Receita: Como fazer um projeto social?

Saiba como funciona um projeto de mediação de conflito realizado no bairro Turmalina, em Governador Valadares. Nesta reportagem você vai conhecer como a arte da culinária tem ajudado mulheres a serem empoderadas e empreendedoras. Confira a seguir! 

Receita do projeto:

  • Dois encontros semanais:  segunda e quarta
  • Uma cozinha para a realização das oficinas
  • Reunir entre 10 e 15 mulheres para participarem do projeto (a quantidade é a gosto do grupo ou da quantidade de pessoas que couberem na cozinha)
  • Ter disposição de compartilhar experiências e conversar sobre as coisas do dia a dia
  • O tempo dos encontros pode variar de acordo com a receita 

Observação: É fundamental a participação e a iniciativa de uma oficineira que tenha facilidade em ensinar e disposição para ouvir boas histórias. 

Mode de preparo

O passo a passo é até simples quando se segue a receita. Com os ingredientes certos e mantendo a sequência do modo de preparo, chegar ao ponto de uma receita saborosa não parece ser algo difícil. Mas, como toda a arte, a culinária também guarda os seus segredos até o momento em que são revelados pelo artista, no caso o chef, que transforma o desejo de fazer uma boa receita em uma deliciosa experiência, digna de dar água na boca.  

A chef, neste caso, é a Marinalva Alves de Oliveira. Dentro do projeto ‘ComAgente’, ela coordena a oficina “Partilhando pão e sonho”. Na cozinha, da Paróquia Nossa Senhora da Assunção, a assistente social se torna professora para ensinar a arte da culinária. Com a touca na cabeça e a mão na massa, todos os detalhes dos preparos da receita, mesmo que seja de um simples e delicioso quibe de frango, passam pelos olhos atentos dela. Desde setembro de 2021, o projeto, que era uma iniciativa e desejo pessoal de Marinalva, virou realidade.  

Marinalva Alves de Oliveira, oficineira do Programa Mediação de Conflitos, no bairro Turmalina – Crédito: DRD/ TV Leste

“Antes, eu também falava que queria muito trabalhar com mulheres; conversar, falar das coisas do dia a dia, essa questão do empoderamento, da geração de renda, uma vez que a gente sabe que é muito difícil hoje, nessa jornada que as mulheres têm, elas executarem muitos trabalhos. Mas se você ensina esse tipo de ofício, que é a arte culinária, você tem uma proposta de geração de renda, e aqui, junto com elas, a gente fala de vários temas. Um dos temas que a gente fala é justamente pensar em criar uma associação ou uma cooperativa, onde a gente possa fazer o trabalho de arte culinária com aquilo que elas escolherem, e está vendendo no bairro e até fora do bairro; e também juntar muitas redes [de contato] que a gente sabe que tem hoje nessa questão do empreendedorismo”, disse a oficineira e assistente social Marinalva Alves de Oliveira.

As alunas são mulheres, de diferentes idades, que moram no bairro Turmalina. Elas se encontram durante a semana para compartilhar receitas e experiências de vida. A Roselene, por exemplo, participa desde o início do projeto e acredita que a iniciativa é muito importante para a comunidade do bairro. E como boa aluna ela não perde a oportunidade de colocar no fogão as receitas que aprendeu na oficina.   

“O importante desse projeto, pra mim, é que incentiva as mulheres da nossa comunidade a terem uma atividade, que é a culinária; um curso maravilhoso aqui para a nossa comunidade. Nosso bairro necessita, e muito, de coisas assim como essas oficinas. Eu amo a culinária, a professora é maravilhosa. Ela tem atenção para ensinar e se tornou a minha profissão. Eu só tenho a agradecer mesmo. Espero que cada uma que está aqui consiga seguir nessa profissão, e quem sabe a gente tenha a nossa própria renda, e daqui a gente siga em frente”, comentou Roselene da Silva, participante do projeto. 

