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O Autoritarismo e o avanço das medidas antidemocráticas na política brasileira

IMAGEM: Freepik

Ah, a democracia… Esse capricho iluminista, essa mania de querer ouvir todo mundo, de dar voz a quem pensa diferente, de permitir que cada cidadão tenha sua fatia de poder. Uma verdadeira extravagância, diriam aqueles que anseiam por tempos mais “ordeiros”, onde um líder forte decide por todos e a população apenas obedece. Afinal, pra que essa bagunça de eleições, debates e instituições independentes, não é mesmo? Nos últimos anos, certos setores da sociedade vêm trabalhando arduamente para nos convencer de que a democracia é um luxo dispensável. A imprensa livre? Um problema a ser resolvido com investigações e processos seletivos. O Judiciário independente? Uma pedra no sapato de quem quer governar sem amarras. As eleições? Bom, se o resultado não agrada, por que não contestar até o infinito e além? O jogo democrático, para esses entusiastas do autoritarismo, só vale quando a vitória lhes pertence. Isso cabe para todas as ideologias.

Mas sejamos justos: a democracia tem mesmo suas falhas. É cansativo ter que respeitar opiniões divergentes, conviver com uma oposição que insiste em existir, prestar contas de cada ato. E ainda tem aquele negócio de direitos individuais, que impede governantes de fazer o que bem entendem com a vida dos cidadãos. Uma chatice sem fim para quem sonha com o retorno dos tempos gloriosos do “manda quem pode, obedece quem tem juízo”. No entanto, antes que nos entreguemos de vez ao delírio de um governo forte, que concentra poder e silencia críticos, é bom lembrar que a democracia não surgiu como um capricho moderno. Ela foi a resposta às arbitrariedades de reis e ditadores, a forma encontrada para que ninguém mais decidisse sozinho sobre a vida de milhões. E convenhamos, se há algo pior do que uma democracia barulhenta, imperfeita e conflituosa, é um regime que reduz o povo ao silêncio e à obediência cega.

Aqueles que hoje pregam o fim das instituições democráticas deveriam, no mínimo, estudar um pouco de história. Os regimes que eliminaram a liberdade de imprensa, perseguiram opositores e desmontaram a separação entre os poderes não terminaram bem. Mas, claro, sempre há quem acredite que desta vez será diferente, que desta vez o autoritarismo será “do bem”, que não haverá excessos nem abusos. Pobres ingênuos ou cínicos, tanto faz. Se há algo que aprendemos nos últimos séculos é que o obscurantismo não pode mais voltar. A democracia, com todos os seus defeitos, ainda é a melhor invenção política que tivemos. Sem ela, não há garantias de nada: nem de liberdade, nem de segurança, nem de direitos. Sem democracia, só resta a vontade de quem está no topo, e a submissão de quem está embaixo. “Liberdade, essa palavra, que o sonho humano alimenta, que não há ninguém que explique, e ninguém que não entenda.” (Cecília Meireles)


(*) Jornalista e escritor. Especialista em Ciência Política

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