter conquistado tudo o que gostaria, nas diferentes áreas da vida e, mesmo assim, estar deprimido. Ou seja, seu estado emocional não está correspondendo proporcionalmente à sua realidade de vida.

Portanto, podemos dizer que uma pessoa procura um psicanalista (ou qualquer outro profissional de saúde mental) quando existe um descompasso entre o que ele pensa, sente e faz, e as condições reais de sua existência. Em outras palavras, trata-se de um problema de adaptação à realidade.

Como a teoria psicanalítica explica essa perturbação nas relações do sujeito com a realidade? Trazendo à baila a outra realidade com a qual nos relacionamos: a realidade psíquica. É nessa dimensão interna da realidade que encontraremos as razões pelas quais a pessoa, que procura a ajuda de um psicanalista, não está conseguindo se adaptar à realidade externa de modo satisfatório.

Freud descobriu que na realidade psíquica existem basicamente três elementos: o eu (dimensão mais diretamente ligada à realidade externa), uma parte do eu, que abriga princípios de conduta e normas de comportamento internalizados desde criança (supereu) e uma dimensão mais primitiva da mente (o isso), que contempla os impulsos biológicos que brotam do corpo, como a pulsão sexual. Da relação entre esses três elementos é que emerge a saúde ou a doença psíquica. Quando o eu consegue conciliar as demandas da realidade externa com os interesses do supereu e do isso, ele se mantém satisfatoriamente adaptado à realidade e não precisa adoecer. Por outro lado, quando o eu se mostra frágil e inseguro e se torna refém das imposições do supereu e do isso, o resultado será o adoecimento psíquico. Afinal, para não se desorganizar, o eu terá que renunciar às demandas da realidade externa em prol dos interesses do isso e do supereu. O eu faz isso distorcendo sua relação com a realidade, criando sintomas, inibições e disparando a ansiedade em situações inoportunas.

A Psicanálise funciona na medida em que fortalece o eu do paciente, para que ele se torne capaz de lidar com os imperativos do supereu e as demandas do isso, de uma forma que não seja subserviente. Esse fortalecimento do eu se dá, mediante a relação que o paciente estabelece com o analista. O profissional exerce a função de um aliado do eu do paciente, nas batalhas vivenciadas na realidade psíquica. Graças à relação de confiança, estabelecida com o analista, o eu do paciente vai, pouco a pouco, adquirindo a força necessária para encarar, sem medo, os interesses do supereu e do isso. Assim, o eu vai, paulatinamente, readquirindo sua autonomia e tornando-se soberano na realidade psíquica. O supereu e o isso não desaparecem, mas perdem o lugar autoritário que ocupavam na época da doença. Readquirindo seu lugar de soberania, o eu pode voltar a ter uma relação harmônica com a realidade, o que lhe permite renunciar a seus sintomas, inibições e ansiedade desproporcionais.

Dr. Lucas Nápoli – Psicólogo/Psicanalista, Doutor em Psicologia Clínica (PUC-RJ), Mestre em Saúde Coletiva (UFRJ), Psicólogoclínico em consultório particular,  Psicólogo da UFJF-GV, Professor e Coordenador do Curso de Psicologia da Faculdade Pitágoras GV e autor do livro “A Doença como Manifestação da Vida” (Appris, 2013).

As opiniões emitidas nos artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores por não representarem, necessariamente, a opinião do jornal.

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