Retrospectiva 2020: As fases da pandemia em Valadares até o último dia do ano

O mundo parou: mortes, colapso na saúde e na economia, e esperança da chegada da vacina. Acompanhe o resumo do que foram 10 meses que ficarão marcados na história

Definitivamente, o ano de 2020 ficará marcado na história. Infelizmente, de forma mais negativa do que positiva. Ao falar sobre os principais acontecimentos deste ano, é impossível não mencionar a pandemia da Covid-19 e as consequências dessa doença, que já matou milhões de pessoas em todo o mundo. Em Governador Valadares, a doença impactou todos os segmentos, e no último dia do ano chegou à marca de 433 mortes.

O Diário do Rio Doce preparou uma retrospectiva sobre as fases da doença, o drama dos profissionais de saúde, colapso nos hospitais públicos e privados, escolas fechadas, impactos na economia, polêmicas, personalidades conhecidas que se foram e o cenário mais recente para o início de 2021. Acompanhe.

Mapa da Covid-19 em Governador Valadares

Em 11 de janeiro, a China registrava oficialmente a primeira morte por coronavírus. Em 11 de março, a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou o novo coronavírus como uma “pandemia” global. Começava, então, o maior colapso sanitário que o mundo iria enfrentar nos últimos 100 anos.

No dia 24 de março era confirmado o primeiro caso de Covid-19 em Valadares. Tratava-se de uma mulher de 66 anos. Um dia antes, 23 de março, a Prefeitura Municipal decretava lockdown de uma semana nos setores considerados essenciais.

No dia 24 de março era confirmado o primeiro caso de Covid-19 em Valadares.

No dia 10 de abril eram confirmadas pela Secretaria Municipal de Saúde as primeiras duas mortes na cidade. Desde então, a rotina do valadarense mudou. Cuidados passaram a ser redobrados, para evitar a contaminação pela doença, que continua fazendo vítimas.

No município, vários estabelecimentos de diversos segmentos não puderam abrir. Aqueles que tinham autorização para funcionar, como restaurantes, foram obrigados a mudar a rotina de trabalho, substituindo o tradicional self-service por delivery.

As ruas ficaram vazias. O trabalho em casa passou a ser adotado em grande parte dos segmentos profissionais. Ou seja, a rotina do valadarense mudou completamente da noite para o dia, e ele teve que se adaptar ao chamado “novo normal”.

O governo de Minas também tomou medidas. O governador Romeu Zema (Novo) enviou à Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) um decreto de calamidade pública. Zema também autorizou apenas o funcionamento de serviços essenciais. Escolas foram fechadas.

Autoridades sanitárias previam que a curva da doença iria diminuir dentro de seis meses, mas os números da pandemia foram aumentando cada vez mais.

O platô da curva caiu após os meses de junho e julho. Entretanto, no fim de setembro, os casos voltaram a aumentar na cidade e locais públicos voltaram a registrar aglomerações. Nos meses de outubro e início de novembro, novas quedas foram registradas, porém, com a chegada de dezembro, a doença chegou ao seu maior pico em Valadares, o que muitos indicam ter sido o pior mês do ano, em relação ao número de casos e óbitos.

A máscara se tornou item obrigatório

Para manter a saúde e a proteção dos cidadãos de Governador Valadares, o prefeito André Merlo (PSDB) publicou vários decretos de enfrentamento ao coronavírus. Um deles, publicado em maio (Nº 11.162), tornou obrigatório o uso de máscara facial em locais públicos, logo em seguida nas ruas. O mesmo passou a valer para quem utiliza o transporte coletivo. 

Uso da máscara se tornou comum no cotidiano do valadarense. Foto: Juninho Nogueira

Nas ruas, infelizmente, não era o que se via. Por diversas vezes, a equipe de reportagem do DRD flagrou pessoas andando pelas ruas e frequentando locais públicos sem a máscara.

O mesmo decreto estabelece que servidores públicos municipais efetivos, comissionados e contratados, com idade acima de 60 anos ou mais, ou que possuem doenças cardiovasculares, diabetes e doença pulmonar crônica, não poderão trabalhar presencialmente.

Economia fragilizada

Não foi um ano fácil para a economia em Valadares. Talvez tenha sido o pior das últimas décadas. A cidade, que sobrevive 80% do mercado e varejo, sentiu muitos impactos com a pandemia. Resultado disso foram lojas que faliram, estabelecimentos fechados, inadimplência com alugueis, demissões em massa.

Por determinação do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), no dia 30 de setembro a Prefeitura de Valadares foi obrigada a aderir ao Programa Minas Consciente, do Governo do Estado. Dessa forma, grande parte das atividades não está funcionando na cidade.

O programa é classificado em três ondas: Vermelha, Amarela e Verde. Governador Valadares passou por todas as fases do programa e hoje se encontra na onda vermelha, fase mais restritiva.

De acordo com o Programa Minas Consciente, a fiscalização e a orientação são de competência de cada Município. Em Valadares, segue-se uma escala pedagógica, em que primeiro os fiscais orientam para só depois multar ou até mesmo interditar algum estabelecimento.

