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A mistura perturbadora de ansiedade, medo e pânico

FOTO: Dragana Gordic/Freepik
Adão Leal (*)

Ansiedade e pânico nascem do medo. O medo nos ajuda a sobreviver, é a forma de sobrevivência mais antiga que existe. Por intermédio de nosso cérebro ele nos prepara para o futuro, evitando eventos perigosos, que nos amedrontam. Mas além do limite, nos prejudica.

A ansiedade aparece quando nosso cérebro de sobrevivência primitivo, através do nosso córtex pré-frontal — “cérebro mais novo”, fica situado logo atrás dos olhos e da testa — não recebe informações compatíveis necessárias para antecipar o futuro. Na epidemia (covid-19) em 2020 a incerteza era generalizada, nosso cérebro ficou sem informação exata e criou histórias de medo e terror baseando-se nos noticiários que acompanhávamos, surgindo pânico, insegurança e infinidades de pensamentos ruins que o cérebro passou a remoer, tamanha sua indecisão e desinformação.

As pessoas propensas à ansiedade percebem rotineiramente um leve aumento do ritmo cardíaco, discreta sensação de tontura ou até uma mínima palpitação no peito. Essa percepção leva a se perguntarem: será que estou para ter um ataque cardíaco? Tal dúvida intensifica tais sensações imaginárias, potencializa a ansiedade, produzindo sensações físicas mais intensas e daí sentem o pânico.

Medo e ansiedade são sentimentos diferentes. O medo nos ajuda a sobreviver através de um mecanismo de adaptação. Já a ansiedade não é adaptativa, mas, sim, um descontrole do cérebro quando não tem informações suficientes para pensar e fazer seu planejamento. Imaginemos estar atravessando uma rua e um carro quase nos atropela, pulamos e escapamos por pouco. A velocidade da reação do medo é imediata, não há tempo para pensar. Processar todas as informações levaria mais tempo ainda, e seríamos atropelados, no entanto, escapamos por um milionésimo de segundos, mas sem pensar no que fazer, simplesmente agimos.

É no patamar da sobrevivência que surge a reação imediata, acontece de forma rápida e instintiva. Só percebemos que escapamos de ser atropelado, mas não tivemos tempo nem de raciocinar, que seria um processo muito mais vagaroso. É uma reação instintiva de luta, fuga ou paralisia e nos mantém vivo para chegar mais adiante.

Após o alívio de ter escapado você começa a processar o acontecido. Pensar que quase morreu o faz associar a rua com o perigo e o aprendizado de prestar mais atenção em situações perigosas. Começa a aprender a descarregar de maneira segura o excesso de energia associada a essa descarga de adrenalina — hormônio que quando despejado em nosso sangue promove um alerta em nosso corpo para situações de fortes emoções ou estresse — do “quase morri”, para que o episódio não provoque estresse crônico ou ansiedade patológica”.


Dr. Adão Leal Psiquiatra da Associação Brasileira de Psiquiatria e Psicogeriatra do PROTER (Instituto de Psiquiatria da USP).

As opiniões emitidas nos artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores por não representarem necessariamente a opinião do jornal.

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