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Climatologista avalia impacto da vegetação urbana no calor em Valadares

FOTO: Freepik

Professor explica árvores não alteram mudanças climáticas, mas influenciam nos efeitos do calor

GOVERNADOR VALADARES – Os valadarenses se despediram do calor extremo do mês de novembro, mas continuam a enfrentar os dias quentes de dezembro. Diante disso, é bem provável que, ao caminhar pelas ruas e sentir o desconforto do clima, seja inevitável a busca por um refúgio, um refresco, uma sombra. 

Nessas horas, cada pessoa busca refrigério à sua maneira. No meio do trajeto, uma cobertura; em casa, intensificam o número de banhos e o uso intenso de ventiladores e ares-condicionados. No entanto não se pode esquecer que os principais recursos de combate às temperaturas elevadas são naturais. Aliás, já parou para analisar se existem muitas árvores ao seu redor?

“A substituição da arborização pelos componentes da urbanização ocasiona diversas transformações no clima de uma cidade. Dentre elas, a diminuição e modificação na circulação dos ventos, aumento da temperatura, alteração na umidade relativa do ar e na ocorrência das precipitações. Desconfortos climáticos citados anteriormente tendem a aumentar em cidades como Governador Valadares, a qual está situada em uma região de baixas latitudes e altitudes e, consequentemente, de clima quente, especialmente no verão”, especifica um artigo publicado em 2021 por Letícia Assunção Damasceno e Daniela Martins Cunha, à época estudantes do curso técnico de Meio Ambiente do Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG).

Portanto a intenção desta reportagem é chamar a atenção da comunidade para esta palavra: arborização. E, nesse sentido, não se trata de arborização em áreas afastadas ou de preservação ambiental. Mas sim da arborização dentro do espaço urbano, no Centro, nos bairros, nas ruas.

FOTO: Freepik

Calor e El Niño

Ao recordar os impactos do El Niño em Minas, o professor especialista em Climatologia do IFMG Fulvio Cupolillo explica que o cultivo das árvores no âmbito urbano não pode alterar a mudança climática. Mas influencia na capacidade de resfriamento da região. Dessa forma, no modo como o calor chega até as pessoas.

“Todo ano de El Niño você tem esse problema em Minas Gerais. Temperaturas altas, baixa umidade relativa do ar e algumas ondas de calor. Então mesmo com árvores, a onda de calor persiste. Ela é mais forte, porque está relacionada a um fenômeno climatológico e oceânico, impossível de controlar. Evidentemente se a cidade estivesse arborizada com uma diversidade de plantas, de árvores, seria melhor para o resfriamento. Mas como é só uma espécie, então, fica mais complicado”.

A espécie a qual o professor se refere são as árvores chamadas oitis, que prevalecem, principalmente, na área central da cidade. O artigo mencionado informa que as árvores têm “porte médio acima de 9 metros de altura, copa frondosa e algumas possuem troncos ultrapassando a faixa de 50 cm de diâmetro”. Além disso, conforme o estudo, aproximadamente 180 mil oitis foram introduzidos no município nos anos 60.

“Veja que a cidade de Governador Valadares é arborizada em partes, principalmente, no Centro e nos bairros próximos ao Centro, de árvores oitis. É uma árvore da Mata Atlântica, mas foi trazida do Paraná para cá. E de uma forma até errada. Pois nós sabemos que ela faz sombra, mas gera problemas de rompimento no calçamento, em função das raízes”, pontua Fulvio Cupolillo. O professor, aliás, complementa sua avaliação, do ponto de vista climatológico, acerca da arborização em Valadares.

“Valadares é uma cidade mal arborizada”

“Não podemos considerar que Valadares é uma cidade arborizada. Posso dizer que ela é uma cidade mal arborizada. Como falei anteriormente, a arborização de Valadares limita-se a uma espécie, quando deveria ter uma diversidade maior. É uma cidade que necessita ter parques municipais. Nós só temos um parque municipal. Temos um monumento natural, a Ibituruna, mas ele tem uma característica de outro clima, a 1.123 metros de altitude. Onde está a cidade? A 180 metros de altitude, um clima mais quente, fundo de vale, e ela é mal arborizada. Uma espécie concentrada no Centro e nos bairros próximos ao Centro. Valadares cresceu. E nos bairros você não vê arborização”.