Roselene da Silva participa das oficinas desde o início do projeto, em setembro de 2021 – Crédito: DRD/ TV Leste

Sem dúvida, a culinária é um dos ingredientes mais atrativos do projeto, mas o objetivo é ir além do fogão da cozinha, é oferecer um espaço para receitas, mas também criar um ambiente para as mulheres da comunidade poderem expressar as ideias e sugestões de como tornar o bairro um local melhor para todos. É colocar a mulher no centro do debate do enfrentamento às violências e à criminalidade, a fim de propor soluções dentro da realidade daquela comunidade.    

“Quando a gente convida essas mulheres, para o que a gente chama de organização comunitária, é uma forma de a comunidade se organizar para discutir determinadas temáticas, sobretudo o que toca a violência. Então, a gente trazer o grupo para discutir, nós estamos dizendo de demandas que são dessas próprias pessoas. Não é algo que nós [coordenadores do projeto] queremos dizer, mas é algo que a própria comunidade demanda. E quando isso é demandado, a gente consegue pensar em estratégias de enfrentamento dessa violência, encaminhamento ou atendimentos, e aí fica mais fácil com que o fluxo de construção de prevenção a esse fenômeno de violência ocorra”, explicou Jaqueline de Souza Alves, gestora de Prevenção à Criminalidade de Governador Valadares.   

Jaqueline de Souza Alves, gestora de Prevenção à Criminalidade de Governador Valadares – Crédito: DRD/ TV Leste

Como toda receita, para não pesar a mão na hora de usar os ingredientes, é sempre bom apostar no tempero. Neste projeto de mediação de conflito, o que traz o aroma e o sabor é a sensibilidade de acolher e ouvir as histórias que muitas dessas mulheres carregam.  

“Nesse projeto, a intenção não é só de ensinar um ofício [da culinária]. Aqui a gente está discutindo os vários tipos de violência, mas também a discussão do dia a dia, do que essas mulheres vivenciam aqui no bairro e fora do bairro. E também elas nos relatam, desde o primeiro dia em que elas vieram para cá (como temos mulheres mais novas e também mulheres que estão na terceira idade), que esse grupo é um grupo de convivência; para elas é um momento em que melhora a questão da solidão que é vivida na terceira idade, por exemplo”, disse Marinalva.

Sobre o projeto

“ComAgente” é um projeto social desenvolvido pela Subsecretaria de Prevenção à Criminalidade, da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp). Em Governador Valadares, dois bairros recebem o projeto: Planalto e Turmalina. 

“O projeto ComAgente tem por objetivo fomentar a participação de mulheres, nas comunidades do Turmalina e do Planalto, por serem pessoas que possam aí trabalhar as questões de violência, sobretudo prevenir determinadas violências no território, além de ensinar um ofício ou uma forma de empreender para esta comunidade”, contou a gestora de Prevenção à Criminalidade de Governador Valadares, Jaqueline de Souza Alves. 

Bairro Turmalina, em Governador Valadares – Crédito: DRD/ TV Leste

O projeto atua em territórios atendidos pelo Programa Mediação de Conflitos com a participação de mulheres responsáveis por coordenar oficinas, como é o caso da Marinalva. As oficineiras são capacitadas para ajudar a lidar com os conflitos, dilemas e situações de violência e de cidadania. Elas atuam nesses locais oferecendo os serviços para mais moradores. 

As oficinas no bairro Turmalina acontecem todas as segundas e quartas; os encontros acontecem no parte da noite, na rua Três Corações, 217. 

Sobre a ampliação do projeto

Segundo a gestora de Prevenção à Criminalidade de Governador Valadares, o projeto deve ser ampliado oferecendo outras modalidades de oficinas. “Estamos com o edital aberto para propostas de oficineiros, prioritariamente, que sejam moradoras do Turmalina, do sexo feminino, a partir dos 18 anos. Quem tiver alguma proposta pode nos procurar até a próxima sexta-feira (1)”.

O Centro de Prevenção à Criminalidade, no bairro Turmalina, fica na avenida Coqueiral, 176. O telefone de contato é o (33) 3221-9250.

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