Nas redes sociais, bastam poucos cliques para que frases carregadas de hostilidade ganhem espaço público. Comentários agressivos, julgamentos impiedosos e discursos de ódio se espalham em velocidade alarmante. Curiosamente, muitas dessas mesmas pessoas que atacam ferozmente online provavelmente jamais sustentariam tais palavras frente a frente. Mas por que isso acontece? A psicologia tem algumas respostas.
Primeiro, há o efeito de desinibição online. Em ambientes virtuais, a ausência do contato visual e da reação imediata do outro reduz a empatia momentânea. A
tela funciona como um “escudo psicológico” que distancia o indivíduo das consequências emocionais de seus atos. Sem ver a expressão triste ou o desconforto de
quem recebe a ofensa, torna-se mais fácil liberar impulsos agressivos.
Além disso, o anonimato parcial mesmo quando o nome real aparece, o ambiente online transmite uma sensação de proteção — cria uma percepção distorcida
de impunidade. É como se o espaço virtual fosse um território onde regras sociais são mais flexíveis, abrindo caminho para comportamentos que dificilmente ocorreriam numa conversa presencial.
Outro ponto relevante é o fenômeno de grupo. Quando várias pessoas expressam opiniões extremas juntas, cria-se uma espécie de validação coletiva. A agressividade se “normaliza” e quem observa sente-se autorizado a seguir o mesmo tom. A psicologia social chama isso de desindividualização: a identidade pessoal se dilui no grupo, e comportamentos mais radicais emergem.
Mas há algo ainda mais profundo: muitas vezes, o discurso de ódio nasce não da força, mas da fragilidade emocional. Frustrações, inseguranças e sentimentos de impotência podem ser projetados sobre figuras públicas, minorias ou até desconhecidos. A internet, nesse contexto, torna-se um palco onde se despeja aquilo que
não se sabe nomear ou elaborar internamente.
No entanto, esse comportamento não é inevitável. Desenvolver consciência emocional e senso de responsabilidade digital é fundamental. Antes de comentar ou
compartilhar, vale uma pausa: “Eu falaria isso pessoalmente? Qual impacto minhas palavras podem ter no outro?” Pequenos gestos de autorregulação têm poder transformador.
Por trás de cada perfil existe uma pessoa — com história, emoções e vulnerabilidades. A tela pode nos separar fisicamente, mas não deveria nos desumanizar emocionalmente.
(*) Psicóloga – CRP 04/62350, pós graduada em Neuropsicologia pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)
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