por Dr. Adão Leal (*)
A maioria das pessoas tem pensamentos invasivos. São desagradáveis, estressantes, indesejáveis; surgem na mente sem o menor aviso e os portadores preferem não falar sobre eles. Quando se repetem intensamente podem perturbar a saúde mental.
Em torno de nove entre dez pessoas têm pensamentos invasivos, como: jogar o carro em um despenhadeiro, se jogar do último andar de um prédio, destratar e agredir fisicamente os próximos ou pensamentos de comportamentos sexuais, que consideram repulsivos.
Muitas pessoas normais têm os mesmos pensamentos bizarros que ocorrem no TOC e não constitui um sintoma psicopatológico. Às vezes até os psiquiatras mais experientes não são capazes de distinguir, com exatidão, quais desses pensamentos são provenientes de doentes mentais ou de pessoas normais.
Na clínica diária de nós psiquiatras, nem sempre consideramos os pensamentos perturbadores como obsessão. Às vezes podemos temer que nossos filhos não prosperem na vida, ficarmos nervosos antes de um teste para tirar carteira de motorista ou tenso em uma entrevista para um determinado emprego. Tais pensamentos não são sintomas, são normais, pois, queremos que nossos filhos prosperem e não queremos perder nenhum teste a ser feito. O medo de perder um emprego ou não ganhar o suficiente para manter a família são preocupações rotineiras dos que vivem em um país instável economicamente como o nosso, e não é um pensamento anormal.
Esses pensamentos estão em sintonia com nossos impulsos e motivações. Podem até em determinada circunstância nos deixar desconfortáveis quando acontece, mas o problema é o conteúdo da ideia, não as ideias em si. Quando exagerado, esses pensamentos levam a transtornos mentais, principalmente ansiedade. A ansiedade por eles provocada é racional.
No entanto os pensamentos invasivos do transtorno obsessivo compulsivo (TOC) são destrutivos, repetitivos, a pessoa não consegue controlar e afetam seriamente à saúde mental. Os pensamentos catastróficos levam ao transtorno de ansiedade generalizada. Os de distorções cognitivas não permitem que a pessoa enxergue a real situação do acontecido. Os de culpabilidade levam as pessoas a se sentirem culpadas pelo que acontece de errado ao seu redor sem terem culpas, consequentemente, muito sofrimento. Os de preocupação levam à irritabilidade fácil e pessimismo com o futuro.
As obsessões são caracterizadas por pensamentos indesejáveis, invasivos, irracionais e desencadeiam um conflito intrapsíquico. O simples fato de pensar neles leva as pessoas a se sentirem muito mal. Ninguém quer ser tal pessoa terrível e que pensa em coisas ridículas.
Um pensamento invasivo não significa que a pessoa vá realizá-lo. O pensamento perturbador de fazer sexo com um animal não insinua que a pessoa tem tendência ou pratique zoofilia, assim como um impulso de pensar em enfiar uma faca em alguém não faz de ninguém um criminoso ou pensar em matar o torna um homicida. Mas são extremamente desagradáveis, e quem tem prefere não revelar.
Às vezes, o gatilho para um determinado pensamento invasivo está fora da pessoa. Em outras circunstâncias, o gatilho está no seu interior como estresse, mau-humor ou alguma mudança emocional repentina.
Quando surgem os pensamentos intrusivos deve-se agir de forma decisiva, mas não tentar fazer com que eles desapareçam forçadamente ou negar sua existência, pois o problema aumenta. A melhor forma de remover os pensamentos invasivos é distrair-se, isto é, manter a cabeça ocupada, mas o problema é conseguir manter a distração por muito tempo.
Dr. Adão Leal — Médico Psiquiatra: Título de Especialista em Psiquiatria pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP-AMB); Certificação de Atuação na Área de Psicoterapia (ABP-AMB); Psicogeriatra pelo PROTER (Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo – USP).
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