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O OUTRO LADO DA VERDADE

Luiz Alves Lopes (*)

O mundo esportivo recebeu perplexo e atônito a notícia da morte de Diego Armando MARADONA, extraordinário astro do esporte das multidões, estrela maior de todos os tempos da Argentina, independentemente da figura de Leonel Messi. Para nós, em especial, não cabe a mínima comparação em relação a FRANCISCO, o Papa, líder mundial inconteste.

O país vizinho parou, com razão, e a Casa Rosada, sede do Governo dos Hermanos, foi o local do velório. Velório cuja duração foi reduzida e o sepultamento antecipado, certamente temendo acontecimentos violentos e indignação geral da população ante causas nebulosas que teriam levado ‘Dieguito’ a óbito.

A imprensa mundial, incluída a da terrinha de Cabral, teve assunto de sobra, rebuscando no passado histórias e acontecimentos de todos os gostos, salutares ou não. Não nos cabe e não temos capacidade e conhecimento para falar sobre a vida futebolística do craque. Quando muito o aplaudimos, ainda que nascido na Argentina.

Temos alguns defeitos, manias e procedimentos, tais como os de prestar ou tentar prestar homenagens a pessoas que venham a falecer. Força do hábito. Regra geral, todo mundo que morre é pessoa boa, quase SANTA. Não fugimos à regra.

A comoção que tomou conta da Argentina e da cidade de Nápoles, na Itália, por ocasião da morte do craque, afora o reverenciar do resto do mundo, permitem uma reflexão sobre os porões do futebol, sua face negra, sombria e promíscua, conduzindo, em percentual altíssimo, jovens e não jovens ao mundo das ‘drogas’, não importando se lícitas ou ilícitas, todas elas com consequências danosas em suas vidas e saúde.

No momento da consternação, de forma inapropriada, alguém perguntou a alguém quem foi o melhor, se ÉDSON ARANTES de Três Corações-MG ou o ARGENTINO. A resposta foi por demais sábia: MARADONA foi o nosso ‘Garrincha’, a ele se igualando em tudo, respeitando-se proporções e épocas. Precisa a resposta.

Regra geral, o atleta de futebol é um despreparado, originário de camadas sofridas, verdadeiros párias da sociedade e que se deslumbram com o primeiro elogio, com a primeira foto no jornal, com a primeira entrevista e com o primeiro contrato. Ainda que não habilitado, a primeira medida é adquirir um “carrão”. Se parado em blitz, telefona para o dirigente ou empresário e tudo se resolve. Exceções são poucas, pouquíssimas.

Como foi mesmo o fim de Mané Garrincha neste mundão de Deus? Ele que foi duas vezes campeão do mundo e idolatrado por todos nós. Para os desavisados, CACHAÇA é droga lícita, mas é droga e também mata. E tem matado muitos, famosos e não famosos.

O que nos levou o ‘Doutor Sócrates” com toda sua genialidade e sabedoria tão prematuramente? E olha que estamos nos referindo a um médico que sucumbiu diante da bebida. Falamos de um dos gênios do escrete de Telê Santana de 1982.

Alguém já assistiu aos contundentes depoimentos de Walter CASAGRANDE Júnior, ex-atleta dos bons e comentarista nem tanto, porém de uma personalidade firme e que diz sempre para quem quiser ouvir que se enveredou no mundo das drogas, que luta dia sim outro também para continuar vivendo, que encontrou muita gente boa para auxiliá-lo e que a dependência química destrói tudo, incluindo família, saúde, carreira profissional e relacionamentos.

Drogas e vida noturna desregrada, tentações na vida de todo futebolista, conduzem a finais não felizes de inúmeros astros e não astros do esporte das multidões (hoje nem tanto).

Craque, Maradona foi. Um dos maiores que o mundo viu. Ponto. Exemplo como futebolista? Certamente não. Para os mais novos, afora o futebol descomunal, sequer um exemplo positivo. Pelo contrário, escândalos e situações constrangedoras não faltaram.

Bebidas e drogas falaram mais alto durante toda a sua trajetória terrestre, durante e após sua vitoriosa carreira de atleta, ressaltando que como treinador acabou fracassando.

Quantos períodos de internações e tratamentos em seu país e em outros mais, em especial em Cuba, amigo que foi de Fidel Castro? Quantas recaídas? O que teria lhe faltado? Verdadeiros amigos? Uma sólida família? Perseverança? Força de vontade? Um bom acompanhamento?

O deslumbramento e a irracionalidade que marcaram sua desinternação logo após se submeter a procedimento cirúrgico dão uma dimensão, regra geral, do que é a vida de craques famosos após o encerramento de suas carreiras. Regra geral, não se preparam para tal. Com Maradona não foi diferente. Verdadeiramente, sua saída do hospital se constituiu de um espetáculo circense.

Os historiadores, os canais televisivos e os mais variados profissionais se debruçam em estudos e pesquisas envolvendo trajetórias de astros, o que fizeram e o que deixaram de fazer em suas fases gloriosas. Na maioria das vezes registram, também, crepúsculos e finais melancólicos difíceis de aceitação por parte de fãs, simpatizantes e admiradores.

Maradona simplesmente foi mais um. Ocorre que muito famoso. Verdadeira celebridade mundial. Acima do bem e do mal. Mas mortal. Feito de carne e osso. E como todo mortal sucumbiu diante da ‘desgraça’ da droga que continua matando, entupindo presídios, destruindo famílias e provocando todo tipo de infortúnio.

Oxalá que os mesmos midiáticos, historiadores e profissionais outros já mencionados venham a produzir documentários consistentes, sem sensacionalismo, mostrando O OUTRO LADO DA VERDADE que impera no mundo do futebol, desnudando situações adversas e facilidades aos jovens iniciantes para mergulho no mundo das drogas. Como é que funcionam as divisões de base de nossos clubes?

Na Terra de Cabral, com considerável número de ministérios (parece-nos que existem os da Educação e dos Esportes), bom seria se as discussões voltassem às salas de aulas. Ainda que para tanto tenhamos que retornar com a “palmatória”. Na infância e na juventude, deve haver investimentos. Às vezes não criamos novos craques, mas formamos homens para o futuro da nação que almeja ser de primeiro mundo. Não é pecado sonhar.

Ops, não se esqueçam. A droga matou o mito Diego Armando MARADONA. A escolha foi dele. Faltou-lhe uma firme mão estendida a indicar o verdadeiro caminho a ser trilhado. É preciso dizer isso com todas as letras para nossos jovens. DROGAS MATAM.

(*) Ex-atleta

As opiniões emitidas nos artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores por não representarem necessariamente a opinião do jornal.

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