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5º Seminário Integrado do Rio Doce: resistir é preciso!

por Prof. Dr. Haruf Salmen Espindola (*)

O dia 5 de novembro é uma data que não pode ser esquecida: cinco anos do desastre-crime da Vale/BHP/Samarco. O que mudou nesses cinco anos do crime que varreu do mapa a comunidade de Bento Rodrigues e afetou tragicamente a Bacia do Rio Doce, suas populações urbanas, rurais e tradicionais, além do meio ambiente? O drama dos atingidos por esse desastre-crime continua a trazer incertezas e sofrimentos para as pessoas e afetar o ambiente. A situação se agrava com o progressivo esquecimento pela sociedade em geral e pelos governantes, aumentando o drama das famílias e do ecossistema. Na medida em que o desastre se torna um assunto do passado e a propaganda da Fundação Renova se intensifica, os atingidos se veem numa situação de desamparo crescente, inclusive com outras barragens ameaçando a vida de comunidades inteiras, como em Barão de Cocais.

O esquecimento se agravou ainda mais com a pandemia da Covid-19, pois a luta por direito dependia fundamentalmente da aglomeração e da mobilização dos atingidos. Enquanto isso, uma fortuna é gasta em propagandas e ações de marketing da Renova e pelas empresas, principalmente pela Vale. Os desastres minerários que atingiram Minas Gerais e ainda ameaçam nossa terra são violências maiores ainda para as comunidades, criaturas e ambientes mais vulneráveis. Como disse o ambientalista Cláudio Bueno Guerra, os fatos ocorridos nos últimos cinco anos em Mariana, Rio Doce, Brumadinho e Rio Paraopeba mostram que a Vale ignora tragédias anunciadas e acredita na impunidade”.

Nesses cinco anos do desastre no contexto da pandemia é preciso criar um espaço, mesmo que virtual, para reunir os diversos atores que estão na linha de frente do enfrentamento dos desastres de minérios em Minas Gerais. O Observatório Interdisciplinar do Território (OBIT) do Programa de Pós-graduação Interdisciplinar em Gestão Integrada do Território (GIT/Univale), com o apoio da Reitoria da Univale e do IFMG/GV e UFJF/GV, em conjunto com o Fórum Permanente em Defesa da Bacia do Rio Doce, reuniu novamente parceiros para realizar o 5º Seminário Integrado do Rio Doce (5º SIRD). O evento conta com a parceria da Rede Interinstitucional de Pesquisa Socioambiental de Governador Valadares (RIPS/GV), que reúne pesquisadores das três instituições, além da contribuição e apoio da Rede Terra Água (UFV/UFOP/Univale), do Programa de Pós-graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas (PPGICH/UFSC/DINTER) e da Comissão de atingidos do Território de Governador Valadares. Muitas dúvidas pairam no ar e muito precisa ser esclarecido, especialmente sobre o andamento dos projetos na Justiça e sobre a qualidade da água. Como disse o ambientalista Cláudio Guerra, depois de cinco anos “quem acredita na Vale? O que milhares de cidadãos mineiros, residentes em dezenas de cidades a jusante das barragens de rejeitos desejam é se verem livres do perigo. Eles não querem mais saber de Plano de Emergência, sirenes, rotas de fuga. Este modelo de mineração de capitalismo selvagem já se exauriu (onde as barragens de rejeitos desempenham papel relevante na redução de custos)”. Nas palavras do Prof. Bruno Milanez, da UFJF, “o modelo de mineração que o Brasil adotou é um mal. E não é necessário”.

