Detenção feminina em Valadares: entenda o trabalho realizado pela APAC

APAC completa, hoje (29), 16 anos de existência em Governador Valadares

GOVERNADOR VALADARES – Hoje (29), a Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (APAC) de Governador Valadares completa 16 anos de atuação no município. 

Os primeiros trabalhos começaram antes mesmo da ‘data oficial’ de criação da associação. Em meados dos anos 2000, um casal de voluntários, ao conhecer um método diferente de execução, acompanhamento e fiscalização da pena privativa de liberdade, deu início ao objetivo de trazer esse mesmo formato de serviço para o município. 

O casal se uniu a um grupo de voluntários, que na época era liderado pelo professor Luiz Alves Lopes (o professor Luizinho), e juntos, com o apoio do Poder Judiciário, formaram a Pastoral Carcerária – prestação de atendimento a condenados – que logo mais, em 2005, resultaria na criação da APAC Feminina em Valadares.

Neste mês comemoramos 16 anos de existência. Em todos esses anos, muitas recuperandas e famílias foram atendidas. Muitas vidas foram resgatadas e o trabalho continua diariamente”, celebrou a equipe administrativa da associação.

A estrutura da APAC é mantida com recursos de convênio com o Estado e, nas unidades administradas pelas APACs, predomina o trabalho voluntário de médicos, dentistas, advogados, psicólogos, assistentes sociais, psiquiatras, educadores, religiosos e artesãos.

Atual índice de ocupação da Apac

Hoje, as recuperandas da APAC se acomodam em celas que são divididas por quatro pessoas, sem superlotação. Todo o espaço de convivência é organizado e limpo pelas próprias ocupantes, que auxiliam desde a limpeza do espaço, segurança do local, até a portaria da instituição. Elas ainda possuem salas de aulas destinadas a estudos e cursos, com horários livres para lazer. 

A capacidade do local é para 82 recuperandas, sendo 62 no regime fechado e 20 no regime semiaberto. Hoje, a associação registra um total de 53 recuperandas em ambos os regimes, número que pode variar, conforme a realização de desligamentos ou transferências.

Entenda por quais processos uma recuperanda passa desde sua chegada à APAC

Os responsáveis pela associação explicaram que, ao ser acolhida na unidade, a recuperanda é apresentada ao conjunto de hábitos que regem a rotina da instituição, também nomeado de “metodologia apaqueana”. A partir dessa primeira ambientação, a nova acolhida é inserida nas atividades diárias, começando pela laborterapia – técnica de reeducação com base no valor do trabalho, que atualmente é a prática do crochê – e, se não tiver concluído o ensino básico, também é matriculada na escola que funciona dentro da APAC. Atualmente, são ofertados os ensinos fundamental e médio.

De acordo com os responsáveis pela associação, além do trabalho e do ensino, outra atividade que está entre as principais realizadas é o artesanato. 

“São ensinadas técnicas de crochê e ponto cruz, sendo as peças produzidas pelas recuperandas, vendidas numa loja externa ao CRS. Também são realizados cursos profissionalizantes, para capacitá-las para o trabalho. A unidade possui parceria com empresas locais, que oferecem vagas de emprego para as recuperandas do regime semiaberto, inclusive, enquanto egressas. No regime fechado, atualmente, está sendo oferecida uma oficina de corte e costura”, detalhou a equipe. 

Recuperação também à saúde da mente

Segundo psicólogo da APAC em Valadares, Ronnie Machado, a principal responsabilidade da psicologia em ambientes com este fim é contribuir para que a acolhida supere “os antigos modos de ser” e, assim, consiga fazer novos projetos de vida.

“Fazer com que sua passagem pelo sistema prisional não seja um mero cumprimento de pena, mas um processo de recuperação humana. Isso, é claro, passa pelo cuidado com suas questões emocionais e psicológicas”, destacou.

Além do incentivo à tomada de novos horizontes, Machado também ressalta a importância da recuperação da saúde mental após o confinamento, que também pode resultar em alguns problemas.

“E não são poucos. Além do cerceamento da liberdade, sabemos que o sistema carcerário comum passa por uma crise sem precedentes, no qual as chances de ressocialização são quase nulas. Os problemas mais comuns estão relacionados a ansiedade, depressão, transtornos de personalidade e dependência química. No caso da mulher, ainda percebemos um afastamento maior por parte de companheiros e família.”

O psicólogo explica que o trabalho acontece de várias formas: através de reuniões de grupo, no contato direto com o cotidiano da acolhida ou através de psicoterapia. “Esta última [psicoterapia] inclui revisitar o seu passado e a sua história, muitas vezes permeados por eventos traumáticos, conflitos e dificuldades relacionadas a limites e regras”.

Machado destaca que todo o atendimento é complementado pela aplicação de uma rotina de trabalho, disciplina, prática da espiritualidade, cuidados com a saúde, assistência social e jurídica. Ele ainda faz questão de lembrar que este é um serviço prestado para o bem de todos.

“Se esta mulher, enquanto presidiária, encontra uma relação humana saudável e uma preocupação genuína com a sua pessoa, as chances de mudança são grandes. Quando um criminoso é ressocializado, quem ganha somos nós, a sociedade. Esta é a proposta da APAC”, conclui.

Como é ser uma recuperanda da APAC?

Só quem pode descrever isso são as próprias acolhidas, que, dia após dia, vivem novos aprendizados e são levadas à reflexão sobre o que há de mais valoroso na vida.

Em depoimento ao Diário do Rio Doce, D.C., recuperanda que está acolhida na unidade há sete anos, contou sobre como tem sido sua experiência e evolução pessoal ao longo de todos esses anos e como o trabalho da associação tem ajudado no seu restabelecimento.

“Meu nome é D.C., tenho 32 anos e há sete me encontro na APAC GV. Aqui tenho recebido ajuda material, assistência médica, psicológica e social para me ajudar no meu crescimento como pessoa. Na APAC, consegui terminar meus estudos na limitação do regime fechado, e hoje, no semiaberto, almejo cursar minha faculdade, uma vez que já possuo direito ao trabalho externo. Vivi e vivo experiências fantásticas onde consigo sempre perceber que não importa o que já fizemos, o importante é qual caminho desejamos trilhar. A APAC é uma família que me ajudou na reaproximação com meus familiares, me fazendo perceber o que realmente importa: nossa família, que é a base de nossos sonhos, pois ela nunca desiste de nós…”

Para mais informações sobre os trabalhos desenvolvidos pela APAC ou meios de contribuir com o serviço realizado, entre em contato pelo telefone (33) 3277-2400

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