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Crônicas do cotidiano: A natureza, o naturalista e o fanatismo

por Coronel Celton Godinho (*)

Como é lindo o nosso planeta, a natureza criada por Deus, as matas, os rios, os mares, as montanhas, os riachos, as selvas e até os desertos têm suas belezas.

Conheci um indivíduo que era verdadeiramente louco com a natureza. Vivia falando em ecologia, que o planeta estava sendo destruído, aquele papo de amante do natural mesmo, que devíamos andar e viver nus, como vimos ao mundo.

Nas aulas e durante os intervalos ele só tinha um assunto: Natureza! Quando falávamos de futebol, garotas e outros assuntos afetos aos meninos – já que nossa testosterona pululava em nosso organismo – lá vinha ele com ecologia. Ele já estava ficando chato, mas a gente relevava, pois ele era gente muito boa, muito amigo.

Ele era o naturalista da turma. Estudava e lia sobre diversos animais, mas era muito fã de borboletas e alguns outros insetos. Vivia falando que quem tem oito patas é aracnídeo; se tem quatro, é inseto. Coisas do tipo. O nosso amigo era mesmo adepto do naturalismo. Pra ele não tinha nada mais importante. Detalhe: ele morava num bairro residencial longe de qualquer mata ou rio desde o seu nascimento. Aí a gente entendia essa obsessão.

O naturalista entende que nada existe além do mundo natural, nem admite crenças espirituais, mas ele era um pouco diferente, pois tinha a crença de que tudo era criado por Deus, só não era religioso.

Certa vez, o colégio programou uma visita a um parque ecológico próximo a nossa cidade, acatando a sugestão de nosso professor de biologia. Na programação constava um acampamento, ou seja, uma noite passaríamos no mato!

Nosso amigo e colega naturalista ficou eufórico com a programação e inclusive se voluntariou junto ao professor para auxiliá-lo no que fosse preciso. Na ocasião dos preparativos, disse para ele que fosse com calma, pois era a primeira vez que fazíamos aquele tipo de excursão. Nosso amigo conhecia muito de natureza, mas era na teoria.

As barracas foram em sua maioria fornecidas pela escola, mas ele levou a dele.

Chegamos ao lugar, muito bonito, com matas e cachoeiras exuberantes e um sol de “rachar mamonas”.

Durante o dia foi só festa e banhos de cachoeiras. Aliás, o nosso amigo tomou um “tombo” na beira do riacho, que foi só risada da turma. O mais engraçado foi ouvir ele reclamando das muitas picadas de muriçoca kkkk.

Uai, sô! Ele não era amante da natureza?!

Mas curiosamente era o que reclamava de tudo desde o momento em que pisamos no parque, e até do local em que faríamos as nossas refeições, que era um pequeno restaurante lá dentro mesmo.

Ao nos recolhermos ao local onde montamos as barracas, o nosso naturalista já demonstrava medo com possibilidade de deparar com animais durante a noite.

À noitinha, depois de comermos alguma coisa, um “piadista” da turma resolveu aterrorizar o nosso bravo naturalista com estórias de onças que atacavam ali durante a noite. Acho que ele não conseguiu ter um bom sono.

Ao voltarmos para a cidade, no interior do ônibus, todos comentavam sobre o nosso breve acampamento e de como foi boa a excursão, menos o nosso naturalista, logo ele que achávamos que iria adorar.

Depois de alguns dias, o naturalista passou a não comentar muito sobre o assunto. Parece que seu entusiasmo tinha esfriado.

É o tal fanatismo! Tudo que é demais não é bom. Ele acabou “caindo na real”!

Não era nada naturalista, um certo fanatismo, “modinha” talvez, tanto que depois disso ele se formou em administração, foi trabalhar num banco, se casou e teve filhos, e hoje vive muito bem, e até ri dos seus arroubos ecológicos. A gente faz planos, mas Deus tem os planos dele para nós! E ainda bem! Acabou-se o fanatismo, com ajuda também de nossa turma.

O fanatismo com alguma ideia fixa nunca é bom, pois tentam impor suas crenças e muitos ficam até agressivos. Quando falamos em fanatismo, pensamos somente em religião, esportes, racismo e política, mas não é bem assim.

O termo fanatismo vem do latim “fanaticus”, o que pertence a um templo (fanus) e foi utilizado a partir do século XVIII para se referir a pessoas que seriam partidárias extremistas, exaltadas de uma causa religiosa ou política. Ele tem a certeza de que sua verdade é absoluta.

Atualmente temos fanatismo de toda espécie. Infelizmente!!!

A estória do nosso amigo foi singela e apenas para mostrar o que o fanatismo pode fazer com o indivíduo e com a sociedade. São características do fanatismo: a irracionalidade, o autoritarismo e o agir passional, frequentemente agressivo. Graças a Deus e a turma, nosso amigo não chegou a ponto da agressividade, pois brincávamos muito com ele. Hoje ele seria chamado de ecochato.

LEMBREM-SE SEMPRE: TUDO EM EXCESSO É PERIGOSO!!!

CUIDADO COM OS FANÁTICOS DE PLANTÃO!!!

(*) Advogado militante – Coronel da Reserva da Polícia Militar.
Curso de gestão estratégia de segurança pública pela Academia de Polícia Militar e Fundação João Pinheiro

As opiniões emitidas nos artigos assinados são de inteira responsabilidade de
seus autores por não representarem necessariamente a opinião do jornal

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