Para o presidente da Associação Comercial e Empresarial de Governador Valadares (ACE GV), Jackson Lemos, as consequências serão sentidas por muito tempo. “Valadares tem sua economia pautada no comércio – atravessamos um ano de incertezas e isso, inevitavelmente, gerou consequências. O contexto de 2020 fez, como nunca, com que revisássemos nossos conceitos de proteção da vida e nossas atitudes como empresários e comerciantes.”

Lemos elogiou a postura da gestão municipal em buscar o equilíbrio entre a economia e a saúde para ninguém sofrer. “Apesar de tudo, como gestores, tivemos um ano riquíssimo em aprendizado. Reinventamos nossos negócios para fazer do ‘limão uma limonada’. Nossa cidade foi uma das poucas no Brasil que tiveram total apoio do Governo Municipal, que, por sinal, fez um excelente trabalho frente à crise, reuniu todas as entidades e organizações para que cada ação ou ato fosse decidido coletivamente, sempre para que houvesse o equilíbrio entre a saúde e a economia”, disse.

“Entramos em 2021 ainda carregando incertezas, mas mais fortes com todos os aprendizados e cheios de esperança com a vinda da vacina, para que o novo normal fique mais claro.”

Jackson Lemos (ACE-GV)

Personalidades conhecidas que se foram

2020 também foi um ano de perdas de personalidades carismáticas e conhecidas da população valadarense. Entre eles, o vereador Dr. Marcilio, o médico Dilermando Miranda, Célio Chisté, conhecido nas vaquejadas realizadas no Parque de Exposição de Valadares, João Canela, treinador do futebol amador, entre outras figuras que deixarão saudades aos amigos e principalmente aos familiares.

Secretária de Saúde fala sobre os desafios enfrentados durante o ano e as projeções para 2021

Se houve um setor que ficou sobrecarregado nesses últimos nove meses foi, sem dúvida, a área da saúde. Desde o surgimento dos primeiros casos da doença até o momento, foram e estão sendo dias exaustivos na rotina de quem lida diretamente com a Covid-19: enfermeiros, médicos e outros profissionais da linha de frente, que foram os heróis do ano.

O DRD conversou neste último dia do ano com secretária municipal de Saúde, Edna Gomes Leite, para saber qual é o balanço da pasta sobre o enfrentamento da Covid em Valadares.

Secretária municipal de Saúde, Edna Gomes Leite. FOTO: Eduardo Lima

A secretária elenca ações tomadas pelo município para conter o avanço do coronavírus desde quando assumiu a pasta, no dia 4 de abril: “Todo trabalho realizado aqui foi em equipe. Nós tínhamos o secretário Enes Candido, que havia começado um trabalho, e demos sequência ao que já estava sendo feito. De lá pra cá a cidade passou de oito leitos de UTI geral para hoje 58 leitos dentro da cidade. Nós estruturamos a Policlínica como Centro Covid, de melhor acesso para o Hospital Municipal, descentralizamos as testagens para as unidades básicas de saúde, montamos o protocolo medicamentoso para pacientes com a Covid, compramos e estruturamos a parte de EPIs. Contratamos novos leitos, contratamos hospitais de apoio. Foram empreendidos muitos esforços para atender toda a população de Valadares mais os municípios pactuados. Dentro do que a pandemia apresentou, foi um trabalho árduo, de muito esforço de todos os profissionais da Secretaria. Somos uma engrenagem e cada um tem seu papel e valor. Todos foram e são fundamentais para que tudo aconteça. Só tenho a agradecer a toda a equipe.”

A secretária também comentou sobre o desafio de manter vagas disponíveis de leitos UTI COVID para atender à população. Valadares hoje tem 94% de ocupação de leitos de UTI no Hospital Municipal e 100% de ocupação nos hospitais particulares. Edna afirma que não houve falta de atendimento no SUS. “Infelizmente, tivemos muitos óbitos. Mas nenhum aconteceu por falta de atendimento. Essa gestão municipal foi comprometida com todos. A rede particular se encontra sem vagas há tempos, mas a rede pública não perdeu pacientes por falta de leitos”, afirmou.

“Cobramos ações mais efetivas se caso necessário remanejar pacientes para outros hospitais. O prefeito chegou a se reunir várias vezes como o governador pedindo um maior suporte nessa questão. O governo sinalizou o manejo desses pacientes para outras cidades, através do SUS/Fácil. São pacientes de outros municípios que seriam enviados para cá e conseguimos remanejar para outras cidades”, detalhou.

“Nessa batalha, a participação da população é fundamental. As pessoas precisam entender que precisam ter mais responsabilidade sobre seus atos durante essa pandemia”, destacou.

A corrida da vacina

A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) já está elaborando um Plano de Contingência Municipal com os procedimentos para a vacinação contra o coronavírus (COVID-19) e informou que o planejamento do Município será alinhado com os protocolos dos governos estadual e federal.

Edna não revelou qual vacina a gestão do município está mirando. Mas a aquisição de insumos já está sendo providenciada.

A Prefeitura de Governador Valadares se manifestou sobre a CoronaVac, do Instituto Butantan, comunicando o interesse de adquirir a vacina depois que ela for aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).

“O que for seguro e no tempo mais rápido possível para atender à população, esse é nossa intenção. Nós trabalhamos em função de salvar vidas. Mas é preciso ter responsabilidades nas tomadas de ações. Tudo é um conjunto.”

Secretária municipal de Saúde, Edna Gomes Leite

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