Quando comecei a escrever artigos e enviá-los para jornais, isso há mais de 8 anos, no início do ano de 2016, eu ouvia, de muitas fontes e lugares, muitas coisas relacionadas a ideia de que “Deus” não tinha mais espaço em nenhum tipo de mídia. Que a simples menção, mesmo indireta, à crença em Deus já era motivo para que, tanto o texto como o seu autor, fossem rejeitados para todo o sempre, tendo todas as portas fechadas de maneira que tais textos nunca viessem à luz.
Influenciado por esse pensamento, em meus primeiros anos escrevendo artigos eu não abordei diretamente a ideia de Deus, nem coisas relacionadas diretamente à Ele, de modo que, em meus primeiros artigos, eu abordava ideias sobre a nossa sociedade, sobre política, e sobre filosofia (assuntos que ainda sempre abordo, como os leitores já sabem). Artigos relacionados diretamente com temas religiosos eram deixados de lado por mim, e as ideias principais destes possíveis artigos com temática religiosa eram abordados pela ótica da Filosofia. William Lane Craig, filósofo e apologista cristão, em seu livro “Filosofia e Cosmovisão Cristã” nos diz que, nas universidades americanas a ideia de Deus estava sendo completamente retirada do debate público, de maneira que o único meio, e refúgio, que restava para se poder argumentar sobre os princípios cristãos era, pura e tão somente, as cátedras de Filosofia. Dessa forma, a matéria de Filosofia se tornou a válvula de escape onde muitos ainda podiam abordar princípios e temas religiosos. Esse também foi o caminho trilhado por mim em muitos de meus textos, de maneira que a filosofia assumiu o posto indicado por Etienne Gilson, filósofo e historiador francês, quando o mesmo postula que “A filosofia é serva da teologia”.
Além dos artigos para jornais, também já havia escrito outros textos onde a temática religiosa era tratada de forma indireta e podia ser percebida nas “entrelinhas” por meio de analogias e símiles, pois, como disse, sempre ouvia que assuntos relacionados a Deus e a religião não eram vistos com bons olhos, muito menos aceitos para a publicação. Com o tempo, comecei a arriscar e abordar tais temas diretamente em meus artigos. Inicialmente, isso foi feito com uma frequência baixa, ainda receoso. Tudo isso mudou depois que tomei conhecimento do trabalho da escritora Berenice Souza Miranda, quando a ouvi falar de seu livro “Do Casulo à Borboleta”.
Berenice deu uma entrevista para a também escritora Verônica Moreira, em seu programa “Ver Arte”, para falar do lançamento da coletânea “NÓS, Apaixonar-se é Preciso”, idealizada e organizada por ela. Na ocasião, Berenice abordou várias vezes temas e ideias religiosas, falando abertamente sobre Deus e sua fé, também falou de um romance cristão que ela tinha escrito em sua adolescência, onde abordava o tema da conversão e da fé em Deus. Na época da entrevista, como muitas das pessoas que começam a escrever, eu tinha o desejo, muito distante, quase impossível de se tornar real, de algum dia vir a fazer parte de uma academia de letras.
Berenice, por sua vez, já era acadêmica de renome, pessoa conhecida e de extrema importância na cena literária e cultural de sua região. De maneira que, ao ver uma acadêmica como ela falando tão abertamente sobre Deus e sua fé, com entusiasmo e demonstrando vasto conhecimento, e nenhum receio, tive meus olhos abertos, completamente escancarados, ao perceber, pelo exemplo de Berenice,
que “Deus ainda tem espaço na academia” (frase essa que eu disse em meu agradecimento à própria Berenice quando me tornei membro da Federação Brasileira dos Acadêmicos das Ciências, Letras, e Artes – a FEBACLA -, pois o exemplo dela me fez enxergar isso).
Como seres humanos, todos somos influenciados de diferentes formas, e uma das influências mais poderosas que recebemos é a influência religiosa. O componente religioso, proveniente da fé, tem a capacidade de moldar todo o nosso ser, incluindo nossa maneira de pensar, e de enxergar e compreender o mundo. Como consequência, a fé impacta diretamente a obra de um escritor, ou escritora, mesmo que ele/a não perceba. A obra de Berenice é completamente influenciada, intencionalmente, por sua fé. Como consequência disso, somos impactados e influenciados pelo seu ótimo trabalho.
Dessa forma, a obra e a coragem de Berenice abriram os meus olhos para uma realidade que eu ainda não conhecia, a realidade de que ainda existem portas abertas para aqueles que, de uma forma ou de outra, são influenciados pelo pensamento e pela fé cristã.
O exemplo de Berenice foi espantoso por ir contra tudo o que tinha chegado até mim até então, de maneira a quebrar todos os paradigmas e mudar toda a minha percepção através de uma única entrevista onde ela não teve receio de mostrar sua fé. Berenice foi a primeira de muitos outros que vim a conhecer no meio acadêmico que não têm receio de demonstrar sua fé, assim como a própria Veronica Moreira, a qual veio se tornar minha madrinha acadêmica.
Serei eternamente grato à Berenice pela sua coragem de abordar tão diretamente sua fé e, consequentemente, por ter me mostrado que “Deus” ainda tem espaço na Academia, modificando, consequentemente, toda a minha forma de enxergar e agir. À Berenice e Verônica, fica meu eterno sentimento de gratidão, e que o exemplo das duas continue influenciando outras pessoas, assim como me influenciou.
(*) Autor do livro “Cosmovisão Em Crise: A Importância do Conhecimento Teológico e Filosófico Para o Líder Cristão na Pós-Modernidade”. Dr. Honoris Causa em Literatura e Dr. Honoris Causa em Jornalismo. Bacharel em Teologia, graduando em Pedagogia. Acadêmico Correspondente da FEBACLA.
Acadêmico Fundador da AHBLA.
Acadêmico Imortal da AINTE.
Vencedor de quatro prêmios literários. Coautor de 15 livros e quatro revistas.
(São Sebastião do Anta – MG)
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