por Igor Torrente (*)
Na última semana, mergulhamos na importância das comunidades empreendedoras para o desenvolvimento regional e a inovação. Hoje, dando sequência ao tema, quero provocar uma reflexão: comunidade tem dono?
A natureza das comunidades empreendedoras sugere que elas são construídas sob a premissa de que ninguém as possui — são orgânicas, moldadas e remodeladas pelo engajamento e participação ativa de seus membros. Por isso, tendem a funcionar melhor sob uma liderança distribuída, onde todos têm voz e a oportunidade de contribuir.
Esse arranjo em rede, sem cargos fixos ou barreiras à entrada, permite uma livre troca de ideias e a formação de grupos dinâmicos, assegurando que as decisões sejam tomadas de maneira coletiva e que cada membro possa influenciar o rumo da comunidade. Dessa maneira, a força não está em uma autoridade central ou em hierarquias fixas, mas sim na capacidade para colaborar, compartilhar conhecimentos e apoiar uns aos outros.
Dessa maneira, os líderes devem atuar mais como educadores, priorizando a colaboração em detrimento do controle e estimulando a autonomia e o crescimento comum. A formação de parcerias, ao invés de uma estrutura formal, é normalmente preferida, evidenciando que as comunidades podem funcionar sem uma entidade legal, contando com o apoio de uma rede de parceiros. Assim, organizações podem até facilitar, mas não devem liderar as comunidades, priorizando uma abordagem descentralizada.
Isso se dá porque membros de diferentes áreas e organizações trazem consigo uma variedade de recursos e experiências que, quando combinados, impulsionam o avanço socioeconômico da região. Essa interação entre diferentes perspectivas fomenta a criatividade e o desenvolvimento de soluções inovadoras, provando que a pluralidade é um recurso valioso.
Além disso, a construção de novas lideranças é extremamente importante para manter a cultura de cooperação e inovação. Incentivar a colaboração e organizar eventos que reúnam os membros são práticas que fortalecem os laços e incentivam a participação ativa. Assim, criar um ambiente onde a diversidade de opiniões é bem-vinda e valorizada promove uma comunidade mais saudável e inclusiva, onde o consenso não é forçado, mas construído com respeito mútuo.
Por isso, acolher a diversidade de opiniões é essencial para a saúde das comunidades empreendedoras. É preciso permitir que diferentes visões coexistam, sem forçar um consenso, a fim de criar um ambiente onde todos se sintam valorizados e livres para expressar suas ideias. Isso não apenas enriquece o debate, mas também constrói uma cultura de inclusão e respeito. Então a resposta é: comunidade empreendedora não tem dono.
(*) Profissional com ampla experiência no desenvolvimento de negócios e produtos, com passagens por Méliuz, Itaú, PicPay e Prefeitura de Valadares. Foi membro do Conselho Municipal de Ciência, Tecnologia e Inovação e da Câmara Técnica de Empreendedorismo e Inovação da Bacia do Rio Doce. Fala sobre inovação, tecnologia, negócios e carreira. Instagram: @eutorrente
As opiniões emitidas nos artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores por não representarem necessariamente a opinião do jornal.