As falas e os compromissos assumidos por pecuaristas de diferentes biomas como da Amazônia, do Cerrado e do Pantanal marcaram o evento “Vozes da Pecuária”, realizado em 24 de setembro, em Brasília. Organizado pelo movimento Pecuária Tropical pelo Clima, o encontro apresentou à sociedade brasileira e à comunidade internacional uma Carta Aberta e um Chamado à Ação que reforçam a busca por uma pecuária mais sustentável, inclusiva e transparente.
De imediato, chamou minha atenção a frase da pecuarista Carmen Bruder:
“A pecuária tropical brasileira é diversa, resiliente e parte da solução climática. Precisamos ser reconhecidos por isso.”
Essa afirmação, feita por quem vive a rotina do campo, é uma resposta à imagem distorcida que muitas vezes circula sobre o setor. Foi emocionante perceber que os pecuaristas não estavam ali para se justificar, mas para assumir compromissos concretos: combater o desmatamento ilegal, ampliar a rastreabilidade, aumentar a eficiência produtiva e valorizar quem mantém as florestas em pé.
Um setor que pede para ser ouvido
Ao acompanhar as falas, ficou claro que os desafios vão além da porteira: insegurança jurídica, barreiras comerciais e a necessidade de políticas públicas específicas para a pecuária tropical. A Carta Aberta afirma:
“Queremos sistemas produtivos de baixo carbono, uso inteligente da terra e reconhecimento das soluções que já nascem no campo.”
Essa frase, para mim, é um convite à reflexão. Quantas vezes ignoramos as soluções que brotam dentro da porteira porque não damos voz a quem as constrói?
O “Chamado à Ação”, lido pelo pecuarista e pesquisador Ubarno de Abreu, trouxe um alerta essencial:
“É preciso criar mecanismos econômicos, como pagamentos por serviços ambientais e acesso ao mercado de carbono, para valorizar quem cumpre a lei.”
E completou:
“A nova pecuária já está em curso e será mais forte com governo, mercado e campo caminhando juntos.”
São palavras que ressoam para além dos pecuaristas — falam de um Brasil que precisa aprender a reconhecer e apoiar quem produz de forma correta.
Vozes que inspiram
O evento trouxe discursos que misturam história, emoção e visão de futuro.
O pecuarista Mauro Lúcio Costa, da Amazônia, lembrou:
“Antes de aprender a lidar com gado, a primeira coisa que um pecuarista precisa aprender é depositar fé na terra — porque com conhecimento, a terra vai nos responder.”
E como não se emocionar com a fala de Ida Beatriz, do Pantanal?
“A mulher na pecuária não é coadjuvante, ela é protagonista. Traz ciência, estratégia, paixão e um olhar singular para as pessoas e para a natureza.”
Foram vozes que mostraram a dimensão humana da pecuária.
Cacau Guardieri, da Morada Comum, sintetizou bem:
“O manejo mais importante da vida é o humano — são as pessoas que fazem a diferença.”
Essas falas me lembram que, por trás da carne que chega à mesa de milhões, existem pessoas, histórias e valores que precisam ser contados.
Outro momento marcante foi a fala do Aldo Rebelo, ex-ministro, e ex-deputado (MDB), da Fundação Ulysses Guimarães, que reforçou a importância social e cultural da atividade:
“Por que precisamos homenagear e reconhecer o papel da pecuária no Brasil? Em primeiro lugar, por sua importância social. A atividade garante acesso a alimentos de qualidade a preços acessíveis. Precisamos valorizar não apenas a produção, mas também a cultura que a pecuária ajuda a sustentar: literatura, música e culinária. Hoje celebramos uma atividade essencial para o Brasil e para o mundo, que garante alimento, cultura e desenvolvimento.”
As palavras de Aldo lembram que a pecuária é mais do que um setor econômico: é parte da identidade cultural e da soberania alimentar do país.
A comunicação como chave de transformação
Se existe um ponto que ficou evidente no “Vozes da Pecuária”, foi a necessidade de melhorar a comunicação do setor com a sociedade.
A pecuária tropical brasileira tem histórias de sustentabilidade, inovação e preservação, mas essas narrativas muitas vezes ficam restritas ao campo e não chegam ao público urbano.
Esse evento mostrou que dar voz aos pecuaristas é fundamental para aproximar campo e cidade e combater desinformações que ainda rondam a atividade. A força da comunicação transparente é capaz de construir pontes e gerar confiança.
A importância para as futuras gerações
Embora tenha acompanhado à distância, vejo no “Vozes da Pecuária” um ponto de virada para o setor — e, sobretudo, para nós, jovens.
Se a geração anterior abriu estradas no sertão, como disse Leonardo Leite de Barros, hoje cabe à nova geração abrir caminhos de diálogo, inovação e sustentabilidade.
A Carta termina com um convite que não poderia ser mais atual:
“Juntos, podemos construir um futuro mais justo, sustentável e próspero para todos.”
O futuro do agro — e do planeta — depende das escolhas que fazemos agora. Para as novas gerações, fica a missão de ser ponte entre tradição e tecnologia, entre produção e preservação, entre campo e cidade.
Saio desta leitura convicta de que a pecuária brasileira tem, sim, desafios enormes, mas também oportunidades únicas de liderar uma agenda climática positiva.
Quer saber mais sobre esse movimento que está transformando a pecuária brasileira?
Acesse: www.pecuariapeloclima.org e acompanhe também no Instagram: @pecuariapeloclima.
(*) Maria Tereza Magalhães, publicitária e pioneira na região em estratégias de comunicação e marketing para o agronegócio, é diretora da Agência Maria Tereza Agrocomunicação e influenciadora do agro.
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