Por isso, o climatologista alerta ser necessário olhar para o futuro com um bom planejamento ambiental para a cidade. Afinal, os fenômenos indicam que as ondas de calor não param por aqui. “É interessante que se faça um planejamento. Essas ondas de calor sempre vão existir quando tivermos o fenômeno El Niño atuando no Oceano Pacífico. Isso é um padrão, de efeito global, natural. Então os pesquisadores devem, sim, levar [em consideração] esse aspecto climatológico. Precisamos ter mais parques municipais. A cidade de Maringá, no Paraná, por exemplo, tem vários parques municipais e é uma cidade totalmente arborizada. De tal maneira que, independente da estação do ano, existem árvores que florescem no inverno, no verão, na primavera e no outono. Essas espécies mantêm a cidade sempre florida. Essa é uma outra característica importante para o clima urbano”.

Conheça o Plano de Arborização Urbana

A Lei Municipal nº 7.222, de 1º de dezembro de 2020, institui o Plano de Arborização Urbana (PAU) em Valadares, como “instrumento de planejamento para a implantação da política de plantio, preservação, manejo, fiscalização e expansão da arborização urbana nesta cidade”. Destaca-se que uma das imposições da lei é “manter nos passeios públicos, no mínimo, 40% (quarenta por cento) de área vegetada”, além da vistoria periódica e fiscalização pela Secretaria Municipal de Obras e Serviços Urbanos (SMOSU). Com base nisso, o DIÁRIO DO RIO DOCE (DRD) esteve em contato com a gestão municipal para saber, por meio da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SEMA) e de Obras e Serviços Urbanos (SMOSU), como estão os trabalhos de arborização em Valadares atualmente.

DRD – Há um banco de dados atual que informe como está o nível de arborização no município? (que detalhe, em números, a recorrência de podas, quedas, plantios ou a proporção de vegetação existente na paisagem urbana)? Se sim, peço um resumo deste relatório para informar à população.

SEMA e SMOSU – O município editou o Decreto nº 11.892, de 11 de outubro de 2023, viabilizando a criação de uma câmara técnica para elaboração desses estudos.

DRD – A fiscalização para manutenção do Plano de Arborização está acontecendo continuamente? Em que período?

SEMA e SMOSU – Sim. A Secretária Municipal de Obras e Serviços Urbanos possui um engenheiro-agrônomo que realiza vistorias rotineiramente para identificar o melhor manejo para a arborização e encaminha ao gerente para incluir na programação.

DRD – Além do Centro, há uma medida de acompanhamento para plantio e preservação de árvores nos bairros? Como está, portanto, a condição de arborização desses locais?

SEMA e SMOSU – Com relação à preservação, o engenheiro-agrônomo realiza vistorias, visando propor a melhor intervenção para cada árvore. Com relação ao plantio, o município dispõe de um viveiro que disponibiliza gratuitamente mudas de árvores para serem plantadas no passeio pelos moradores.

DRD – Desde 2020, ano de instituição da Lei 7.222, está havendo o cumprimento dos 40% de área vegetada nos passeios públicos de toda a cidade? Qual o relato atual da secretaria quanto a esse número?

SEMA e SMOSU – No momento não possuímos esse quantitativo, pois estudos sobre o tema ainda não estão concluídos.

DRD – Há um plano de contribuição e controle, por meio da arborização, para amenizar o impacto de efeitos climáticos como o deste ano e nos anos seguintes aqui em Valadares?

SEMA e SMOSU – O município realiza a revitalização de espaços públicos com plantio de plantas ornamentais e arbóreas, além de disponibilizar mudas para os munícipes que desejam plantar em suas calçadas. Para o plantio individual, ou seja, o solicitante deseja plantar em frente ao seu imóvel, ele deve procurar a Gerência de Parques e Jardins [telefone: (33) 3275-8402], levando consigo cópia de identidade e do endereço de onde será feito o plantio. Para solicitações em ruas, deve ser formalizado um ofício para que seja feita uma vistoria para verificar a viabilidade desse plantio, se não irá interferir na mobilidade urbana ou se pode causar algum tipo de conflito com rede elétrica ou outro equipamento urbano.

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