Número de imóveis desocupados aumenta em bairros atingidos pela enchente

A enchente que devastou a cidade de Governador Valadares em janeiro deste ano está deixando rastros. Os proprietários de imóveis de alguns bairros atingidos, como Ilha dos Araújos, São Pedro, Santa Rita, São Paulo e outros, devem se preocupar, pois esses imóveis podem desvalorizar em até 30%, segundo o presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis (Creci).

Dados

Em conversa com o DIÁRIO DO RIO DOCE, algumas imobiliárias da cidade informaram que o número de imóveis para alugar aumentou, consideravelmente, principalmente, nos bairros São Pedro e Ilha dos Araújos. Porém, o valor pedido nos aluguéis não baixou tanto assim.

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A auxiliar administrativa Poliana Machado, da imobiliária Segurança Imóveis, contou que, após a enchente, mais de 10 imóveis foram desocupados no bairro Ilha dos Araújos, e no bairro São Pedro também teve um número considerável de desocupação, mas não tanto quanto na Ilha.

“A procura na Ilha é muito grande, é o bairro que temos mais procura para aluguel de casas, mas nos últimos 30 dias caiu bastante essa procura. E muita gente também entregou o imóvel, na Ilha até mais que no São Pedro, não sei ao certo, mas na Ilha, com certeza, mais de 10 imóveis foram desocupados. Os valores dos aluguéis não tiveram alterações, mas uma coisa que aconteceu é que algumas casas que estavam para alugar antes da enchente foram atingidas e aí o imóvel acaba se desvalorizando um pouco, e essas casas vão ter q passar por uma pequena reforma.”

– Poliana Machado, auxiliar administrativa, Segurança Imóveis

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Outra que conversou com a redação do DRD foi a agente de atendimento Camila Gomes, da Certa Imóveis. Ela disse que a imobiliária teve um número considerável de entrega de imóveis na região da Ilha dos Araújos, mas no São Pedro não houve casos de desocupação.

“O número de casas postas para alugar não aumentou, mas nós tivemos uma demanda muito grande de desocupação na Ilha no mês passado, e neste mês, quase 10. No São Pedro tivemos poucos, mas tivemos desocupação também. Teve um caso de um homem que tava olhando uma casa para alugar no Santa Rita, ele já tinha até pegado a chave, mas desistiu de alugar a casa depois do que aconteceu (a enchente).”

– Kamila Gomes, agente de atendimento, Certa Imóveis

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Mas por que essa enchente causou uma preocupação generalizada entre os moradores destes bairros? Em outros anos de enchente, não se via tantos imóveis para alugar como acontece este ano, quando o nível do rio Doce chegou a 3,93 metros.

Só para se ter uma ideia, confira o nível máximo atingido pelo rio em anos anteriores, quando houve enchente na cidade.

Dados históricos das cheias do rio Doce em GV:

1979 – cheia – atingiu 5,18
1985 – cheia – atingiu 4,01
1992 – cheia – atingiu 3,26
1997 – cheia – atingiu 4,77
2003 – cheia – atingiu 3,36
2005 – cheia – atingiu 3,66
2008 – cheia – atingiu 3,19
2009 – cheia – atingiu 3,23
2011 – cheia – atingiu 3,34
2012 – cheia – atingiu 4,13
2020 – cheia – atingiu 3,93

Dados: Defesa Civil

Apesar de a cheia ter atingido um nível menor que nos anos anteriores, o estrago foi maior. A explicação mais aceita para isso é a lama, proveniente do desastre ambiental ocorrido em Mariana, em 2015, que foi assoreada no rio, ter elevado a altura dele. Com isso, um nível mais baixo do rio em 2020 atingiu regiões que em 2012, quando o nível foi mais alto, não atingiu. Além do fato de a água ter uma quantidade muito maior de lama neste ano.

Quanto vale esperar?

Gustavo Calek, morador da Ilha dos Araújos desde que nasceu e que tem casa própria, conversou com a equipe do Diário do Rio Doce e contou que já vivenciou outras enchentes, de 1997 até hoje. Ele mora com o pai no bairro e disse que nunca pensaram em se mudar, até a enchente deste ano.

“Eu pego enchente desde 97. Me lembro bem da (enchente) de 2012. Eu e meu pai pegamos um barco e ajudamos a resgatar quem não tinha como sair de casa. O barco não tinha motor, então os homens empurravam contra a correnteza, e mulheres, crianças e idosos ficavam no meio do barco. Essa enchente foi bem complicada, mas, pra mim, a pior de todas foi a deste ano (2020), principalmente por conta da lama que veio junto. Nas (enchentes) anteriores eu nunca tinha visto meu pai cogitar se mudar, porque amamos o bairro e ele já vivenciou enchentes desde 1979. Mas pela primeira vez vi ele dizer que não aguenta mais passar por isso.

– Gustavo Calek, estudante, 24 anos

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Gustavo ainda contou sobre uma casa ao lado da dele que, sempre que acontece uma enchente, é desocupada. Ele lamentou isso acontecer, mas entende as pessoas não suportarem essa situação: “Tem uma casa ao lado da minha que, sempre que a enchente vem e vai embora, quem está morando nela se muda. Em todas as enchentes que peguei até hoje isso aconteceu. É triste porque a pessoa cria laços com a casa e com os vizinhos. Teve gente que morou por anos na casa, porque não é todo ano que tem enchente, mas assim que acontece e termina (a enchente), a casa é desocupada.”

Gustavo ainda vive com seu pai no mesmo local desde que nasceu, mas eles estão considerando se mudar de lá pela primeira vez, em decorrência das possíveis próximas enchentes, já que agora muita lama pode vir junto.

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