[the_ad id="288653"]

Um inferno na mente

FOTO: Freepik
por Adão Leal (*)

A depressão maior destrói o indivíduo, encobre sua capacidade de fornecer ou receber afeição. É a solidão no interior do ser. Acaba com a conexão que existe com as outras pessoas e desintegra sua paz interior.

A pessoa, quando está bem, sempre vive uma forma de amar: pode amar uma pessoa, sua profissão, a família, um animal, a Deus; qualquer modo de amar possibilita um sentido de vida e a depressão não deixa isto acontecer.

Viver momentos tristes é normal, faz parte. Inclusive, as pessoas que se apoiam na fé são mais fortes, mas não conseguem evitar a intensa angústia que a vida proporciona nos dias de hoje. Até Jesus Cristo sofreu intensamente em sua passagem pela terra.

O objetivo da ciência é extinguir a depressão, mas isso não será possível enquanto o homem for consciente de si próprio. Ela continuará sendo controlada como acontece hoje, através dos modernos tratamentos psicofarmacológicos para transtornos depressivos, que também continuarão a evoluir. A vivência depressiva é um sofrimento emocional intenso, que se impõe sobre a pessoa contra sua vontade e proveniente de uma força externa.

A depressão pode ser descrita com metáfora — um inferno na mente — e alegoria. Santo Antônio foi perguntado, no deserto, como distinguia o anjo do demônio. Ele respondeu que sabia da diferença pela forma que se sentia após irem embora. Quando o anjo me deixa, me sinto fortalecido por sua presença; quando o demônio me deixa, sinto o terror. O pesar é um anjo humilde, nos fortalece e nos dá noção da profundidade humana que podemos alcançar. A depressão é o demônio que nos deixa assustado e transforma a mente em inferno.

Classificamos a depressão em menor (leve) e maior (grave). A depressão menor é progressiva e permanente, vai destruindo a pessoa lentamente. É um pesar demasiado por pequenos motivos, vai aumentando gradativamente em uma dor intolerável, diferente da dor física, porque é mental e insuportável.

A depressão maior (a mais grave delas), desintegra a pessoa. É doença separada das demais emoções, assim como uma infecção por uma bactéria estomacal é diferente da acidez do estômago. É consequência da decadência, experimentar uma decadência acumulada. É doloroso e faz desaparecer a esperança de vida.
Contudo é possível superá-la, mas a pessoa tem de querer vencê-la e procurar ajuda de um profissional. O tratamento para depressão foi, nas últimas três décadas, o que mais evoluiu na psiquiatria. A terapêutica correta com antidepressivo e psicoterapia salva a vida do deprimido.


(*) Médico Psiquiatra da Associação Brasileira de Psiquiatria e Psicogeriatra pelo PROTER (Instituto de Psiquiatria da USP).

As opiniões emitidas nos artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores por não representarem necessariamente a opinião do jornal.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

[the_ad_placement id="home-abaixo-da-linha-2"]

LEIA TAMBÉM