Por Luiz Alves Lopes
“Minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá; as aves que aqui gorjeiam, não gorjeiam como lá“…(Canção do exílio – Gonçalves Dias).
Na terra bem traçada e planejada por José de Serra Lima, no leste das Minas Gerais, o progresso lhe deu novo formato, a arquitetura idem e as mazelas sociais a completaram, dela fazendo uma encantadora cidade com virtudes e defeitos, com desafios que não são poucos.
A outrora Princesa do Vale, hoje um tanto quanto envelhecida, pode se orgulhar de sua história, de sua trajetória, de sua gente. De gente que virou gente…
Lá se foram os ciclos da madeira, da mica, da pecuária e do dólar, restando-lhe um comércio atuante, uma força de trabalho invejável de inúmeras categorias de profissionais, um avanço considerável nas áreas de saúde e educacional. Bom. Muito bom.
E a tradição esportiva? EC Democrata, Bancários, DER, Cruzeiro, CAP Pastoril e Rio Doce. Disputas acirradas no esporte das multidões. Ilusão EC e Figueira EC se engalfinhando nas disputas do salonismo. Outros vieram depois, colégios Ibituruna e Presbiteriano à parte.
As competições esportivas não se limitam apenas e tão somente aos atores mais conhecidos, os chamados futebolistas, ou boleiros, como queiram.
Alguém tem que organizar, outros divulgarem, outros tantos têm de preparar os contendores e uma série infindável de ações e procedimentos para que o espetáculo ocorra dentro dos conformes.
Árbitro de futebol: categoria maldita? praga de sogra? O desafio é internacional. Dispor de árbitros preparadíssimos para as contendas que atingiram nível equilibradíssimo, e que um mísero erro influencia no resultado final, tem sido objetivo a ser alcançado. Será?
Na década de 60, aqui na terrinha, o Democrata promovia jogos regionais, estaduais e interestaduais. Época em que a motivação e a ausência de outros mecanismos dos dias atuais concorriam para um estádio lotado, noves fora que montava times que encantavam. Tá certo, Chico da Carmélia? Assina embaixo Marcelo filho do “Diabo Loiro”?
Da Federação Mineira de Futebol e sob as bênçãos de Arnóbio Pitanga vinham árbitros de categoria, concorrendo para o êxito dos espetáculos. Quem não se lembra de Alcebíades “Cidinho bola nossa” Magalhães Dias? A ajuda ao Atlético Mineiro ocorre há décadas, minha gente. Outros tantos, como Hélio Cosso, Maurílio José Santiago, Simão Washiman (que tomou gosto pelo Democrata, imitando Cidinho), Marco Antonio Cunha, Joaquim ‘cocó’ Gonçalves (outro Atleticano descarado), são da mesma época.
E os hoje auxiliares, bandeirinhas de antigamente? Proporcionar a vinda de um trio de árbitros da capital do Estado ficava caro. A opção? Bandeirinhas locais. Ocorre que Valadares ainda não tinha seu Departamento de Árbitros.
Nossos árbitros – José Deolindo, Djalma Costa, Curnicha, Severino Estevam, Barú e tantos outros – dirigiam as partidas de nossos varzeanos usando calças compridas e alguns deles usavam camisas próprias para árbitros.
Foi então que a diretoria do Democrata passou a fazer uso dos valores da terra para funcionarem como auxiliares em seus jogos importantes. Surgiu a dupla ÂNGELO ANTONIO FERRARI e Idelvan Dias – o Piau -, atuando eles com camisas azuis e golas em branco, calções brancos e meias azuis (certamente teria prevalecido o bom gosto).
Piau era democratense roxo, motorista de táxi, e o que fazia e fez foi por amor ao clube. Quanto a Ângelo Antonio Ferrari, agarrou com unhas e dentes a oportunidade que apareceu. Encostou no Mestre Arnóbio Pitanga e fez amizades com ‘ os homens’ da Federação.
Por seus méritos, dedicação e muita força de vontade, com o passar dos anos tornou-se árbitro da Federação Mineira de Futebol, mudou-se para Belo Horizonte, fez brilhante carreira na arbitragem de nosso país, porém, mantendo uma humildade pouco vista e um espírito de caridade de fazer inveja.
Ângelo Antonio Ferrari, valadarense, sim senhor. Pessoa de bem e que se realizou na vida mundana como árbitro de futebol. Merece lugar de destaque quando se abordam FRAGMENTOS DA HISTÓRIA ESPORTIVA DE GOVERNADOR VALADARES. Um vencedor.
(*) Ex-atleta
N.B. 1 – Com propriedade e conhecimentos, alerta-nos o Doutor Gilberto ‘China’ Boechat que Martim Francisco – ” Dom Martim Francisco”, um dos mais consagrados e inovadores técnicos de futebol do Brasil, passou pelo Esporte Clube Democrata na década de 60. Muito bem lembrado.
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