por Ricardo Dias Muniz*
Ele foi recebido como libertador quando entrou no Egito. Alexandre O Grande, o macedônio, foi uma das maiores personalidades da história da humanidade. Treinado por nada menos que Aristóteles, ele sabia exatamente qual era seu objetivo: entrar para a história. Deixou o legado de expandir as ideias da civilização grega e mudar o mundo. Fez isso tudo na plena juventude, dos vinte aos trinta e três anos. Alexandre escolheu o significativo.
Por outro lado, a ordem atual é viver o momento; afinal, ensinam: todos merecem curtir a vida. A oferta de sensações, satisfações, sem que esses estejam atrelados a uma responsabilidade correspondente, é a origem de uma existência caótica. Pois é, em essência, sem significado. A saga humana busca arduamente criar ordem em uma natureza caótica. Agora pode até não parecer, porém, há apenas poucos anos, pelo menos para a maioria dos humanos, a vida era uma rotina de sacrifícios, privações e pobreza extrema. A melhoria, entretanto, trouxe seus custos, um deles é a corrosão da personalidade com consequente coletivização da ação humana. O sentido de vida deixa de ser da pessoa e passa para um grupo.
Nesse ambiente, com as pessoas atentas apenas aos próprios desejos, deixam de exercitar seu papel de ordenar o mundo. Terceirizar essa missão é mais cômodo. Daí, é um pulo para surgir uma moral “fake”. Para essas pessoas, refletir sobre problemas reais é cansativo; melhor confiar nos líderes dos grupos, eles têm a resposta pra tudo. A hipocrisia individual vira rotina. Pessoas passam a lutar pelos direitos das mulheres, obedecendo à ordem grupal, mas abandonam as próprias mães ao relento. Alimentam os cãezinhos de rua, seguindo a moda, mas não falam nem oi aos próprios pais. Lutam cegamente por uma causa irrelevante sem perceber que a razão do caos é outra. Querem palavras doces e respeito aos protocolos de etiqueta enquanto vivem em seus quartos bagunçados e insalubres. Quem não sabe onde chegar, não importa a direção que vai, não chegará a lugar nenhum.
O grande Alexandre sabia exatamente onde queria chegar; levou sua cultura aos confins do mundo antigo. Espalhou com isso as noções gregas de justiça, virtude, beleza e amor pelo conhecimento. Levou a humanidade a um lugar melhor, mais rico e próspero. Esse foi o sentido da vida do jovem Alexandre. Entretanto, por mais longe que o progresso tenha trazido a humanidade, ainda existe caos, existe dor, desespero, tirania, fome, guerras, desinformação e muito mais. O trabalho humano é ordenar o máximo possível esse caos, mas não de forma terceirizada; porém, com absoluta autoconsciência.
Elevar o padrão da humanidade, começando pelo seu quarto, isso sim possui significado.
(*) Consultor empresarial, engenheiro de produção, ativista político, colunista de opinião, estuda filosofia e direito.
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