A primeira semana de julho começou sob o impacto das manifestações populares em apoio ao ministro Sérgio Moro e ao seu pacote anticrime, ao governo do presidente Jair Bolsonaro e à Operação Lava Jato. Os participantes aproveitaram para também fazer críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao Congresso Nacional. Isso aconteceu no último domingo, quando milhares de pessoas saíram às ruas das principais capitais e de inúmeras outras cidades brasileiras, solidarizando-se, de modo especial, com o titular da Justiça, que vem sendo espezinhado, desde quando o site The Intercept Brasil deu início ao vazamento de reservados diálogos entre ele, quando juiz da Lava Jato, e o procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da operação. Esse imbróglio, entretanto, promete mais capítulos, podendo, de momento, ser deixado no “vinagrete”.
Outro acontecimento digno de abordagem é a Exposição Agropecuária de Governador Valadares, cuja 50ª edição se inicia amanhã, no parque da União Ruralista Rio Doce (URRD), sua promotora. Vai até o próximo dia 14. Mas o Jubileu de Ouro da Expoagro já foi explorado à exaustão, no DRD de domingo passado. Ali, além de aclamado por alguns dos mais destacados representantes do empresariado local, o evento ganhou um bem elaborado texto da talentosa articulista Zenólia Maria de Almeida, que esgotou o assunto.
Datas comemorativas, entretanto, nunca faltam. Mais um jubileu, este de prata, acaba de transcorrer, sem despertar todo o interesse a que fazia jus. Nesse 1º de julho, o real, lançado em 1994, completou um quarto de século. Tornou-se a moeda com circulação ininterrupta mais longeva da história contemporânea do Brasil. Suplantou o cruzeiro, que surgiu em novembro de 1942 e acabou em fevereiro de 1967, durando pouco mais de 24 anos.
Numa breve retrospectiva, vale lembrar que o Plano Real foi um trabalho feito a múltiplas mãos. Com ele colaboraram consagrados economistas, como Francisco Lopes, Pedro Malan, André Lara Resende, Edmar Bacha, Gustavo Franco, Pérsio Arida e outros. Todos sob a coordenação política do então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, que fazia a ligação entre a equipe técnica e o presidente Itamar Franco, o dono da ideia.
Segundo pessoas que lhe eram próximas, Itamar jamais reconheceu em Fernando Henrique a paternidade do Plano Real. Anos mais tarde, ele teria declarado ser “uma inverdade dizer que quando ele (FHC) deixou o Ministério da Fazenda para se candidatar, tudo estava pronto e feito”.
Para muitos analistas, foi o ministro Rubens Ricupero – substituto de FHC, quando este se desincompatibilizou do Ministério, para ser candidato à Presidência – o responsável por disciplinar o Plano Real, estabelecendo as regras e condições para emissão da nova moeda. Ao governo FHC pode-se atribuir o mérito de colocar em prática o que previa o plano gerado antes de sua eleição, no governo Itamar.
Independentemente de quem seja “o pai da criança”, não há como ignorar o êxito do Plano Real. Após tantos insucessos na busca de estabilidade econômica, foi o conjunto de medidas por ele incorporadas que possibilitou ao Brasil afugentar o dragão da hiperinflação. Vivíamos uma alta de preços tão galopante que, se o indivíduo fosse a um bar beber duas cervejas, convinha pedir ambas ao mesmo tempo, para evitar que a segunda viesse mais cara.
Para se ter uma noção de como as coisas se modificaram, em junho de 1994, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do IBGE, acumulava alta de quase 5.000%, em 12 meses. Vinte e cinco anos depois, essa mesma alta gira em torno de 4%.
Os especialistas no assunto argumentam que, apesar de a economia haver duplicado de tamanho, o crescimento do país, nesse quarto de século, não foi bastante para incluí-lo entre as maiores expansões mundiais.
Por sua vez, aqueles que viveram as agruras do período inflacionário preferem as coisas como elas estão. Torcem para que o Brasil cresça da forma incontida e arrojada, desde que o custo de vida permaneça estável e controlável. A combinação é perfeita.
por Etelmar Loureiro