Os recentes acontecimentos envolvendo o Trenzinho da Alegria trouxeram sensação de insegurança aos familiares. Mas interromper uma tradição valadarense em razão da violência daria fim a uma história de mais de 40 anos
“Lá, querendo ou não, é uma forma de expressão. E nós somos artistas. Lá aprendemos não só a lidar e trabalhar com crianças, mas também a fazer o gosto dos pais que as acompanham“, disse Oldak Júnior, de 21 anos. Ele trabalhou como animador do Trenzinho da Alegria de Governador Valadares de 2015 a 2019.
O jovem se interessou pelo trenzinho no início da adolescência, aos 14 anos. Segundo Oldak, ver a dedicação dos mais velhos era o que o inspirava a seguir pelos mesmos trilhos: “Tudo o que aprendi foi sempre com os mais velhos. Trabalhei no melhor trenzinho da cidade, o trio elétrico Star. Lembro que esse último personagem que morreu, o Luiz, eu via aquele cara dançar e me encantava pela arte que ele fazia”, recordou Oldak.
Tristeza em meio à alegria
Aliás o animador ao qual o jovem se refere é Luiz Carlos Lima de Souza. Ele tinha 46 anos e estava trabalhando fantasiado de “Naruto”, na parte traseira do trenzinho, quando foi vítima de homicídio na noite do dia 24 de setembro (num sábado). Os recentes acontecimentos envolvendo a carreta que leva alegria a tantas crianças – às vezes por simplesmente passar na rua onde moram – trouxeram a sensação de insegurança aos familiares. “Melhor o trenzinho parar”, comentou uma internauta em suas redes sociais na data do ocorrido.
No entanto interromper uma tradição valadarense em razão da violência daria fim a uma história de mais de 40 anos na cidade. O Trenzinho da Alegria chegou ao município na década de 1980, por meio do idealizador Tolomelli.
“Temos que fazer o trabalho para ser duradouro e, por isso, acredito que muita gente se lembra de forma positiva do nosso trenzinho, pelo trabalho bem feito durante todos esses anos”, declarou Tolomelli durante entrevista concedida ao DRD, no dia 9 de junho de 2021.
É melhor parar?
Para o proprietário de outra empresa de expressos da alegria em Valadares, encerrar a viagem do amado trem por aqui está fora de cogitação. Há 25 anos atuando no entretenimento infantil da região, Fagnner Pereira Gonzaga afirma que o trenzinho já é um patrimônio cultural de Governador Valadares. “O Trenzinho faz parte da cultura de Valadares. Desfilamos na ala da cultura, no 7 de Setembro, e fazemos parte do evento Natal Iluminado todos os anos”, destacou.
Além disso, Gonzaga assegura aos pais e responsáveis pelas crianças o compromisso da atração com a segurança e o bem-estar de todos os envolvidos. O que, para ele, deve ser o resultado de um trabalho prestado com amor.
Caso isolado
“O mais importante: trabalhamos por amor. Não tem dinheiro que pague o sorriso e o brilho no olhar de cada criança. E acredito que todos os colaboradores da nossa empresa também fazem por amor, tanto animadores quanto motoristas e monitores. Trabalhamos há 25 anos em Valadares e região e nunca ocorreu nenhum incidente grave com nossos veículos. Prezamos muito pela segurança de nossos clientes. O ocorrido com a morte de um personagem não foi com nossa empresa, mas sentimos muito e sabíamos que era um rapaz do bem. Acreditamos que isso foi um caso isolado, até porque isso não retrata o que é um trenzinho da alegria. A nossa intenção sempre foi levar alegria para cada criança de nosso município”, declarou.
Seguir acreditando
Lucas Carvalho, de 24 anos, trabalhou como animador do trenzinho dos 15 aos 18 anos. Nas imagens abaixo, ele aparece caracterizado do personagem “Goku”.
“Gostava da alegria de dançar e de alegrar as crianças que estavam ali, vivendo um momento só delas”, lembrou o jovem.
Aliás para a felicidade dos fãs do Naruto, o animador Jadsom Bruno Lemes segue fazendo a festa dos pequenos com o personagem. Ele se dedica ao trenzinho há onze anos, em tarefas que vão desde a animação à segurança.“Serviços gerais, às vezes personagem, às vezes segurança… Não tenho personagem fixo. Tomei gosto pela dança desde pequeno e hoje posso estar tirando um dinheiro bom por trabalhar com os personagens”, contou.
Nunca perca a magia do trenzinho!
Para quem busca recomendações de dias e horários para levar as crianças, Lucas Carvalho deixa, portanto, como sugestão as programações dos domingos pela manhã. “Superindico levar as crianças e famílias aos domingos de manhã. Lá tem uma turma boa, galera bacana, músicas com ambiente familiar, onde a essência do verdadeiro trenzinho não se perdeu”, acrescentou.
Por fim, o empresário Fagnner Pereira Gonzaga deixou aos valadarenses um pedido especial: “Pedimos aos pais que continuem acreditando na magia do Trenzinho da Alegria”.