Passados cinco anos, fica claro a necessidade de ampliarmos a percepção de que esse enfrentamento não é somente da Bacia do Rio Doce, mas de todos que na escalada global estão frente a frente com os grandes empreendimentos minerários e sofrem seus impactos: não apenas as populações, mas a biodiversidade e o ambiente. Hoje são muitos os povos, criaturas e ambientes ameaçados pelos grandes complexos de mineração, à semelhança do que ocorre em Minas Gerais. Isso se tornou uma questão especialmente crucial para a América do Sul. Os riscos da mineração, nesses últimos 30 anos, têm ameaçado de forma drástica a principal fonte da vida, que são as águas no nosso continente. Um ano antes do rompimento em Fundão, em agosto de 2014, iniciou o desastre minerário de Mount Polley, localizado na Colúmbia Britânica, no Canadá. Em Minas Gerais, no Peru, Equador e outros lugares do hemisfério sul a situação se apresenta grave e com crescentes tensões sociais.

Entre os dias 3 e 5 de novembro fique atento e procure se conectar com o canal da Univale no Youtube. Basta digitar Univale GV no Youtube para ter acesso aos debates ao vivo. No dia 3 de novembro, terça-feira, às 19h30, o tema é “Água do Rio Doce: tem qualidade?”. Os experts da LACTEC, empresa contratada pelo Ministério Público para estudar a qualidade da água, apresentarão seu relatório. Teremos debatedores qualificados para discutir e buscar esclarecimentos: Profª Drª Sílvia Maria Alves Correa Oliveira (DESA/UFMG), Prof. Dr. José Rubens Morato Leite (PPGICH/UFSC) e Prof. Dr. Ângelo Denadai (ICV/UFJF-GV).

No dia 4, quarta-feira, às 18h30, você pode acompanhar a apresentação das pesquisas socioambientais em andamento, fruto do esforço dos professores que fazem o Doutorado oferecido pelo PPGICH/UFSC em parceria com a Univale (DINTER). Na mesma quarta-feira, às 20h30, teremos uma mesa-redonda com participação internacional. Serão discutidos os desastres-crimes minerários que têm ocorrido: “Incertezas dos desastres minerários – da lama à pandemia”. Com a coordenação do engenheiro Cláudio Guerra, vamos ter na mesa os professores Dr. Ricardo Rozzi (Centro de Filosofia Ambiental/UNT/EUA), Drª Marcia Grisotti (PPGICH/UFSC), Dr. Haruf Salmen Espíndola (Direito/Univale e GIT/Univale), além da participação especial da Drª Irene Klaver (Philosophy of Water Project/UNT/EUA).

No dia em que completa cinco anos o rompimento criminoso da barragem de Fundão, dia 5 de novembro, quinta-feira, às 10h, teremos uma Celebração Ecumênica (presencial), na Praça da Bíblia, em frente a Agência Central dos Correios. (Governador Valadares/MG), organizada pela Comissão de Atingidos do Território de Valadares, com apoio do Fórum Permanente em Defesa da Bacia do Rio Doce. Neste dia 5 de novembro, às 18h30, ocorrerá a mesa-redonda “5 anos: um grito por justiça!”, com a participação de Dom Vicente de Paula Ferreira (Comissão Episcopal Igreja, Ecologia e Mineração CNBB), Frei Rodrigo Péret (Rede Igreja, Ecologia e Mineração), Pastora Débora Blunck (Pastorais Sociais da Igreja Metodista) e Pe. Nelito Dornellas (Pastorais Sociais CNBB/Leste 2). Na mesma noite, às 20h30, teremos mesa-redonda sobre “Saúde e Ambiente”, com a presença da Profª Drª Evangelina Vormittag (Instituto Saúde Sustentabilidade), Prof. Dr. Sérvio Pontes Ribeiro (LEAF-Ecoheath/NUPEB/UFOP), Profª Drª Renata Bernardes Faria Campos (NIESD/GIT/Univale), além da presença da Coordenadora Executiva do Centro Agroecológico Tamanduá – CAT, Ms. Bianca de Jesus Souza.

(*) Professor do Curso de Direito da Univale
Professor do Programa de Mestrado em Gestão Integrada do Território – GIT
Doutor em História pela USP

As opiniões emitidas nos artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores por não representarem necessariamente a opinião do jornal

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